quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A sublevação do guarda-chuva


A China, com sua imensidão territorial e sua geopolítica provinciana, sempre foi continuada ou descontinuada por dinastias. Mas eram os chefes de clãs que mantinham grandes feudos por toda a China, fazendo com que grande parte do povo campesino fosse praticamente escravizada por esses senhores feudais. E isso não estava de acordo com algumas cabeças pensantes da época. Em 26 de dezembro de 1893, na aldeia de Shaoshan, na província chinesa de Hunan, nasceu Mao Zedong (Mao Tsé-Tung, segundo a transliteração Wade Giles do chinês – essa informação é da Nova Enciclopédia Barsa). Mao foi o artífice da nova China. Rebelou-se contra a autoridade paterna e deixou a casa da família para continuar seus estudos. Em Changsha, capital da província, entrou em contato com as ideias políticas ocidentais e especialmente com as do líder nacionalista Sun Zohongslian (Sun Yat-Sen). Daí em diante, seguiu sua saga política.
Em 1919, mudou-se para Pequim, a fim de cursar a universidade. Mao trabalhou na biblioteca da instituição, onde conheceu Li Tao-Chao e Chen Tu-Hsiu, futuros fundadores do Partido Comunista Chinês. Mao abraçou definitivamente o marxismo-leninismo, ideologia política recém-chegada do Ocidente. Em 1921, Mao participou da fundação do Partido Comunista, que comandaria dali em diante os destinos da China, e percebeu que o campesinato chinês, ao contrário do que pensava seu partido, encerrava formidável potencial revolucionário. Em outubro de 1934, Mao e seu exército seguiram para o noroeste, principiando a “Grande Marcha”, durante a qual se tornara o grande líder do Partido Comunista Chinês. Mao conseguiu impor seu ponto de vista, e, em dezembro de 1949, foi proclamado presidente da nova República Popular da China. Entre 1966 e 1969, Mao lançou a mais polêmica de suas iniciativas: a Revolução Cultural. Esse movimento, parece, não foi bem entendido e foi encerrado em abril de 1969. Mao governou o país até a morte, em Pequim, em 9 de setembro de 1976. Seus assessores abandonaram progressivamente o ideário maoísta e adotaram políticas cada vez mais pragmáticas. E a China se reinventa.
Ademais, essas políticas pragmáticas adotadas por governantes atuais estão em choque, e protestos com manifestantes tomam as ruas de Hong Kong, reivindicando mais democracia, mas o governo chinês promete não anuir. O governo enfrenta seu maior desafio político desde 1989, ano do Massacre da Praça da Paz Celestial, quando manifestantes foram às ruas pedir mais liberdade e foram violentamente reprimidos. Só que desta vez quem tenta se impor é Hong Kong, ilha que viveu sob o domínio britânico por décadas, foi devolvida à China em 1977 e é um dos maiores centros financeiros do mundo. Milhares de pessoas se concentraram em frente à sede do governo de Hong Kong para protestar contra o Partido Comunista (PC) da China e defender a democracia e o direito de escolher livremente seu governante em 2017, como estava acertado.
Esse movimento foi apelidado de Revolução do Guarda-Chuva, por ser a forma adotada pelos manifestantes para se protegerem do gás lacrimogêneo e do spray de pimenta disparado pelos policiais. Essa querela foi a declaração de Pequim de que o cargo de governança da ilha seria disputado apenas por candidatos aprovados antecipadamente por um comitê representativo do PC, decisão que causou revolta aos moradores. O acordo estabelecido é que Hong Kong seria uma região administrativa especial, gerenciada com menor intervenção do governo e relativa liberdade de expressão. O regime ficou conhecido como “um país, dois sistemas”.
Além disso, Pequim promete não ceder e não admite interferência da comunidade internacional em assuntos internos. A vaidade do presidente Xi Jin-ping tenta dar a impressão de ser um líder forte, que não gostaria de ser visto recuando diante da oposição das ruas. Ou ainda, para evitar o que ocorreu à União Soviética, evita a todo custo sua fragmentação.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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