sábado, 17 de outubro de 2020

Jair Lopes, o candidato do PCO, existe mesmo? Parece que sim. Mas ele não passa de uma miragem política.

Jair Lopes (na imagem ao lado) existe?

Existe.

Quem consulta o sistema de divulgação de candidaturas da Justiça Eleitoral vai ver seu nome completo, sua ocupação, data de nascimento, além de certidões emitidas pela Justiça Federal e pela Justiça Estadual atestando que nada consta contra ele.

Como cidadão, portanto, o candidato do Partido da Causa Operária (PCO) a prefeito de Belém existe.

Como candidato, não.

Como candidato, ele não passa de uma miragem política.

Fiquei curioso para acompanhar a entrevista que Lopes daria na última quinta-feira (15), na série em que o Grupo Liberal está ouvindo todos os 12 candidatos a prefeito de Belém.

Ele não foi. Alegou imprevistos na agenda.

Quem acompanha o dia a dia da campanha dos candidatos, que a TV Liberal exibe em seus telejornais, ouvirá que "Jair Lopes não informou seus compromissos de campanha". Invariavelmente, tem sido assim.

O candidato do PCO fez-se ausente da entrevista não porque teve "imprevistos de agenda". Essa justificativa, com todo o respeito, é mentirosa.

Muito embora tenha mentido, ele honestamente deve ter preferido não ir porque não teria mesmo nada, absolutamente nada o que dizer.

Jair Lopes, como candidato a prefeito, não tem uma proposta - literalmente nem uma sequer - para Belém.

Seu programa de governo, disponível no sistema da Justiça Eleitoral, é um deserto de propostas.

Diante da miragem política que é o candidato do PCO, fui ler o que ele chama de programa de governo.

Li todo o "programa".

Talvez nem Jair Lopes tenha lido.

Mas eu li.

Aquilo ali, a rigor, é uma carta de princípios. De delirantes princípios.

"Nesse sentido, a eleição atual não é um processo como de costume, mas uma fraude e uma manipulação em meio a um golpe de Estado, tal como eram as eleições durante o regime militar. Não há nenhuma saída pela via eleitoral e a insistência da esquerda pequeno-burguesa nessa perspectiva é uma verdadeira armadilha para os trabalhadores", diz um dos trechos da carta delirante do PCO.

Mas se a eleição é uma fraude, por que o PCO participa dela, tendo registrado Jair Lopes como seu candidato?

"Agora, a esquerda se prepara para adaptar-se ainda mais ao golpe e aos golpistas, ou seja, ao imperialismo, lançando-se na farsa eleitoral na disputa de cargos e de projeção individual, apresentando-se como administradora do Estado capitalista completamente falido". Eis outro delírio inscrito na "programa de governo" de Lopes.

Se a esquerda lançou-se numa farsa eleitoral, o PCO, que participa dessa mesma farsa, agasa-lhe em que espectro ideológico?

Espiem só mais este trecho: "Neste sentido, é de fundamental importância impulsionar a luta pela dissolução da Polícia militar e de todo o aparato repressivo. Defender a organização imediata dos comitês de autodefesa para reagir à ofensiva do estado capitalista e da extrema-direita contra os negros".

Como seria a estruturação desses comitês de autodefesa? Quais seriam as armas que utilizariam? Seriam porretes, galhos de mangueiras podadas? Ou seriam as armas convencionais utilizadas pela PM que seria dissolvida?

Eu queria muito saber como seriam essas coisas.

Mas, afinal de contas, qual seria o objetivo central da campanha do PCO?

O objetivo central é singelo: "Cumprir a meta mínima de aumento de 100% na venda e alcançar a meta geral de venda de 10 mil exemplares" do jornal do partido.

Consta do programa: "O trabalho com o jornal deve ocupar lugar central na atividade de campanha em todo o País. O jornal é nosso principal instrumento de campanha. A ilusão de que a campanha possa ser feita pela imprensa capitalista é uma completa adaptação à burguesia."

Está aí uma das razões pelas quais Jair Lopes não tem contato com a Imprensa. É que ela é capitalista, e uma campanha feita por intermédio da Imprensa capitalista não apenas é uma iusão como uma "completa adaptação à burguesia". Pronto. Tudo explicado.

Por que a miragem política em que se transformou Jair Lopes deveria ser objeto de um debate desapaixonado?

Porque a presença dele num pleito eleitoral democrático, sob as regras democráticas, revela a bagunça, a mixórdia e a disfunção dos partidos políticos no Brasil.

Isso é fato.

Atualmente, temos 33 partidos políticos legalmente registrados no Brasil. E estão na fila, aguardando criação, mas 77. Isto mesmo: 77.

A impressão é de que, nessa toada, não vai demorar muito o dia em que teremos mais partidos do que eleitores.

Num quadro partidário como esse - disperso, diluído, desprovido de qualquer organicidade que possa identificá-los com os segmentos do corpo social que eles dizem representar -, como esperar que um PCO, por exemplo, apresente à sociedade propostas concretas, viáveis e razoáveis para a superação de distorções sociais clamorosas?

Questões como essa só Jair Lopes poderia explicar.

Mas ele, ainda que exista como cidadão, é uma miragem política.

Por isso, ninguém o vê, ninguém o ouve, ninguém o percebe minimamente, ninguém sabe o que pensa e o que faz durante sua campanha. Nada, enfim!

Pena que Lopes, mesmo sendo uma miragem política, continue participando de uma fraude e de uma farsa eleitorais, como diz sua carta de princípios delirantes.

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