domingo, 28 de abril de 2019

Lula chama governo Bolsonaro de "bando de maluco"



Lula falou, nesta sexta-feira (27), por 1 hora e 54 minutos aos jornalistas Mônica Bergamo, da Folha, e Florestan Fernandes Jr., de El País.
A entrevista é histórica, por ter sido a primeira que o ex-presidente concede na Polícia Federal de Curitiba, onde está preso desde 7 de abril de 2018.
Bem disposto, apesar dos reveses que o abalaram ultimamente, sobretudo as mortes do irmão Vavá e do neto Arthur, o ex-presidente estava com a língua afiada.
Lula atacou duramente o governo Bolsonaro, ao qual classificou como "bando de maluco", disse que Paulo Guedes, ministro da Economia, é o executor de uma crueldade contra os trabalhadores, sobretudo os mais idosos, ao propor mudanças nas regras de aposentadoria, insistiu na tese de que seu julgamento, em todas as instâncias, não passa de uma farsa, e chamou de "lacaios" o presidente e seus aliados, pelos atos de subserviência explícita aos Estados Unidos.
Lula não resistiu à emoção quando se referiu à morte do neto e reforçou sua convicção de que a morte da mulher, Marisa, vítima de um AVC em fevereiro de 2017, decorreu da enorme pressão diante das acusações do Ministério Público Federal (MPF) de que ela e familiares foram partícipes de atos de corrupção.
O Espaço Aberto editou este vídeo de 9 minutos com os principais momentos da entrevista.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Como é que os jovens brasileiros são idealizados pelo censor Jair Bolsonaro?



Bolsonaro, o não-intervencionista, interveio na Petrobras e fez o patrimônio da estatal derreter R$ 32,4 bilhões em poucas horas, abalando a confiança de investidores.
Bolsonaro, o não-intervencionista, jogou pelo ralo uma peça publicitária institucional do Banco do Brasil, ao vetar a continuidade de sua veiculação, que já vinha sendo feita há duas semanas. Custo do veto: R$ 17 milhões.
O que se discute não é apenas o despropósito, a irracionalidade e a patranha do discurso não-intervencionista, mas que revela práticas escancaradamente, desbragadamente, escandalosamente intervencionistas.
Discutem-se também o sentido político e os valores que sobressaem dessas decisões.
Bolsonaro, o não-intervencionista, interveio na Petrobras porque, está claro, o governo tornou-se refém de caminhoneiros que estão num pé e noutro para fazer nova greve e paralisar o País, como aconteceu durante o governo Temer.
Bolsonaro, o não-intervencionista, interveio no Banco do Brasil para demarcar claramente as lindes, os limites de suas peias morais.
A peça publicitária vetada é ótima.
Atende perfeitamente aos objetivos da campanha - atrair jovens para se tornarem clientes do BB.
Mostra jovens de hoje - brancos, negros, tatuados, com visuais e performances, como eles dizem, descolados.
Esses são os jovens do Brasil.
Os jovens de um Brasil diverso, plúrimo, diversificado.
Mas, afinal, os jovens desse Brasil são os mesmos jovens idealizados pelo presidente que se diz de todos os brasileiros?
É isso mesmo?
Falem sério!

Em São Brás, as imagens do trânsito caótico em Belém


Converso com amigos paulistas que visitaram Belém recentemente.
Eles se mostram estupefatos, espantados, surpresos com o caos - verdadeiramente um caos - que é o trânsito na cidade.
Consideram ser inacreditável a frequência, o hábito, a mania de motoristas fecharem os cruzamentos, por exemplo.
Afirmam que, das capitais brasileiras que já conhecem, Belém é uma das poucas onde mais se estaciona em fila dupla, sobretudo à porta de colégios.
A realidade os confirma.
A realidade demonstra, à exaustão, que essa avaliação sobre o trânsito na cidade não é uma viagem, não é uma percepção errônea ou equivocada.
É, repita-se, a constatação de uma realidade que se agrava a cada dia.
Ao ponto de vermos cenas como esta do vídeo, em que uma senhora desceu da moto e passou a orientar o trânsito na Avenida Almirante Barroso com a Travessa Antônio Baena, em São Brás.
Que coisa!

