sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Vozes cavernosas do governo Bolsonaro apresentam sua narrativa sobre o caos em Manaus. E acabam traçando o perfil do governo Bolsonaro.

Bolsonaro limpa o catarro e depois vai cumprimentar fanáticos, em plena pandemia.
Para bolsonaristas, isso é apenas uma narrativa e nada tem a ver com governança.
Trata-se mesmo só de falta de higiene. É?

Adoro certos termos que vêm e vão, como ondas e marés.

Narrativa é um deles.

Não sei bem o que significa, mas adoro sua sonoridade e seus múltiplos sentidos.

Então, é o seguinte: vozes cavernosas que integram o governo Bolsonaro estão saindo das cavernas em que se encontram para ecoar, com alarido, suas narrativas.

As narrativas são as mais amalucadas, como amalucado é o governo Bolsonaro. Mas, de qualquer forma, são narrativas. E convém que a consideremos assim.

Pois uma narrativa que ganha corpo, entre as vozes cavernosas do governo Bolsonaro e do Ministério da Saúde, é de que a tragédia em Manaus - onde pacientes estão morrendo de Covid sem oxigênio - é resultado, digamos assim, de uma maluquice intramuros, ou seja, de doidices que os amazonenses estariam disseminando apenas entre eles.

Por essa narrativa de bolsonaristas cavernosos, o que se passa em Manaus não deve ser atribuído ao governo Bolsonaro, mas a brigas, a maluquices, à bagunça e à corrupção que grassam entre o governo do estado e prefeituras do Amazonas, todos entretidos numa luta política encarniçada.

Pois é.

Vozes cavernosas do governo Bolsonaro têm a mais completa autoridade - moral e intelectual - para apresentar essa narrativa. Porque conhecem, porque convivem, porque têm intimidade com brigas, com bagunças, com o caos, com maluquices que representam a cara e a alma do governo Bolsonaro.

Ah, sim: sem falar que vozes cavernosas do governo Bolsonaro têm a máxima razão quando atribuem a tragédia em Manaus também à corrupção. Porque sabem que o governo Bolsonaro igualmente tem se notabilizado pela corrupção, não é?

Porque corrupção, como já disse aqui no Espaço Aberto, não é apenas meter a mão no cofre, puxar a dinheirama de lá e enfiá-la nos próprios bolsos e cuecas. Corrupção é corromper.

Quando se corrompem valores universalmente consagrados, como o do respeito à vida humana, isso também é corrupção da grossa.

Eis um fato incontornável.

As vozes cavernosas do governo Bolsonaro podem até não admitir ideologicamente esse fato, mas é preciso, pelo menos, admiti-lo racionalmente.

2 comentários:

AHT disse...

Mourão: 'Não tinha como prever o que ia acontecer em Manaus' (vídeo no Portal G1)

Audácia esses caras tem de sobra. Tirar da reta é uma das suas especialidades mais desenvolvidas. Não planejaram, criticaram ações de governos estaduais e municipais e até de instituições de saúde. Maus exemplos intencionais contra os cuidados que a população deveria seguir à risca. Bolsonaro e achegados falando e fazendo galhofas, chamando o povo de "maricas. Políticos fazendo média e criticando lockdowns e outras medidas restritivas. Deu no que deu. Já passou da hora de uma CPI e processo de impeachment não apenas para o Bolsonaro, também para outros envolvidos e que devem ser responsabilizados por essas tragédias afligindo o Brasil.

kenneth fleming disse...

Concordo plenamente. No caso de Manaus, e também certamente de outras cidades que virão, acrescento também a incúria da população, que não usa máscaras, vai à Ponta Negra como se nada estivesse acontecendo, vai aos bares lotados, e, pior, fica a defender um bando de empresários canalhas que não querem diminuir suas rendas. Quem se contamina são os trabalhadores, que usam ônibus superlotados para chegar ao trabalho. Já os empresários, ficam em "home office", sem nenhum risco. Ainda assim, a população tem, sim, parcela ponderavel de culpa, tanto pelos dirigentes que escolhe, como por sua omissão e desrespeito às mínimas regras de prevenção à doença.