quinta-feira, 3 de abril de 2025

Marqueteiro diz que "frente Janja" prejudica o governo Lula e prevê quem pode vir a ser o líder da centro-esquerda num pós-Lula

Lula marcou para a manhã desta quinta (3), no Palácio do Planalto, um rega-bofe político, a que estão chamando de "balanço do governo", no qual promete prestar contas sobre o que entregou, de janeiro de 2023 até agora.

O rega-bofe, não sem coincidência, ocorre no dia seguinte à divulgação da nova pesquisa Quaest, que registra um aumento avassalador do nível de rejeição do governo Lula, cujos índices de aprovação/desaprovação já se encontram em empate técnico até mesmo, oram vejam só, no Nordeste. O Nordeste lulista raiz, seja bem dito.

É nesse contexto que sobressai, pela oportunidade e pertinência, a entrevista de página inteira que O Globo desta quinta publica com o marqueteiro Chico Mendez.

Abstraindo-se o fato de que Mendez, no momento, é o cara da comunicação do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos), seus juízos sobre os motivos que justificariam a aprovação do governo Lula e do próprio Lula são, no mínimo, qualificados e fundamentados para ensejar uma reflexão bem profunda.

Mendez não deixa pedra sobre pedra. A começar pelo papel da primeira-dama.

"Sem preconceito e sem demérito, mas ela representa uma agenda identitária de esquerda que é minoritária no Brasil e que não representa a frente ampla que ajudou a eleger Lula", afirma o marqueteiro.

Ela atrapalha? Mendez responde: "O ministro (da Secom) Sidônio (Palmeira) é muito experiente. Ele deu um cavalo de pau nas redes sociais do governo, e ela saiu de cena completamente. Se isso aconteceu, é porque pesquisas mostraram que ela não estava ajudando."

Marca do gestor

O interessante mesmo é a importância que o marqueteiro atribui à figura pessoal de Lula, sobre o qual, aliás, a pesquisa Quaest tem detectado uma crescente queda na credibilidade.

Questionado sobre medidas como o Pé de meia, isenção do IR, "empréstimo do Lula" e outras "marcas" de gestão que poderiam funcionar como bola de prata que vai virar o jogo da popularidade para o governo, Mendez é didático.

"Não é assim que funciona mais. Hoje em dia, as marcas da gestão são muito menos importantes. Mais relevante é a marca do gestor. Isso tem a ver com a maneira como consumimos conteúdos e formamos opinião hoje em dia. A pessoa física venceu a jurídica. Vale para o setor público e para as empresas, veja o movimento dos CEOs cada vez mais se comunicando com a sociedade. Estamos em um Brasil em que, dos 50 maiores perfis do Instagram, todos são de pessoas físicas. Quero dizer o seguinte: ninguém segue o perfil do Planalto, as pessoas vão seguir o do Lula. Instituições não contam histórias. Instituições têm suas histórias contadas e recontadas por líderes. Vamos falar de São Paulo. Afinal, qual a marca da gestão Tarcísio de Freitas? É o próprio Tarcísio, oras. O que ele carrega, os valores militares e de bom administrador. Tarcísio é a noiva mais desejada do Brasil e pode ser a grande anistia também", afirma.

E num pós-Lula, quem seria a proeminência das esquerdas? Olhem o que Mendez prediz: "O PT deveria ter a dimensão de olhar fora do partido. Acho que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, deveria ser a semente regada pela esquerda para os próximos anos. Paes deixou de ser o playboy da Zona Sul para ser um suburbano do samba e com leveza. Ele tem domínio do digital, rapidez, sagacidade e deboche. Tudo na medida certa para o embate com essa direita nos próximos anos."

Como já dito, são reflexões bem fundamentadas. Para guardar e conferir no curso dos acontecimentos.

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