Na ÉPOCA:
Se você não está entendendo, não se preocupe: é pouco provável que alguém esteja. A crise financeira que assola Wall Street dura quase 14 meses, atingiu seu auge na semana passada e trouxe a todas as mentes o fantasma da crise de 1929 e da Grande Depressão dos anos 30. A crise parecia suspensa na sexta-feira com a súbita euforia nos mercados diante do anúncio de intervenção do governo americano. Mas, até agora, continuam sem resposta as duas questões essenciais. Primeira: como ela foi possível? Segunda: como será possível encerrá-la?
Responder à primeira pergunta é um desafio até para as melhores cabeças que analisam a economia mundial. “Como economista, devo ter algo inteligente a dizer sobre a crise financeira atual. Para ser honesto, porém, não tenho a mais remota idéia do que tudo isso significa”, escreveu em seu blog o economista Steven Levitt, autor do livro Freakonomics. “É terrivelmente confuso, para não dizer aterrador. Mesmo gente como nós, com uma experiência combinada de 65 anos escrevendo sobre negócios, nunca viu nada igual ao que está acontecendo”, afirmaram os jornalistas Andy Serwer e Allan Sloan no site da revista Time. A verdade é que o mercado financeiro é complexo – e essa complexidade só tem feito aumentar nas últimas décadas. Por trás de palavras esquisitas, expressões em inglês e siglas obscuras – alguém aí consegue explicar a um leigo o que são “securitização”, “credit default swaps” ou “derivativos”? – esconde-se o universo por onde corre o sangue da economia mundial. Um universo hoje regido de Wall Street e de outros centros financeiros por meio de complexas teorias, fórmulas e equações, cuja compreensão está (felizmente) fora do escopo de uma publicação como ÉPOCA.
De modo simplório, pode-se dizer que duas forças fundamentais atuam sobre esse universo, dois sentimentos bem humanos – medo e ganância. A alma do capitalismo repousa sobre a força criadora da ganância. É ela que leva alguém a investir, a inovar. Ela gera riqueza, empregos e faz a economia crescer. Mas toda ganância envolve riscos – e é justamente aí que entra em ação o medo. Quando o risco de um investimento é alto, o medo prevalece, a inovação cessa e a economia pisa no freio. No capitalismo, quem corre riscos costuma ser premiado. Mas há vários graus de risco. Quem pula da janela corre um risco muito maior de morrer do que quem anda de avião, embora ambos estejam com os pés fora do chão. Como medir se um risco é razoável, se um investimento representa um suicida “pulo da janela” ou uma confortável “viagem de avião”? Todo o mercado financeiro pode ser compreendido, também de modo simplório, como a melhor forma que a humanidade inventou até hoje de avaliar e gerenciar riscos. Emprestando ou investindo, os bancos, seguradoras e demais instituições servem para alocar os recursos da sociedade onde eles têm maior probabilidade de gerar riqueza. A primeira lição do colapso financeiro atual é que essas instituições correram muito mais risco do que seria tolerável. Muita gente julgava estar sentada na janelinha do avião quando, na verdade, desabava rumo ao chão.
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