sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

O Paulo Gonet do bolsonarismo

Mauro Cid revela aflição em audiência durante a qual foi informado de que seria
preso: delação devastadora é tão ou mais forte do que a oferecida pela PGR ao Supremo

A Procuradoria-Geral da República tem o seu Paulo Gonet, que denunciou ao STF uma corja encabeçada pelo golpista Jair Bolsonaro e mais 33 comparsas, que responderão pelos crimes de de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça, contra o patrimônio da União.

A escumalha bolsonarista, de seu lado, também tem o PGR, tem o seu acusador: o tenente-coronel Mauro Cid.

Se o bolsonarismo negacionista não admite como veraz um linha sequer da denúncia de Gonet, então que se vire nos 30 para desmentir uma outra denúncia, desta vez filmada em todos os seus detalhes, em que Cid destroça, de fio a pavio, o mito de pureza dos fascitas que tramaram um golpe que só não teve êxito porque os golpistas são burros mesmo. Muito burros.

A denúncia de Cid é a sua própria delação, consistente em áudios e vídeos cujos sigilos foram quebrados por determinação do ministro Alexandre de Moraes, que assim permitiu a exposição minuciosa, minudente, circunstanciada e fundamentada de atos dos mais excrementosos praticados por Bolsonaro e sua quadrilha - Cid incluído.

Cid cita nomes.

Cid cita valores.

Cita datas.

Cita horas.

Cita expressões literais que ouviu ou leu.

Cita reações.

Cita tipos de recipientes (como a sacola de vinho em que estava dinheiro para financiar o golpe).

Se o bolsonarismo negacionista quiser uma concessão, concordemos em fazer uma: se dois terços do que Mauro Cid disse em juízo forem uma rematada mentira, ainda assim o terço restante é suficiente, por si só, para meter na cadeia Bolsonar et caterva.

Mas, quanto a mentiras, lembremo-nos, e lembrem-se mais os bolsonaristas, que a delação não obriga o delator apenas a contar tudo o que sabe; também o obriga a dizer e comprovar a verdade, sempre a verdade e somente a verdade. Porque, se mentir, e a mentira for corroborada pela lupa do Judiciário, a delação é anulada e, em consequência, o delator não terá direito a quaisquer benefícios, inclusive, é claro, a redução da pena a que almeja.

Talvez seja pela delação devastadora de Cid que até mesmo muitos bolsonaristas já digam, entredentes, que Bolsonaro pode mesmo esperar, porque a hora dele vai chegar.

A hora de ir para a cadeia, é evidente. Ele e os 33 comparsas, Cid inclusive, mas com pena menor se sua delação for confirmada.

Acompanhemos.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Câmera flagra assalto praticado por quatro bandidos em duas motos, em plena Brás de Aguiar

Nesta Belém que, como eu, tu e todos nós sabemos, é um oásis de paz, tranquilidade, segurança e concórdia, com índices de criminalidade comparáveis aos da Suíça e da Islândia, às vezes - tipo assim, duas ou três vezes ao ano - acontecem coisas das quais até os números e as estatíticas duvidam.

Duas dessas esparsas, muito esparsas mesmo, ocorrências tiveram como palco, na manhã desta quarta-feira (12) os bairros de Nazaré e de Batista Campos, duas áreas tidas e havidas como das mais nobres da Cidade.

Na Brás de Aguiar com a Benjamin, em Nazaré, por volta das 5h30 da madrugada, como você pode ver no vídeo acima, remetido com exclusividade para o Espaço Aberto, as câmeras de um condomínio flagraram quatro bandidos - nem um, nem dois, nem três, mas quatro - se refestelando com duas vítimas.

Primeiro, um rapaz, que sai da Banjamin correndo e, ao entrar na Brás de Aguiar, é alcançado por dois bandidos numa moto - sempre, mas sempre, uma moto na parada.

Enquanto o meliante da garupa, de camisa escura, e o comparsa rendem o rapaz, uma mulher, corredora habitual das madrugadas, que passa na calçada do outro lado rua, perto de um carro branco, é atacada por outra dupla de criminosos que estava também estava numa moto. Não é possível ver muito bem o momento em que ela é assaltada, após atravessar a Benjamin, mas o grupo de corredores que a corredora integra, concentrado na Brás de Aguiar, entre Quintino e Generalíssimo, confirmou que a vítima teve roubados um celular e outro objeto que levava.

A segunda ocorrência criminosa, registrada logo depois, por volta das 9h, na Gentil com a Serzedelo, em Batista Campos, foi testemunhada por um leitor do Espaço Aberto.

Um bandido, que também acabara de roubar o celular de uma mulher, foi flagrado, rendido e espancado por circunstantes que estavam nas imediações do assalto. Depois, bem muquiado, ficou sentado numa calçada, sob a vigilância dos que o renderam, à espera da chegada de um carro da Polícia Militar.

Por hoje, é só.

Aliás, talvez essas sejam as duas únicas ocorrências deste ano, né? Para esta Belém, a nossa ilha de segurança, já está de bom tamanho dois assaltos por ano.

Ora, se está!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025

Helder perdeu. E Rossieli? Cadê o Rossieli?

