quinta-feira, 6 de abril de 2023

Um homem matou uma pessoa numa cidade de uma região. Isso é mesmo jornalismo? Falem sério.


Thiago Brennand e, na foto do alto, Maurício César Filho, o "Hétero Top": alguém
acharia razoável matérias jornalísticas não citarem seus nomes e nem mostrarem seus rostos?

O País inteiro ainda está aturdido com mais um ato de violência - hediondo, cruel, desumano: o massacre de crianças em Blumenau (SC), quatro delas trucidadas com machadinhas e facas, outras quatro gravemente feridas. O assassino é um monstro chamado Luiz Henrique de Lima, 25 anos, com quatro ocorrências policiais anteriores.
Em meio à estupefação, alguns veículos de Imprensa do País anunciaram um ajuste em seus, como dizem, protocolos de divulgação de informações. A partir de agora, em casos semelhantes, passarão a não mais divulgar o nome dos autores dessas mortandades, como também não mais exibirão cenas dos massacres, sejam fotos, sejam vídeos.
A justificativa para a adoção do novo procedimento é o de evitar que assassinos ganhem notoriedade através da intensa exposição midiática a que são submetidos. Com isso, procura-se evitar o que especialistas definem como "efeito contágio", ou seja, o estímulo à repetição de condutas criminosas decorrentes da exaustiva divulgação na mídia.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
É razoável, é mais do que recomendável que veículos de Imprensa restrinjam, nos limites do bom senso, a disseminação de informações capazes de tornar assassinos verdadeiras celebridades. Como é recomendável que não se divulguem imagens de vítimas de violência, sobretudo quando são menores de idade.
Deparar-se, qualquer cidadão, com fotos ou vídeos de pessoas mutiladas, dilaceradas e ensanguentadas é alguma incompreensível, para não dizer que é uma violencia se comete contra o leitor.
O difícil, nesses casos, é encontrar a dose certa da prudência, da moderação e do comedimento, para que a supressão de informações, a título de evitar consequêndias como o "efeito contágio", não venha a prejudicar a completude do fato jornalístico reportado.
Não vejo como razoável, no caso, suprimir-se, em casos como o de Blumenau, nem o nome, nem a foto do maluco que cometeu o ato hedindo. Aceitar as justificativas apontadas pelos veículos que passarão a suprimir o nome de assassinos justifica que se questione: deve-se, então, suprimir os nomes de criminosos envolvidos outros eventos em que seus autores também podem estar buscando a notoriedade e a celebrização de suas imagens?
Vamos a casos recentes, para não dizer recentíssimos.

Atos terroristas de 8 de janeiro, em Brasília
Até agora, são exibidas à farta imagens de bolsonaristas terroristas depredando prédios públicos, defecando em suas dependências, destruindo obras de arte e debochando e insultando autoridades. Seria admissível não mencionar-lhes os nomes, sob o argumento de quem esse ato contagiaria outros fascitas a fazerem o mesmo? Não. Não é admissível.

Thiago Brennand
Ele é empresário, investigado em pelo menos oito crimes, sendo réu em seis deles. É acusado de agredir uma modelo, tatuar e sequestrar uma segunda mulher, estuprar uma jovem e uma miss. Em quatro desses seis casos, a Justiça decretou prisão preventiva. No momento, está nos Emirados Árabes. Só a Globo, o veículo de maior audiência do País, já fez sobre várias reportagens, algumas exibida no "Fantástico", mostrando-o fartamente. Seria admissível que a postura do jornalística fosse outra, que não a de mostrá-lo, a de exibi-lo exaustivamente, para que todos saibem quem ele é e os crimes que cometeu? Não. Não seria admissível. Alguém acharia razoável que não lhe citassem mais o nome, porque isso poderia estimular outras condutas misóginas e racistas? Acho que ninguém acharia razoável.

Hétero top
Assim é - ou era, sei lá - conhecido Maurício César Mendes Rocha Filho, de 25 anos. Ele está preso. Já foi denunciado como o responsável pela morte, em Belém, de uma modelo que teve fotos íntimas expostas pelo criminoso e, abalada emocionalmente por isso, jogou-se de um prédio. O denunciado responde por várias outras ocorrências. É um delinquente. Alguém acharia razoável que seu nome não fosse mais citado em jornais e mencionado em jornalísticos de TV, para evitar que outros jovens que nem ele venham a cometer crimes idênticos? Acho que ninguém acharia isso razoável.

Valmir Maurici Júnior
É um juiz com jurisdição em Guarulhos. Nos últimos dias, todo dia, o dia todo, são exibidas imagens dele batendo na esposa e ameçando-a até de morte. A Corregedoria de Justiça de São Paulo já o afastou provisoriamente das funções. Investigações foram abertas pela polícia e pelo MP. Seria razoável que esse criminoso tivesse sua identidade preservada do distinto público, para evitar que práticas feminicidas sejam disseminada. É claro que não seria rozoável.

Esses são apenas quatro exemplos que, em sã consciência, não eximiriam matérias jornalísticas de mencionar expressamente o nome dos autores de crimes, expondo-os exaustivamente para que todos saibamos quem são, o que fazem, quais são seus pendores ideológicos e suas conexões no mundo do crime.
Não se descarta que a nova postura adotada em relação aos autores de massacres como o de Blumenau venha a ter um efeito contrário, ou seja, o de empoderar esses assassinos, que, no planejamento de seus atos criminosos, já terão a garantia de que não terão suas seus nomes expostos, como também seus métodos e e suas conexões. Isso não seria acobertar suas condutas hediondas?
Aliás, frequentemente nos deparamos, sobretudo em programas jornalísticos de televisão, com notícias mais ou menos assim: Um homem, supostamente integrante de uma facção criminosa, foi preso depois de matar uma pesssoa na manhã de hoje, na frente de um shopping na Região Metropolitana de Belém.
Que informação é essa? Isso não é informação. Isso é nada, porque não sei o nome do matador, não sei a que organização pertence, não sei o nome do shopping e nem sei a cidade onde está o shopping, supondo apenas que é Belém ou Ananindeua.
Os protocolos jornalísticos são necessários, sim. Mas não podem se tornar uma camisa de força que acaba engessando a informação. E informação engessada também ajuda a desinformar.
Ou não?

Um comentário:

Anônimo disse...

É o mesmo jornalismo dos passadores de pano do molusco, igual a você, se não percebeu eu desenho, pinto e ainda ponho uma legenda embaixo pra ficar mais claro.