sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Crônica de uma tragédia anunciada


Do jornalista Francisco Sidou, por e-mail, sobre o assalto ao posto do Basa que funciona no prédio da Capaf

O assalto com morte violenta do vigilante bancário Alcindo Rangel , ocorrido no ultimo dia 29 (sexta-feira) ao Posto Basa/Capaf, na avenida Generalíssimo Deodoro, em Belém, provocou muito estresse e grande trauma aos colegas que trabalhavam naquela unidade e aos poucos clientes que naquele horário alí buscavam atendimento, submetidos a uma sessão de pânico e terror.
A ação audaciosa dos bandidos foi minuciosamente planejada e revelou uma faceta de perversa criatividade com a utilização de um falso cego e cadeirante para ingressar na agência bancária, sem disparar o alarme das portas com detector de metais. Na véspera, uma mulher esteve lá se informando como deveria proceder para levar seu tio cadeirante para fazer uma transferência bancária de grande porte. Então foi orientada a procurar um dos vigilantes para buscar o acesso pela porta especial.
Por ironia, foi o próprio Alcindo quem abriu a porta para o seu algoz segundos depois de terem acesso ao Posto. A ação inusitada do falso cadeirante ao se levantar com a arma em punho anunciando o assalto talvez tenha provocado algum gesto instintivo de defesa em Alcindo, resultando na ira dos assaltantes, que atiraram em sua cabeça provocando sua morte instantânea, às vésperas de sua aposentadoria. Era um trabalhador honrado e pai de família exemplar, muito estimado pelos colegas e clientes pela fidalguia com que tratava a todos.
Diante dessa ocorrência tão traumática, alguns questionamentos precisam ser feitos. Por que, por exemplo, a porta de acesso a cadeirantes não tinha detector de metais? Por que retiraram os dois guardas bancários que faziam a vigilância externa, trocando-os por duas precárias câmeras de segurança eletrônica? Por medida de economia?
Dois outros fatores também contribuíram para aumentar a insegurança do Posto Basa/Capaf, que já havia sofrido três assaltos nos últimos dois anos, em dias de pagamento dos benefícios dos assistidos da Capaf. Primeiro, foi o despejo da Associação dos Aposentados (AABA), que funcionava no antigo quintal do prédio, esvaziando os corredores de acesso ao Posto do intenso tráfego de aposentados e seus acompanhantes.
Depois, com a reforma malfeita das instalações do Posto, além de rebaixarem temerariamente o balcão de atendimento dos Caixas, deslocaram a entrada de clientes para o corredor lateral, hoje quase deserto e sem os dois guardas de vigilância na entrada, trocados por câmeras de suposta segurança eletrônica. Tais medidas administrativas costumam ser tomadas nas ilhas de conforto dos gabinetes refrigerados sem a necessária checagem junto aos setores de segurança do Banco.
Em dezembro de 2015, por ocasião da posse do novo presidente do Basa, Marivaldo Melo, dediquei-lhe uma "Carta Aberta" então divulgada nos blogs "O Mocorongo" e "Ver-o-Fato", com grande repercussão nas outras mídias sociais, apelando pela volta do Espaço de Convivência e Lazer dos Aposentados nas antigas instalações nos fundos do prédio, por uma razão não só de consideração e respeito, mas também por fatores de segurança, pois a ação dos meliantes era dificultada pela grande circulação de pessoas, entre aposentados, pensionistas e seus dependentes, acompanhantes ou procuradores.
As motivações alegadas para o despejo dos aposentados seriam de ordem administrativa, por necessidade dos serviços, mas decorridos mais de dois anos, as instalações antes ocupadas pela AABA continuam ociosas e servindo apenas de depósitos para materiais inservíveis. Foi apenas uma mesquinha retaliação, por terem resistido à implementação dos novos Planos Saldados e Salgados , que retirava direitos adquiridos.
Dizia, então, que esse seria um gesto de nobreza pelo seu alto significado para distensão do relacionamento com antigos e dedicados empregados do Banco da Amazônia, instituição a que se orgulham de ter servido. E que por isso mesmo mereciam um tratamento mais humano e mais digno.
Infelizmente, nem tivemos resposta do novo presidente, que foi devidamente "municiado" pelo seu "staff" de proeminentes assessores, com informações nem sempre fiéis aos atos e fatos que acontecem no "reino", aqui embaixo, por onde transitam os comuns dos mortais,  clientes ou não. 
O trauma dos colegas que trabalhavam no Posto Basa/Capaf é muito grande e dificilmente eles terão condições psicológicas de voltar tão cedo ao seu antigo local de trabalho. Melhor seria que fossem transferidos para outra agência, após um período de recuperação, assistidos por profissionais da área de Psicologia da Casf.
Por seu turno, os aposentados e pensionistas, clientes preferenciais do Posto Basa/Capaf, estão também receosos de continuar frequentando aquele local, que vai acabar se transformando em um posto bancário fantasma.

Nenhum comentário: