sábado, 20 de setembro de 2008

Internet e eleições

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA

Aconteceu nesta semana em São Paulo o segundo seminário internacional sobre jornalismo on-line chamado Media On. Um dos temas foi a internet na eleição presidencial americana deste ano. O pleito de 2008 está para a internet como o de 1960 esteve para a TV: é o primeiro em que o meio de comunicação, que já existia antes, assume papel realmente de proa.
A internet está tendo nesta campanha mais relevância como instrumento de ação política do que como meio de comunicação. Barack Obama arrecadou a maior parte de sua receita com doações feitas por meio da rede (75% dos seus US$ 372 milhões até 31 de julho chegaram assim) e a utiliza como eficiente forma de arregimentação e organização de correligionários.
Mas o público também vem se valendo do jornalismo on-line para se informar sobre as eleições mais do que jamais no passado. Pesquisa do Pew Research Center, citada pelo jornalista Francisco Mendez, revela que 24% dos americanos dizem usar a internet como principal meio para obter notícias sobre a campanha.
Ainda é menos que a TV (32%) e os jornais impressos (31%), mas é muito superior às porcentagens registradas em 2004 (13%) e 2000 (9%). Mendez também registrou que alguns blogs têm pautado a grande imprensa com informações obtidas às vezes de maneira eticamente questionável (como a blogueira que se infiltrou em reunião de voluntários de Obama, fingindo ser uma delas, e divulgou comentário indiscreto que ouviu do candidato).
Alguns sites como http://www.realclearpolitics.com/ e www.politico.com viraram pontos de referência obrigatórios de todos os interessados pela campanha, graças ao trabalho estritamente apartidário e metodologicamente criterioso que vêm realizando.
Muitos blogs, no entanto, descambaram para o mais arraigado sectarismo ideológico e partidário, sem nenhum compromisso com os fatos.
O que será interessante observar é o efeito que essa crescente influência da internet terá sobre a maneira como os cidadãos se relacionam com as instituições públicas e entre si na sociedade.
Há estudos ainda não conclusivos que indicam associação positiva entre atitude adversa em relação aos meios de comunicação tradicionais e polarização política. Ou seja: as pessoas que deixam de confiar em jornais, revistas, emissoras de rádio e TV tendem a se tornar mais agressivas e radicais na defesa de suas idéias e no ataque às idéias de seus adversários.
Se esses indícios se confirmarem, que tipo de ambiente político sobrevirá?

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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é o ombudsman da Folha desde 24 de abril de 2008.
Artigo disponível na Folha de S.Paulo

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