sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

A ordem é matar para manter crimes ambientais em Barcarena?


ISMAEL MORAES – advogado socioambiental

O capitão Gama da Polícia Militar de Barcarena foi acusado de ter invadido a casa da dona “Socorro do Burajuba”, presidente da Associação Cainquiama que reúne os moradores das várias localidades de Barcarena. A entidade é autora da ação judicial na Justiça Federal contra a multinacional Norsk Hydro, em razão da contaminação do solo e do subsolo que torna imprestável a água para consumo humano, causando cânceres, diabetes, doenças de pele e disenterias.
Após dona Socorro registrar BO na Corregedoria da PM em Belém (onde alega que foi enganada, pois omitiram o fato de que na ação foi roubado um livro de ata contendo outras medidas a serem propostas contra a Norsk Hydro), o caso virou objeto de matéria no blog Ver-o-Fato, do jornalista Carlos Mendes.
Pois nesta quarta-feira (05), chegou-me um print, supostamente de uma foto de Facebook de uma pessoa identificada como “Shirley Rosa”, em uma comunidade de que participam também outra pessoa chamada “Yandalla Martins” e mais outras 75 pessoas. Nesse print, referida “Shirley Rosa” encaminha mensagem atribuída ao tenente-coronel Camarão, em que ele afirma que “gostaria que os integrantes do grupo difundissem a informação de que o Cap Gama foi à casa da senhora Socorro do Burajuba cumprindo ordens minhas”. Daí para diante, sem fazer referência a inquérito policial, processo criminal ou a alguma ordem judicial, conclui-se que, unilateralmente, o suposto autor da mensagem, tenente-coronel Camarão, absolveu um homicida e condenou duas outras pessoas, assim como deu “ordens” para invadir domicilio e prender uma terceira, o diretor da Cainquiama, Bosco Martins Junior, a quem já denomina de bandido. Ou seja, as atitudes concretas do suposto autor das mensagens é o sonho de qualquer ditador.
Para completar, no dia de hoje, recebi uma outra mensagem de outra pessoa também de Barcarena em que foi disseminado via o aplicativo WhatsApp que a execução (morte) do líder popular Bosco Martins Junior está com preço oferecido na corporação da Polícia Militar local, sendo que, supostamente, haveria prêmios de centenas de milhares de reais para o comando.
Não irei transcrever aqui os nomes e os detalhes por não saber da origem da mensagem, mas se torna preocupante haver idoneidade na sua procedência quando o conjunto factual oferece verossimilhança: quando em uma mensagem de rede social um suposto comandante da PM assume que determinou a prática de ordens escancaradamente ilegais de invasão e prisão – pra quê, se a pessoa não poderia ficar detida ilegalmente? Seria para colocar o saco e levar para o matagal?
A questão é que reunirei hoje com os diretores da entidade para encaminhar pedido de prisão ao Procurador-Geral de Justiça, à Procuradoria Federal dos Direitos Humanos em Brasília, ao Ministro da Justiça, e, em meu nome, ao Presidente da OAB/PA assim como ao Conselho Federal da OAB, em razão de que o senhor Bosco Martins Junior e os demais membros da diretoria da Cainquiama reúnem-se e andam comigo, colocando-me, como advogado no exercício profissional, em risco de vida.

E o risco de ser morto pela pistolagem que contamina, como nunca, a Polícia Militar do Pará é altíssimo.

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