Helder, o vencido, entre líderes dos professores e dos indígenas, os vencedores. Isso é a política!
(Foto: Marco Santos / Agência Pará)

Em seis anos de mandato, o governador Helder Barbalho chega ao fim da primeira e única grande crise política de sua gestão, que acabou por apontar um, e apenas um, perdedor: o governador Helder Barbalho.

Helder perdeu a queda de braço com indígenas de várias etnias - há 24 dias ocupando pacificamente as instalações da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) - e professores estaduais - em greve desde o dia 23 de janeiro passado - ao ser forçado a fazer exatamente o que os indígenas, primeiro eles, e depois os docentes exigiam: a revogação, simplesmente a revogação, da Lei nº 10.820/2024, votada no apagar das luzes do ano passado e aprovada, sem tugir nem mugir, praticamente à unanimidade, por uma Assembleia Legislativa dócil, submissa, subjugada e reverente ao Executivo.

Deputados: de submissos a heróis

O mais curioso, para não dizer quase surreal, é que vários deputados, agora saudados em vários nichos, com todas as letras, com todos os adjetivos, como hábeis e empoderados articuladores que tiveram participação ativa na construção - como mudernamente se tem dito - de um acordo que deve encerrar as manifestações, pois esses deputados são os mesmos que, dóceis, submissos, subjugados e reverentes, solenemente curvaram o espinhaço e disseram, "sim, senhor", quando aprovaram a mencionada lei sob o aconchego e o conforto do ambiente parlamentar. Isso tudo enquanto, do lado de fora, professores estaduais, até então sem o apoio de lideranças indígenas, enfrentavam policiais militares que usavam spray de pimenta à farta, numa batalha campal travada nas imediações da Alepa.

Mas tudo é política, não tenhamos dúvida. E a política, também sem quaisquer dúvidas, funciona à perfeição para moldar linguagens que, mais do que esconderem, subvertem (em algumas situações, pervertem e degradam) a realidade.

Por isso é que, antes mesmo de construir-se o acordo - pelo qual o governo Helder Barbalho enviará mensagem à Alepa propondo nova lei, que revogará a 10.820/2024 -, tanto já estavam falando por aí que, pelo bem de todos, da felicidade geral da Nação, dos povos indígenas e dos professores estaduais, não haveria vencedores nem vencidos nessa contenda política que, presume-se, vai se encaminhando para um final felicíssimo.

Balela! Mas é evidente, e ponham evidente nisso, que há vencedores, os indígenas e os professores, e vencido, o governo Helder Barbalho. Helder perdeu para si mesmo.

Perdeu para a certeza de que, se conseguiu domar em alto estilo o establishment paraense, aí incluídos, por óbvio, vários segmentos institucionais de poder, poderia domar os indígenas que ocupam a Seduc há quase um mês.

Perdeu para sua inabilidade política de não se dispor a construir uma solução quando os ânimos dos manifestantes ainda não estavam tão acirrados.

Perdeu para sua imprudência de apostar que uma irresignação, digamos assim, paroquial ficaria cinscunscrita aos quadrantes paroquais do Pará.

Perdeu para sua demora em perceber que a demora em encontrar uma solução para as demandas de indígenas e professores naturalmente faria a crise extrapolar para além das divisas do Estado.

Perdeu porque não previu que os indígenas, com talento e habilidade, seriam capazes de usar redes sociais para vincular seus protestos à COP30 que vem por aí, com isso alavancando engajamentos midiáticos em todo o País, e assim deixando nas cordas o próprio Helder, que, sem dúvidas, utiliza muito bem as redes sociais.

Cadê Rossieli?

Os mais renitentes em render-se às evidências de que o governo Helder Barbalho perdeu, e perdeu clamorosamente, haverão de dizer que, se o "revoga, revoga, revoga" foi atendido, por outro lado não foi atendida - ainda não, vale dizer - a outra palavra de ordem de indígenas e professores, o "fora, Rossieli", menção ao exigido afastamento do secretário de Educação, Rossieli Soares.

A exoneração do secretário, formalmente, não faz parte do acordo, porque não mencionada no termo de compromisso assinado nesta quarta-feira (05). Mas, na prática, Rossieli, daqui para a frente, é uma figura impalpável, imperceptível, indistinguível pela visão, pelo tato ou pelo olfato. Ninguém sabe onde ele está, o que faz, como faz e quando faz.

Em vez de "fora, Rossieli", indígenas e professores poderiam, de forma pertinente, perguntar por aí: "cadê Rossieli?". Porque ninguém sabe onde Rossieli está. Desde que, de corpo presente, levou um ralho em regra de indígenas durante uma reunião na Seduc, Rossieli não aparece mais. Sumiu, literalmente. Se não foi exonerado de suas funções, foi demitido, foi ejetado dos espaços públicos. A impressão é de que não põe a cara na janela nem pra ver se vem chuva. E como, neste período, chove em Belém o dia todo e todo dia, o doutor tem que ficar mesmo recluso, mesmo que não saibamos onde está sendo sua reclusão.

E agora? Agora é hora de vencedores e vencidos aprenderem a lição de que, neste mundo fluido, pantanoso, implausível, imprevisível, enganoso e tortuoso da política, vencedores e vencidos nunca podem dormir em berço esplêndido, porque os vencedores de hoje podem ser os vencidos de amanhã. E vice-versa.

É a política, gente. Isso é a política!