terça-feira, 24 de setembro de 2024

A arte jornalística de fazer com que criminosos sejam chamados de "torcedores"


Todos viram isso daí, nesta segunda (23), no início da tarde.
Na Almirante Barroso, na região entre as Travessas das Mercês e da Curuzu, em São Brás, grupos se enfrentavam no meio da rua.
A céu aberto.
Em plena luz do dia.
Portais jornalísticos de um modo geral, esmerando-se na linguagem técnica e imparcial, digamos assim, nominaram os envolvidos na briga como integrantes de organizadas, assim conhecidos grupos de torcedores de Remo e Paysandu.
Eis a arte jornalística de fazer com que criminosos sejam tratados de outra forma.
Porque as ditas organizadas, desculpem aí, nunca foram e nem serão grupos de torcedores.
Sempre foram e sempre serão gangues de criminosos.
De criminosos travestidos, isso sim, de torcedores. Ou vice-versa.
Nesta terra de ninguém, nesta terra sem lei como às vezes Belém se parece, até sentença transitado em julgado (ou seja, que não admite mais recursos), determinando a extinção pura e simples dessas gangues, já foi solenemente desrespeitada.
E as gangues continuam por aí, lépidas e fagueiras, aterrorizando todo mundo.
Por que continuam?
Porque se regalam com muitas complacências, como a da linguagem técnica e imparcial e, sobretudo e principalmente, com a complacência dos próprios dirigentes de clubes, que admitem, ora vejam só, ouvi-los atenta e educadamente nos momentos em que os times não vão muito bem nas competições que disputam.
Com tantas complacências, é impossível que a impunidade não triunfe.
E tanto é assim que, num dos textos publicados em jornal desta terça (24), o repórter registra que um dos 239 criminosos detidos nas arruaças de ontem deixou-se fotografar sorrindo ironicamente, expressando a certeza de que logo, logo estará na rua - ou no campo de batalha -, soltinho e livre para fazer novamente tudo o que fez e não poderia ser feito.
É assim, exatamente assim, que a impunidade alimenta essas ações criminosas.

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