terça-feira, 4 de outubro de 2016

O silêncio ruidoso


Por FRANCISCO SIDOU, jornalista

Passada a euforia da vitória ou o choro da derrota nas eleições municipais de domingo, um dado assustador merece a reflexão dos caciques e "políticos profissionais": cerca de 30% dos eleitores em todo o Brasil deixaram de votar (abstenção) ou votaram em branco ou anularam seu voto.
São cerca de 45 milhões de votos em um contingente de 145 milhões de eleitores aptos a votar. É um "brado retumbante" da sociedade, que revela a "fadiga" do atual modelo político-eleitoral, com 35 partidos que se tornaram cartórios eleitorais ou "capitanias hereditárias", sugando recursos públicos através de um duto chamado Fundo Partidário. Acresce que mais 35 novos partidos estão pleiteando registro para aumentar essa esbórnia.
O recado das urnas, ainda fumegantes, é mais do que eloquente: ou suas "excelências" (atuais parlamentares) mudam o atual modelo de se fazer política no Brasil - através de uma reforma política de verdade - ou quase todos irão perecer nas próximas eleições, num mar de rejeição, afogados em um tsunami de  votos brancos e nulos. Como político não tem vocação para o suicídio, há de se esperar que tomem "tento" e votem a tempo (antes das eleições de 2018) uma reforma política que contemple as aspirações da sociedade em transe.
"Quando o ideal não é possível, o possível passa a ser o ideal", já dizia uma sagaz raposa política mineira, Benedito Valadares, em seu livro de memórias "Tempos Idos e Vividos". Logo, uma reforma política se faz absolutamente indispensável, mesmo que não seja a ideal.
Uma reforma que, por exemplo, permita candidatos avulsos em todos os níveis, pois está mais do que comprovado que o eleitor, em sua esmagadora maioria, não vota em partidos , mas em candidatos.
Uma reforma que corrija distorções na distribuição do Horário Eleitoral "Gratuito", que atualmente só favorece os grandes partidos, dominados por oligarcas partidários. Tornar o voto facultativo, não obrigatório, seria outra medida ideal, mas quase impossível de ser adotada, pois ainda é grande a influência do poder econômico dos "coronéis do atraso" e do asfalto na compra de votos em "currais" com eleitores mais carentes.
Uma demonstração da "fadiga" do eleitor de Belém com as manjadas práticas da velha política foi a votação surpreendente e alvissareira da jornalista Úrsula Vidal. Sem apoio de qualquer máquina, de coronéis ou oligarcas políticos, mas articulada e inteligente, ela conseguiu dar o seu recado de maneira firme e consistente, apesar da aparência light, conquistando o voto principalmente dos jovens até então desmotivados para votar na mudança diante do cenário de uma política viciada com práticas nada republicanas ou franciscanas.
Úrsula foi a grata revelação dessas eleições e um sopro de esperança de que a mudança é possível, mesmo diante de todas as dificuldades e manipulações para evitar as surpresas eleitorais. Ficou 5 mil votos à frente do professor Maneschy, que se apresentava como a "novidade" da eleição em Belém, embora apoiado por tradicionais oligarcas partidários.
O sinal de alerta foi dado pelos eleitores em todo o Brasil. A voz das ruas pede mudanças no atual e carcomido sistema político-eleitoral. A equação parece bem simples: ou os políticos mudam o atual modelo de se fazer política no Brasil ou serão todos "mudados" nas próximas eleições.

Um comentário:

AHT disse...

Humor desse clima pós "Eleições 2016":

Os intelectuais estão abandonando a Marina na REDE. Logo, ela funda um novo partido: CAMA

Cavalgando em uma borboleta azul,
A falaciosa e oportunista
Marina Silva está construindo sua própria cama,
Aquinhoada e viciada que está pelo Fundo Partidário...