segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Mediocridade cotidiana


SERGIO BARRA

Estamos assistindo passivamente à implantação de “reformas” que aumentarão ainda mais a desigualdade social, que no Brasil é gritante. Mas, uma coisa é fato: a corrupção alimenta não só políticos, mas também empresários e uma boa parcela de profissionais liberais. E, como sempre, o povão paga a conta. E o que ganha com isso? O que sempre teve: um gostinho de quero mais. Nossa compilação vivencial é extremamente repetitiva. Chegamos ao ponto de um completo desnorteio, e a tendência é que a monotonia emplaca em nossa rotina. A necessidade é muito grande de suplantar a monotonia e rever as interfaces dos sonhos que se concretiza lentamente dando vida no quase benefício obtido à custa de outrem no nosso cotidiano.
As pessoas ficam extasiadas de ver que até na Suprema Corte há bifurcações, entroncamentos. Há ao que tudo indica um inconformismo de uma minoria que foi assumido por um grupo de promotores, delegados e juízes que resolveu extrapolar seu papel, ignorar o que dizem as leis e se tornar protagonistas. Para uns, puseram-se à caça, para outros e para o governo, criou-se tal anomia institucional que as movimentações desses grupos passam incólumes. Provavelmente, enquanto continuarem a fazer o que lhes der na veneta, ninguém saberá dizer como será a próxima eleição.
Extraordinário é que só agora, no fim do ano, estejam se dando conta da precariedade da aventura que se meteram. Aproxima-se o dia do grande julgamento, o dia do “juízo final”. Da hora da verdade. Para a classe política que soube se lambuzar nos financiamentos ilegais de campanha, que transformou estatais em meras centrais de desvios de recursos para um projeto de poder liderado pelo PT, que estabeleceu uma relação promíscua com empresas privadas, que sistematizou a corrupção estruturada e diabólica, não foi também um monopólio por parte do PT. Mas foi ele quem profissionalizou e incorporou a prática como método de governo. Nunca se viu nada igual – e os brasileiros esperam nunca mais voltar a ver novamente.
Na verdade, a incompetência das elites conservadoras brasileiras é proverbial, mas elas se superam desta feita. Fizeram muita festa e fantasiaram que, depondo o governo petista e proclamando aos quatro ventos da “maior corrupção de todos os tempos”, a sociedade correria para apoiar sua “agenda de mudanças”, quase toda constituída por propostas regressivas e antipopulares. Confiaram essa agenda a um presidente que por duas vezes foi denunciado, ficando aos olhares do povão como desqualificado para exercer a Presidência da República e, cercado por um grupo que há muito os eleitores conheciam e a respeito do qual não podiam ter ilusões. A tese da “maior corrupção” foi soterrada pelas evidências dos ilícitos praticados e a agenda empacou e as expectativas pioraram.
Qual a finalidade do presente relato? Puxar para a ordem do dia o fio do rolo compressor. O Brasil atravessa uma estrada íngreme, cheio de curvas, muitas abertas pelo pelos próprios operadores do Direito. Há, de fato, uma justa expectativa em relação às últimas sessões do STF esse ano. Levará Dias Toffoli ao plenário o processo que trata sobre a restrição ao foro privilegiado? Ao trazer para o seu gabinete o caso, depois que oito integrantes da Corte já haviam se manifestado sobre um tema amadurecido, o ministro deu margem a muitas especulações. Antes do início do recesso judiciário, dia 20, ele pode fazer valer a decisão da maioria, de que deputados e senadores somente devem responder a processos no Supremo se o crime for praticado no exercício do mandato. O Legislativo não votou o tema, desde 23 de novembro, quando Toffoli estranhamente pediu vista. O que se esperava aconteceu: Não trouxe o processo ao plenário quecontinua nos escaninhos do gabinete. Contrariando a posição da maioria do tribunal, provocando insegurança jurídica e perplexidade política.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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