sábado, 18 de janeiro de 2025

Em momento de maior desgaste do governo Helder na área da Educação, líder indígena aponta o dedo para secretário: "Vocês têm sangue indígena nas mãos"

O ano em que o governo Helder Barbalho, de olhos postos na COP30 marcada para novembro, deseja apresentar o Pará aos olhos do mundo inteiro como uma avis rara amazônica de rara, rica e preciosa plumagem, é justamente o ano que começa com o governo Helder Barbalho nas cordas, enfrentando um dos momentos de maior desgaste político. Numa área das mais relevantes, a da Educação.

A ocupação, desde a última terça-feira (14), do prédio da Seduc por lideranças indígenas, revoltadas à exaustão com mudanças introduzidas na área educacional pela Lei 10.820/2024, votada no final do ano passado pela Assembleia Legislativa do Estado, em meio a gritos, correria e spray de pimenta atirado pela Polícia Militar, chega a sobressair como um capítulo de inacreditável incapacidade política da equipe (ou time, na linguagem mudernista) de Helder em buscar alternativas para contornar, pelo menos provisoriamente, demandas de contencioso político do mais alto teor. E tudo isso com o governador, ele mesmo, viajando para o Exterior desde o dia 9 de janeiro, para "tratar de asssuntos particulares", conforme termo de transmissão de cargo publicado no Diário Oficial.

Não bastasse a ocupação dos indígenas e a revolta generalizada contra a substituição das aulas presenciais pelo ensino remoto nas aldeias, conforme previsto na Lei 10.820/2024, a inabilidade política da Secretaria de Educação ainda se fez acompanhar da proibição de que jornalistas tivessem acesso ao local onde estavam os manifestantes, um configurado cerceamento à liberdade de Imprensa, só revertido por força de decisão judicial proferida por um desembargadora do Tribunal de Justiça, ao apreciar mandado de segurança oportunamente impetrado pelo Sindicato de Jornalistas do Pará (Sinjor-PA). E ainda temos um indicativo de greve dos professores estaduais, que poderão paralisar suas atividades a partir de 23 de janeiro. É pouco ou querem mais?

Além da batalha campal nos arredores da Assembleia, outro episódio, também em dezembro, já havia representado um forte desgaste para o governo Helder: o envio à Alepa num dia e a retirada, no mesmíssimo dia, de um projeto do Executivo que previa a extinção de vários órgãos, inclusive da área cultural. O episódio, que o próprio governador classificou de "erro brutal", acabou resultando na queda da secretária de Planejamento, Renato Coelho, que teria encaminhado a matéria ao Legislativo sem a palavra final de Helder.

"Destruidor da educação"

Agora, com o prédio da Seduc ainda ocupado, viraliza nas redes sociais uma carraspana - um carão, diriam nossos avós - em regra de uma líder indígena, Auricélia Arapiun, ao secretário de Educação do Pará, Rossieli Soares, durante reunião ocorrida na tarde desta sexta-feira (17). Assistam ao vídeo acima.

Ela, Arapiun, diz na cara dele, Soares, apontando-lhe o dedo: "O senhor é destruidor da educação. O senhor destrói todos os povos indígenas. O senhor está destruindo a educação no Estado do Pará. O senhor está destruindo a nossa dignidade. Nossos parentes estão na BR, em confronto com o agronegócio, em confronto com caminhoneiros armados. E se acontecer alguma coisa com algum parente, sabe a culpa de quem é? É de vocês, porque vocês têm sangue indígena nas mãos de vocês, sempre tiveram, desde muito tempo".

Soares e demais circunstantes que o acompanharam assistem a tudo impassíveis, mudos e quedos, e não por uma questão, digamos assim, de etiqueta  - de noblesse oblige, diriam os franceses, fazendo biquinho -,  mas porque o momento, é claro, não justificaria qualquer contestação às flechas verbais atiradas pela líder indígena, evitando-se assim o acirramento de ânimos, que já está, convenhamos, nas alturas.

No mais, Helder, segundo termo de transmissão de cargo, deve reassumir o cargo nesta segunda-feira (20). Até essa data, sabe-se lá como estará o caldeirão na Seduc.

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