segunda-feira, 9 de outubro de 2023

O que tem uma senhorinha indefesa e desatenta a ver com a vulnerabilidade de Israel diante do Hamas

Prédio é bombardeado por Israel na Faixa de Gaza, em retaliação ao ataque do Hamas

Estive em Israel em 2016.
Em Jerusalém, visitei, é claro, o Muro das Lamentações, um momento de emoção indescritível.
À entrada do Muro, que tem um dos controles de segurança mais rigorosos de Jerusalém, em decorrência do risco de atentados, presenciei cena chocante.
Todos os turistas são avisados, à exaustão, de quem não podem fotografar os ambientes na área de entrada do Muro. Por motivos de segurança, é óbvio.
Eis que eu me encontrava um pouco atrás de uma senhorinha. Sabe-se lá por que, ela resolveu passar a mão no celular e comeou a tirar fotos. Acho que fez até selfies.
Um dos seguranças, posicionado próximo à catraca, reagiu de forma incontrolavelmente furiosa.
Além de berrar impropérios - e ninguém precisa entender o hebraico para ter certeza de que eram impropérios -, a impressão que se tinha era que o homem estava na iminência de agredir fisicamente a mulher ou mesmo prendê-la.
Felizmente, ele não fez nem uma coisa, nem outra, mas obrigou-a a apagar, na mesma hora, as fotos que ela fizera no celular e mostrar-lhe o aparelho, para confirmar se tinha mesmo apagado todas as imagens.
A senhorinha, em prantos e à beira do pânico, obedeceu às ordens e só então pôde entrar no recinto do muro, não sem antes, acredito, festejar três coisas: não ter sido estapeada, não ter sido presa e não ter perdido o celular, que poderia muito bem ter sido confiscado pelo segurança.

Motos e parapentes
Lembrei-me muito desta cena desde o último sábado, quando extremistas do Hamas começaram a atacar Israel - Jerusalém, inclusive - com uma chuva de foguetes, ao mesmo tempo em que, de forma inédita, inesperada e inexplicável, conseguiram vencer os controles de segurança israelentes, inscritos entre os mais seguros do mundo, e fazer uma incursão terrestre ao território do Estado judaico.
O ataque foi a partir da Faixa de Gaza, um enclave de apenas 360 km quadrados, mais ou menos equivalente ao município de Colares e cerca de duas vezes maior do que Benevides, aqui perto de Belém.
Drones, sensores de altíssima potência, satélites e outros meios tecnológicos avançadíssimos monitoram, as 24 horas do dia, toda a extensão fronteiriça entre Gaza e o território israelense.
Mesmo assim, algumas dezenas de extremistas, usando motos e parapentes - sim, meus caros, não tanques, mas motos e parapentes - para ingressar em Israel por terra, driblando todo o sistema de inteligência israelense, também invejando como dos mais eficientes e eficazes do planeta.
Mas, à entrada do Muro das Lamentações, uma senhora indefesa foi reprimida violentamente por sua desatenção. E foi desatenção mesmo, porque ninguém haverá de convir que uma pessoa, deliberada e ostensivamente, será capaz de desafiar, bem na frente de seguranças fortemente armados, os protocolos de segurança de um país como Israel. 
A falha gigantesca, inexplicável e intolerável, representada pela "invasão" de uma pequenísima parte do território judaico por terra, não pode levar, no entanto, à ilusão de que estaria comprovada uma suposta paridade de forças em mais este confronto entre o Hamas e Israel.

A extinção do Hamas?
Não há, evidentemente, comparação entre o poderio bélico israelense e do Hamas. Daí não se imaginar a quantas pode ir a afirmação do governo de Israel de que este conflito representará uma mudança de patamar na forma como o Estado judaico tem tratado o grupo extremista. Mas dez, entre dez analistas, apostam que a retaliação terá como objetivo esmagar o Hamas a ponto de extingui-lo.
Independentemente, todavia, do alcance da resposta bélica de Israel e da resistência a ser oposta pelo Hamas, é trágico, é terrível, é horroroso o sacrifício de milhares de vidas civis - sejam isralenses, sejam palestinos, sejam de que nacionalidade ou confissão religiosa forem - decorrentes de um conflito iniciado em meados do Século XX e sustentado ao longo dos tempos por ódios alimentados dia a dia, agravados pela incapacidade da diplomacia em fazer com que o bom senso prevaleça acima de todas as diferenças.

2 comentários:

Nailson Guimarães disse...

Falar sobre essas falhas de segurança é interessante, mas quero ver quem se atreve a conjecturar sobre o que leva extremistas - seja de dois lados - a conter essa brutalidade. A história daquele espaço não é muito diferente do que fizeram e estão a fazer com nossos povos originários.

Anônimo disse...

Primeiro diz que os turistas são avisados a exaustão de que não se pode fotografar as áreas próximas à entrada do muro, então logo se conclui que a tal senhorinha estava sim ciente dos protocolos de segurança e não desatenta como quer induzir o blogueiro.