Igreja das Mercês: a imagem chocante da deterioração - do telhado ao piso. (Fotos: Espaço Aberto) |
É de lacerar a alma constatar-se, a olho nu, a situação de abandono, deterioração e degradação em que se encontra a Igreja das Mercês, referência de um conjunto arquitetônico que inclui ainda as instalações do que já foi o antigo Convento dos Mercedários e a praça no entorno das edificações, a Visconde do Rio Branco, mais conhecida como Praça das Mercês.
A igreja, com fachada convexa e linhas onduladas, é uma das obras-primas de Landi, que começou a construí-la em 1753, no local onde originalmente os padres mercedários edificaram, em 1640, uma capelinha de taipa coberta de palha.
Imagens aéreas, como as que foram feitas pelo Espaço Aberto nesta semana (veja acima), retratam a calamitosa deterioração do templo católico, a começar pelo telhado. No interior da igreja, a mesma coisa. O cenário se revela não apenas descolorido, mas castigado pelas décadas em que ninguém o contempla com a atenção devida.
E de se deplorar esse abandono, quando se leva em conta que a Igreja das Mercês e, por extensão, todo o Conjunto do Mercedários, são pontos referenciais de um dos momentos mais marcantes da história de Belém, como também do Pará e do Brasil.
Foi ali em frente, na área onde se encontra a Praça das Mercês, que se travou uma das batalhas mais sangrentas - senão a mais sangrenta - da Cabanagem, em 1835, portanto logo da Revolta Cabana.
Relatos históricos abalizados mencionam que cerca de 800 combatente cabanos foram mortos, após tentarem invadir o Trem de Guerra - assim chamado o depósito de armas de munições das forças legalistas, situado exatamente na área ocupada pelo convento.
Entre os mortos, uma das lideranças cabanas, Antonio Vinagre, alvejado aos 20 anos com um tiro na testa, num local que alguns historiadores precisam como tendo sido o que atualmente é a esquina da Rua João Alfredo com a Travessa Frutuoso Guimarães.
E o dinheiro?
Tem dinheiro para restaurar a Igreja?
Tem dinheiro.
Aliás, muito dinheiro.
Em outubro de 2023, com a pompa e circunstância habituais, foi anunciado o repasse de R$ 36,3 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as obras de restauro do Polo Mercedários. O anúncio foi feito em Belém, com as presenças, dentre outros, do governador Helder Barbalho e do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.
Ali, já então se começa a falar em legado - legado da COP30, bem entendido. Pra vocês aí, que estão esperando o primeiro rebento, ponham o nome dele de Legado que cai bem. Porque só se fala nisso, no legado.
Leia aqui o que diz um trecho de matéria disponível na Agência Pará: "O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que a obra faz parte de um conjunto de projetos estruturantes que serão desenvolvidos para melhorar a qualidade de vida da população da cidade que se prepara para receber a COP 30, em novembro de 2025."
Pois é. Isso, repita-se, foi em outubro de 2023, quando, presume-se, ainda nem se cogitava espetar vergalhões verdejantes na Nova Doca.
Pois faltam apenas sete meses para começar a COP30 e nem um prego - nem um, literalmente - foi espetado na Igreja dos Mercedários.
Que triste!
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