Na saudação a Biden, Trump degrada os valores democráticos americanos


Joe Biden, enfim, anunciou sua pré-candidatura à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata.
É um político respeitado.
Tem mais de 40 anos de vida pública, oito dos quais como vice de Obama.
Quando Biden anunciou que estará na liça eleitoral, o presidente Donald Trump postou um tuíte de boas-vindas.
"Bem-vindo à corrida, Joe Dorminhoco", escreveu o homem mais poderoso do planeta.
O mais poderoso e o mais debochado que já presidiu a maior democracia do planeta.
O mais poderoso e o mais preconceituoso.
O mais poderoso e o menos lúcido.
O mais poderoso e o mais autoritário (um perfil autoritário que, felizmente, é contido pelas sólidas instituições democráticas americanas).
O mais poderoso e o que mais envilece a respeitabilidade do cargo que ocupa, ao fazer de uma rede social como o Twitter seu palco iluminado de onde para proclama despautérios todo dia, o dia todo.
Os Estados Unidos não merecem Donald Trump como presidente da República.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Violência no Pará (I): em três meses de governo Helder Barbalho, mais de 110 suspeitos “mortos em confronto com a polícia”


Reduzir – e reduzir rapidamente – a escalada da violência devastadora, que nos últimos anos transformou os paraenses em reféns do banditismo avassalador, foi um dos motes de campanha de Helder Barbalho (MDB).
Após assumir o governo, em 1º de janeiro deste ano, Helder tem-se empenhado em apresentar durante aparições regulares, ao lado de seu estafe da Segurança Pública, números que indicariam a redução do índice de criminalidade em todo o Pará, sobretudo os ilícitos considerados mais pesados, como homicídios dolosos e latrocínios (roubo seguido de morte).
O balanço mais recente divulgado no dia 4 de abril, pela Segurança Pública do governo Helder Barbalho, aponta que, no mês de março passado, o número de homicídios em todo o estado caiu 17%, em comparação ao mês de março de 2018.
A diminuição desses índices “representa a preservação de 47 vidas, visto que o número deste tipo de crime caiu de 282 mortes em 2018 para 235 ocorrências este ano. Essa é a segunda redução de homicídios mais significativa registrada no mês de março desde 2010”, informa matéria disponível na Agência Pará.
Mas há números faltando nessas estatísticas. Como os relativos, por exemplo, ao número de “suspeitos mortos em confronto com a polícia”, expressão que o jargão jornalístico incorporou e se tornou tão banal, mas tão banal, que os próprios jornalistas, seja em entrevistas coletivas, seja em apurações rotineiras sobre ocorrências pontuais, nem mais se dão ao trabalho de apurar a fundo os detalhes desses alegados “confrontos”, como também raramente procuram levantar periodicamente a quantidade de suspeitos que morrem em tiroteios que a polícia diz ter travado para reagir à resistência oposta por suspeitos durante uma diligência.

111 mortos em três meses
Matéria do DOL: sete mortos no Acará, em fevereiro
Com base em levantamentos de notícias publicadas – ora com mais, ora com menos destaque – pelos jornais O LIBERAL e Diário do Pará e em mídias virtuais, no período de 1º de janeiro a 31 de março de 2019, os três primeiros meses do governo Helder Barbalho, o Espaço Aberto apurou, com exclusividade, que pelo menos 111 pessoas foram mortas em “confrontos com policiais”. Esse número, vale destacar, está muito aquém da realidade, porque não se pode precisar quantas mortes ocorreram em circunstâncias alegadamente idênticas a essa e que a polícia não divulga, muitas vezes porque não lhe é conveniente divulgar.
Ao final de janeiro, primeiro mês do governo Helder Barbalho, foram registradas as mortes de 35 suspeitos, de acordo com o levantamento do blog. Em fevereiro, houve 38 ocorrências, mesmo número de março.
No trimestre considerado pela apuração do Espaço Aberto, a diligência policial que resultou em maior número de mortos em confronto ocorreu no dia 5 de fevereiro, quando sete homens, suspeitos de integrar uma quadrilha de assalto a bandos, foram mortos em “confronto com a PM” no município de Acará, região nordeste do Pará. Leia-se matéria disponível no DOL, site do Diário do Pará:

Sete assaltantes que pretendiam assaltar duas agências bancárias, na cidade de Acará, nordeste paraense, morreram durante troca de tiros com a Polícia Civil, nesta terça-feira (05).
De acordo com informações da Polícia Civil, a operação foi deflagrada para prender integrantes de uma associação criminosa que planejava assaltar as agências bancárias. O grupo de assaltantes foi abordado no momento em que trafegava em uma estrada vicinal, na zona rural do município, de onde seguiriam para a sede da cidade para cometer o assalto. No momento da abordagem policial, os criminosos efetuaram disparos contra os policiais civis que revidaram aos tiros e atingiram inicialmente quatro suspeitos. Eles ainda chegaram a ser socorridos, mas não resistiram. Outros três suspeitos foram baleados e também morreram.

