segunda-feira, 2 de setembro de 2013

"Entreato da Luz". Vale pelo deleite. Vale pela luz.



Bendita a hora em que Luiz Braga, tangido pela violência, foi procurar outros rios, outras gentes, outros igarapés.
Bendita a hora em que Luiz Braga, expulso pelos medos que dominam os belenenses permanentemente expostos à selvageria da violência, foi se reencontrar com outras margens, atravessando os limites que, parece, são ilimitados para a sensibilidade que brotam de suas lentes, capazes de captar contornos reais de luz.
Bendita a hora em que Luiz Braga, sem mais clima, sem mais coragem para expor-se aos riscos da violência urbana, foi obrigado a conter seus sonhos de expor a periferia de Belém como um microcosmo da Amazônia e acabou encarando o desafio - e o desejo pessoal - de buscar outras Amazônias nem tão distantes de Belém.
Luiz inaugurou no último sábado, na Sala Valdir Sarubbi, da Casa das Onze Janelas, sua nova exposição, que permanecerá aberta ao público até o dia 29 deste mês de setembro.
É o "Entreato da Luz".
A luz, nos trabalhos que compõem a nova mostra de Luiz Braga, não é mera referência. Não é apenas um elemento adjetivo, acessório, para dar realce ao que as fotografias mostram com maior evidência.
Ela, a luz, é o próprio contorno que demarca realidades ora bem claras - com o perdão trocadilho -, ora latentes, ora apenas sugeridas, ora emanadas de clarões que não se sabe ao certo de onde vêm.
Confira você mesmo, quando for lá, uma peça em que aparece um garoto tendo ao fundo um igarapé.
O garoto é Michel. Luiz atribuiu ao trabalho o título de "Michel no igarapé".
É a síntese desta exposição.
O poster entrou na sala, rodou pra cá, rodou pra lá e sempre voltava, para inebriar-se várias vezes em frente a essa fotografia.
O igarapé que aparece ao fundo, ninguém sabe ao certo se é apenas um reflexo de luz ou é sua própria fonte.
Não se sabe se a luz é que deu realce ao igarapé ou o realce independe de uma certa imagem identificável à primeira vista. Porque o contorno está sob um foco de luz que parece brotar não de uma fonte estranha ao objeto; ao contrário, parece brotar daquela própria imagem.
Vejam a luz que ressai por trás das brumas da noite, numa noite de luar em Salinas.
Vejam a luz que que se insinua nas solidões da Estrada Nova, tendo como testemunha um cachorro deitado em frente a uma casa.
Vejam as luzes que conformam a imagem de Dauana Parente, a linda modelo que embeleza uma série de fotos que emolduram um parede inteirinha da exposição.
Meus caros, vão logo ver a exposição de Luiz Braga.
Vale pelo deleite.
Vale pelo prazer de constatar que Luiz, tangido pelo medo de um ambiente, foi buscar num outro a motivação para ir além do que já fez, sem render-se às espetacularizações e sempre fiel ao seu empenho de mostrar, nas cenas simples - como a da criança com os olhos rebrilhantes, ao saborear um pedaço de melancia -, uma Amazônia que muitos imaginam conhecer, mas não a conhecem.
"Entreato da Luz".
Confiram um pouco no vídeo acima, do próprio Espaço Aberto.

3 comentários:

Anônimo disse...

São realidades distintas. Mas a violência também é gigantesca no interior. Salinas é exemplo disso.

Luiz Braga disse...

Meu caro Paulo, teu texto sensível me fez sentir que minha missão fui cumprida. Ainda sonho com uma Belém possível de conviver. Grande abraço, Luiz

Poster disse...

Caro Luiz,
Então nossos sonhos são comuns.
Vamos contruí-los.
Grande abraço.