* Maria do Carmo (PT) diz que PMDB é “estratégico”
* Quadro eleitoral em Belém tem reflexos no interior
* “Candidatura do Mário Cardoso também é legítima”
* Prioridade é reforçar aliança com PMDB em Santarém
A prefeita de Santarém, Maria do Carmo Martins Lima (PT), considera que ainda há tempo para que PT e PMDB, representados por suas principais lideranças e pelos pré-candidatos até aqui conhecidos, sentem-se à mesma e procurem conciliar interesses para que possam caminhar unidos, em Belém, nas eleições municipais de outubro.
“Na minha opinião, é indiscutível que o PT e o PMDB devem conversar sobre as composições políticas em Belém, porque a eleição na Capital pode, sim, ter reflexos políticos em todo o interior e também”, diz a prefeita, com a autoridade de petista que administra um município de 174 mil eleitores, o terceiro maior colégio eleitoral do Estado, depois de Belém e Ananindeua.
O
Espaço Aberto conversou com Maria do Carmo, por telefone, no último final de semana. Bastaram cerca de 15 minutos para que a prefeita expusesse com clareza – e franqueza – suas opiniões sobre uma conjuntura eleitoral que mudou de curso nas duas últimas semanas.
Os ventos que, segundo se imaginava, até então sopravam na direção de uma aliança entre PMDB e PT em Belém, mudaram bastante desde a ocorrência de quatro eventos que se sucederam rapidamente.
Primeiro, foi a decisão da deputada estadual Regina Barata, que surpreendeu muita gente ao formalizar perante seu partido, o PT, sua desistência de manter-se pré-candidata e disputar as prévias com seu companheiro, o professor e ex-secretário de Educação Mário Cardoso.
Segundo, a entrevista que
Mário Cardoso concedeu ao
Espaço Aberto, na qual considerou mentirosas as informações divulgadas amplamente – inclusive por outdoors que naquela altura estavam fixados em vários pontos de Belém – pelo pré-candidato do PMDB a prefeito de Belém, o ex-deputado José Priante, de que era o preferido o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sucessão de Duciomar Costa. Além das críticas, Mário Cardoso disse que Priante, a bem da transparência, deveria informar de onde vem o dinheiro que lhe tem permitido promover-se nesta fase pré-eleitoral.
Terceiro, a oficialização, pelo Diretório Municipal do PT, do nome de Mário Cardoso como o pré-candidato a prefeito de Belém e do início efetivo dos debates distritais, reveladores de que a decisão da legenda em sair com candidato próprio não é figuração, segundo reforçou ao blog o vereador e presidente do partido em Belém,
Adalberto Aguiar.
E quarto, o anúncio do deputado federal
Jader Barbalho, presidente regional do PMDB, de que, diante das críticas e acusações de Mário Cardoso e da deliberação do PT de Belém em lançar Mário Cardoso, o ex-deputado José Priante será o candidato peemedebista a prefeito da Capital. E mais: que, ao contrário do que pretende, o PT não merecerá do PMDB nenhum tratamento preferencial em relação a eventuais alianças para o segundo turno.
“O PMDB é importantíssimo, é estratégico”Foi considerando todo esse quadro que Maria do Carmo – que no PT compõe a mesma tendência que o próprio Mário Cardoso e o deputado federal Paulo Rocha – expôs ao blog sua avaliação sobre o presente e o futuro próximo das negociações sobre alianças que precedem o pleito de outubro.
A prefeita considera que o PT precisa reconhecer o papel do PMDB nas eleições de 2006. “Não há como minimizar a importância da aliança que nós, do PT, fizemos com o PMDB. A participação do ex-deputado José Priante foi de fato importantíssima, tanto para a vitória da candidata Ana Júlia ao governo do Estado como do próprio presidente Lula. E o PMDB é importantíssimo, é estratégico, tem importância central não apenas na eleição em Belém, mas em Santarém”, diz Maria.
Ela não considera que seja obstáculo o fato de que tanto o PT como o PMDB em Belém já terem definido os nomes de Mário Cardoso e José Priante, respectivamente, como pré-candidatos à prefeitura. “Não vejo isso como impedimento, porque nós precisamos pensar nesse assunto estrategicamente, sem predisposições pessoais. Devemos pensar partidariamente”, pondera Maria do Carmo.
A prefeita de Santarém avalia muito mais como a expressão de “posições pessoais” os juízos e as avaliações formulados pelo professor e ex-deputado Mário Cardoso na entrevista que deu ao Espaço Aberto. “O Mário é um grande companheiro. É um companheiro dos mais valorosos. E acho também que é absolutamente legítima a pretensão do nosso partido em Belém de ter uma candidatura própria. Da mesma forma, é legítimo que o PMDB almeje apresentar candidatura própria. Mas a conjuntura, analisada de uma forma bem mais ampla, demonstra que precisamos deixar de lado questões pessoais e avaliarmos o que é melhor para nós, em proveito de projetos políticos mais abrangentes”, diz Maria do Carmo.
Ela só identifica um ponto positivo no fato de PT e PMDB caminharem separados em Belém. “Se cada partido realmente sair com candidatura própria, é claro que aumentam as chances de um deles pelo menos passar para o segundo turno. Em outra hipótese, se os dois partidos se unissem, o destino deles seria um só: se ganhassem, tudo bem; mas se perdessem, também perderiam juntos”, especula a prefeitura.
Nesse contexto, ela até admite que PT e PMDB pudessem apresentar candidaturas próprias – e separadas, portanto – às eleições de outubro, desde que isso obedecesse a uma orientação estratégica, conjunta, afinada entre as duas agremiações, para conquistarem a Prefeitura de Belém. Mas no ritmo em que avança a carruagem, puxada por PT e PMDB querendo tomar diferentes, Maria do Carmo considera que os caminhos a serem percorridos dessa forma podem não ser favoráveis tanto a petistas como a peemedebistas em Belém, com reflexos no interior do Estado.
Aliança ampliada em Santarém
Maria do Carmo enfatizou que ao contrário de Belém, onde arranhões e confrontos parecem ter abalado irremediavelmente a convivência entre PT e PMDB, em Santarém a convivência entre os dois partidos mantém-se – conforme assegura – tão cristalinas como as águas do Rio Tapajós que banham a cidade.
“Nossa prioridade aqui em Santarém é reforçar a aliança com o PMDB. Temos tido um ótimo relacionamento com o PMDB, através do deputado Antônio Rocha, que não tem nos faltado com seu apoio. O PDT e o PSB também têm nos ajudado bastante a consolidar uma aliança que garanta a nossa reeleição”, afirma a prefeita, que em 2004 chegou ao governo municipal com 60,3 mil votos, 45,1% da votação válida naquele pleito.
Aos partidos que se aliaram ao PT em Santarém nas eleições de 2004 – PDT, PSB, PPS e PCdoB -, Maria do Carmo diz que tem se empenhado em ampliar o arco de apoios para incluir não apenas o PMDB, mas o Partido Republicano (PR), do ex-deputado Anivaldo Vale, o PSC, o PMN e o PP, além do PTB.
Justamente o PTB, que em Belém é encarnado pelo prefeito Duciomar Costa e já foi mencionado pelo presidente municipal do PT em Belém, vereador Adalberto Aguiar, como um dos três partidos com os quais os petistas não admitem qualquer negociação visando alianças. Os outros dois são o PSDB e o DEM.
Maria do Carmo considera que uma aliança como a que pretende formar poderá garantir melhores condições e melhor respaldo eleitoral para lhe garantir mais quatro anos de mandato à frente da Prefeitura de Santarém.