terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Há algo de novo sob o sol: o PSOL condenando o ato de uma ditadura

Daniel Ortega: um ditador nefasto, nefando e cruel. Mas, para muitos, um ditador do bem.

Entre as esquerdas, há algo de novo sob o sol.
E o novo atende pelo nome de PSOL.
Inesperadamente, curiosamente, surpreendentemente e, sabe-se lá, ineditamente (entre outros mentes que a criatividade de cada leitor poderá acrescentar), o PSOL apresenta-se como uma voz dissonante entre os partidos de esquerda brasileiros, que, infelizmente, veem-se na obrigação de externar publicamente seu apoio a ditadores, mesmo que isso cause vergonha e constrangimento às agremiações partidárias.
E como os partidos de esquerda se acham obrigados a apoiar ditadores atrozes, acabam dando a impressão de que há ditaduras do bem (as de esquerda) e ditaduras do mal (as de direita).
Por esse viés, espelham-se deploravelmente nos segmentos mais nefastos de direita, para os quais ditadores do bem são os conservadores - como esse animalesco Viktor Orbán, que Bolsonaro saudou como irmão -, enquanto os ditadores do mal são os de esquerda.
Representa, portanto, algo novíssimo debaixo do sol que o PSOL tenha divulgado, no dia 11 de fevereiro passado, uma discretíssima nota em que se manifesta preocupado "com a condenação da companheira Dora Maria Téllez e de outros militantes históricos e jovens ativistas nicaraguenses".
O PSOL criticando uma perseguição promovida pelo governo do ditador nicaraguense Daniel Ortega?
Pois é. Se você não acreditava, acredite que o PSOL fez isso. Ainda que possa tê-lo feito constrangidamente. Mas fez, ora bolas.
E ao fazê-lo, torna-se uma voz dissonante do PT, cujo líder maior, o ex-presidente Lula, chegou a minimizar a ditadura nicaraguense, comparando o tempo em que Ortega e, ora vejam só, a então chanceler alemã Angela Merkel ficaram no poder.
“Temos que defender a autodeterminação dos povos. Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”, disse Lula durante entrevista, em novembro do ano passado.
Pois é.
Na ocasião, não perguntaram a Lula se Angela Merkel, alguma vez, elegeu-se mediante pleitos fraudados, se mandou prender dezenas de opositores, empastelou veículos de comunicação, agrilhoou o Poder Judiciário para atender a seus interesses e protagonizou tantas outras barbaridades.
Daniel Ortega fez e faz tudo isso, mas, vocês sabem, é um ditador do bem, não é?
Não. O PSOL começa a sentir que não, que Ortega é simplesmente um ditador. Pronto. E ponto.
Ao dissentir dos demais companheiros aqui no Brasil, o PSOL dá uma edificante demonstração de que pode estar começando (apenas começando, vejam bem) a considerar que ditaduras, sejam lá de que espectro ideológico forem, são abjetas, nefandas, nefastas e incondizentes com os mínimos princípios que as democracias devem seguir.
Abaixo, vejam a íntegra da nota do PSOL.

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O PSOL – Partido Socialismo e Liberdade vem a público expressar sua preocupação com a condenação da companheira Dora Maria Téllez e de outros militantes históricos e jovens ativistas nicaraguenses.

Dora Téllez foi uma das principais mulheres na liderança da Revolução Sandinista e teve papel importante na tomada do Palácio Nacional de Manágua em 1978, sendo ainda Ministra do governo Ortega. Hoje ela responde a um processo jurídico arbitrário motivado pela perseguição política do governo Ortega/Murillo.

Defendemos o direito de autodeterminação dos povos, a soberania frente ao imperialismo e também a livre manifestação do povo nicaraguense. Nos solidarizamos com o povo nicaraguense que luta em defesa dos princípios originais da Revolução Sandinista.

Executiva Nacional do PSOL
11/02/2022

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