quarta-feira, 11 de setembro de 2019

Camillo Vianna, um visionário que se fez referência do ambientalismo na Amazônia


Quando comecei no jornalismo, no início dos anos 1980, o médico e professor Camillo Vianna (na foto extraída do portal da UFPA) era uma das maiores referências do ambientalismo – e do ambientalista – na Amazônia.
Ele representava uma pauta certeira para os então chamado pauteiros – ou chefes de reportagem – de jornais quando questões ambientais, naquela época ainda timidamente tratadas, entravam em discussão e exigiam matérias jornalísticas mais apuradas.
Camillo Vianna era o especialista que, ao ver mangas apanhadas ainda verdes, não maduras, espalhadas em ruas e calçadas de Belém, indignava-se não pela agressão associada aos frutos que se estragaram, mas à mangueira de onde foram derrubados.
Camillo era assim.
Via o meio ambiente, sobretudo o amazônico, como um sistema, um complexo sistema de biodiversidade que afetava individualmente uma pessoa, uma coletividade, uma cidade, um estado, um país. E a Amazônia inteirinha.
Camillo falava forte.
Estridente.
Firme.
Decidido.
Era um visionário, sim.
Mas não era desses que se limitava a sonhar, compassivo e complacente, que a integração ambiental perfeita ocorreria quando homem e natureza convivessem harmonicamente - um sustentando-se da outra, a outra sustentando-se do zelo devido pelos que devem preservá-la.
Camillo Vianna, ao contrário, pugnava por práticas mais afeitas a preservar o meio ambiente, literalmente bradava suas indignações para que seu idealismo não fenecesse no terreno infértil da cantilena dos que usam as bandeiras ambientalistas apenas e tão somente para se exibir.
A vida, no seu roteiro implacável rumo ao ocaso, findou para Camillo Vianna na noite desta terça-feira (10), quando ele nos deixou aos 93 anos de idade.
Mas sua vida vai continuar ecoando para sempre, como exemplo a ser seguido neste país que, infelizmente, entrou numa trajetória de deboches, infâmias, disparates, maluquices e extremismos ideológicos que levam um presidente da República a apresentar uma receita básica – e escatológica, evidente – para quem deseja preservar o meio ambiente: faça cocô um dia sim, outro não.
Já idoso, e com a saúde debilitada, Camillo Vianna já não era consultado para comentar excrescências como essa.
Tomara que o tenham poupado de ouvir essas coisas – horríveis, horrorosas, em tudo reveladoras das sendas da mediocridade pelas quais o País está enveredando.
E com o País, esta Amazônia, presa das queimadas, da devastação e de uma política ambientalista verdadeiramente predatória, inaugurada há oito meses.
Oito meses que têm o peso e o sentido de 80 anos de retrocesso.

2 comentários:

kenneth fleming disse...

Grande brasileiro, grande paraense e uma referência na luta pela preservação da Amazônia. Tive a satisfação de conviver e interagir com ele em determinada época.
Agora, mais do que justamente fazer as homenagens de praxe, urge prestar atenção ao que ele defendia, preceitos que continuam atuais, principalmente nesses dias de trevas, ambientais e morais.
Kenneth

Unknown disse...

Destemido, corajoso , verdadeiro,não se curvava diante da defesa a natureza. Com a sua partida, surja outros Camillo Vianna. Saudade.