quarta-feira, 8 de setembro de 2021

O jornalismo bolsonarista pode até ser parcial. Mas não pode - e nem deve - ser mentiroso!

Uma mensagem como essa é "antidemocrática? Jornalistas bolsonaristas acham que não.
Eles têm lado. Mas não deveriam ser mentirosos e nem tentar travestir Bolsonaro de democrata.

Jornalismo tem lado, meus caros.

É evidente que tem. Aliás, sempre teve. 

Nós, jornalistas, que batemos no peito para dizer que somos isentos e imparciais, corremos o risco de experimentar aquela incômoda sensação do refluxo. E quando tudo volta pra dentro de nós mesmos, o gosto, vocês sabem, é horrível.

Agora, uma coisa precisa ficar clara: fazer um jornalismo que tenha claramente um lado não nos desobriga, como jornalistas, de sempre estar ao lado da verdade.

Vou dar um exemplo.

Tenho lido, em dimensões tsunâmicas, afirmações inacreditáveis de jornalistas bolsonaristas (eles têm lado, portanto) argumentando o seguinte.

1. Quem Bolsonaro foi eleito democraticamente.

2. Que havia milhões de pessoas nas ruas na última terça-feira.

3. Que é um erro taxar os atos de 7 de Setembro de "antidemocráticos".

4. Que Bolsonaro foi eleito pelo voto e, portanto, apenas pelo voto pode ser removido do cargo.

É o que dizem, repito, jornalistas bolsonaristas.

Eles, repito ainda, têm lado.

Mas não podem mentir.

Não podem falsear a verdade.

Não podem tergiversar.

Aos fatos, pois.

1. Bolsonaro foi eleito democraticamente?

Foi. É fato.

2. Havia milhões de pessoas nas ruas do Brasil, neste 7 de setembro?

Provavelmente, sim. Se somarmos as concentrações em todo o País, é certo que passará do milhão, muito embora bolsonaristas (jornalistas, não esqueçam) arrisquem-se a dizer que o número de manifestantes nas ruas era de 220 milhões de pessoas - mais do que a população do país.

3. Os atos de 7 de Setembro não foram "antidemocráticos"?

O jornalismo bolsonarista, que entende terem sido "democráticos" os atos de 7 de Setembro, incorre numa mentira - vulgar, intolerável, descarada, sem vergonha, despudorada.

Abundaram mensagens, nas redes sociais e fora delas, de bolsonaristas pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso.

Abundaram mensagens, nas redes sociais e fora delas, de bolsonaristas pregando a invasão e depredação do Supremo e do Congresso.

Abundaram mensagens, nas redes sociais e fora delas, de bolsonaristas "autorizando" o presidente debochado a bandear-se para um golpe (coisa que ele, o debochado, já está urdindo).

Abundaram mensagens, nas redes sociais e fora delas, de bolsonaristas defendendo o tal "poder moderador" das Forças Armadas, no sentido de atribuir-lhes poderes execráveis de promover uma intervenção militar.

Jornalistas bolsonaristas que respondam: é falso considerar esses atos como excrementosos e antidemocráticos?

Claro que não.

Falsos, mentirosos e cínicos são os jornalistas bolsonaristas que viram um caráter "democrático" nas manifestações de domingo.

4. Bolsonaro foi eleito pelo voto e, portanto, apenas pelo voto pode ser removido do cargo.

É isso mesmo, jornalistas bolsonaristas?

Mas como?

Bolsonaro já disse que não aceitará eleições sem voto impresso.

Já disse, expelindo perdigotos verbais, que estão tentando armar uma fraude nas eleições.

O idiota diz isso tudo depois de ter sido eleito deputado por 500 anos.

Então é isso mesmo? Bolsonaro sonha em atentar contra o processo eleitoral, mas devemos acreditar que ele acredita piamente no voto democrático como um instrumento vigoroso que permite a alternância no poder?

É isso?

Meus caros, sejam parciais. Mas não sejam mentirosos e nem idiotas.

O jornalismo bolsonarista tem todo o direito de ser bolsonarista. Mas não tem o direito de ser mentiroso.

Porque a parcialidade é uma coisa. Ter lado é uma coisa.

Outra coisa é a mentira, o engodo, a desfaçatez com que o jornalismo bolsonarista chega ao cúmulo de achar que Bolsonaro é um democrata e que os atos de 7 de Setembro não foram "antidemocráticos".

Que horror, gente!

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