Matérias do G1 Pará: seis mortos numa madrugada de janeiro
Na madrugada de sábado, 12 de janeiro, coincidentemente dia do aniversário de Belém, seis pessoas foram em confrontos com a polícia, quatro durante perseguição no bairro de Batista Campos, duas durante troca de tiros com policiais militares no Conjunto Cordeiro de Farias:

Trecho da matéria do G1 sobre o tiroteio em Batista Campos:

De acordo com a PM, um homem teria sido sequestrado no bairro da Pedreira e conduzido no próprio veículo pelos quatro criminosos. Informações repassadas por familiares da vítima ao Centro Integrado de Operações (Ciop) possibilitaram que o carro fosse interceptado por equipes da PM na rua São Francisco com a avenida Almirante Tamandaré, onde ocorreu uma troca de tiros.
No confronto com a polícia, os quatro criminosos foram alvejados e morreram no local. O homem feito refém foi resgatado pela PM e não sofreu lesões graves.
Dois policiais militares foram atingidos durante a troca de tiros e socorridos para um hospital particular, no bairro Batista Campos. Um dos PMs baleados foi o cabo Denis Miranda, do 20º Batalhão. Ele foi atingido de raspão na mão, sem gravidade.

Trecho da matéria do G1 sobre as mortes de suspeitos no Cordeiro de Farias:

De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos, armados e utilizando-se de uma motocicleta, tentaram efetuar um roubo à um comércio no conjunto Cordeiro de Farias. Mas, o assalto foi frustrado por um homem, não identificado, que teria reagido e trocado tiros com os suspeitos.
Os criminosos tentaram então fugir, porém, foram interceptados por duas equipes da polícia militar, que estavam fazendo rondas às proximidades e perceberam a movimentação. Ainda segundo a PM, os assaltantes dispararam contra as viaturas e os policiais reagiram à agressão.

Violência no Pará (II): governo Helder Barbalho silencia sobre os autos de resistência lavrados em 3 meses

Helder Barbalho: números da redução da violência excluem os autos de resistência (foto da Agência Pará)
Transparente, frequente e insistente em divulgar números que apontam a redução da violência no estado depois que assumiu o comando do estado, a partir de 1º de janeiro deste ano, o governo Helder Barbalho tem-se mostrado relutante em divulgar os números relativos aos autos de resistência (que registram mortes em confrontos com a polícia) lavrados durante o primeiro trimestre deste ano.
No dia 11 de abril, portanto há cerca de uma semana, o Espaço Aberto enviou o seguinte e-mail (imagem ao lado) à Secretaria de Segurança Pública e à Casa Civil do governo Helder Barbalho:

Prezados, bom dia.
Sou jornalista e tenho um blog, o Espaço Aberto.
Pretendo fazer postagem, nesta sexta-feira (12.04), mostrando dados que o governo do estado tem apresentado sobre a redução da violência, nestes primeiros três meses, e confrontá-los com o número de bandidos (ou suspeitos, se quiserem) mortos em confrontos com a PM no mesmo período.
Fiz um levantamento, baseado apenas em matérias divulgadas em jornais e em mídias sociais.
Pelos números que colhi, 111 pessoas foram mortas em confrontos com a PM, de janeiro a março deste ano (números em anexo).
Pergunto:
1. Quantos autos de resistência foram lavrados no primeiro trimestre deste ano?
2. Quantos autos de resistências foram lavrados no trimestre imediatamente anterior (de outubro/dezembro 2018) ou no primeiro trimestre de 2018 (janeiro/março)?
Desde logo, além de ficar no aguardo das duas perguntas formuladas, também fico à disposição para contato, pessoal ou por telefone, com qualquer autoridade da área de Segurança Pública que deseje comentar esses números e apresentar o posicionamento do governo do Estado.
Informo ainda que apresentarei questionamentos à OAB sobre o assunto.

Até esta sexta-feira (19), o governo Helder Barbalho não se pronunciou sobre os questionamentos do blog, nem mesmo para dizer, clara e objetivamente, que não forneceria os dados. Simplesmente, tanto a Segurança Pública como a Casa Civil silenciaram sobre o assunto.
O Espaço Aberto ainda aguarda o pronunciamento da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, através de sua Comissão de Direitos Humanos e Cidadania.
Diante do silêncio, o governo do Estado nos oferece a senha para especularmos sobre as motivações de recusar-se a fornecer informação que, no contexto da abordagem de matéria jornalística, tem relevância fundamental, eis que de inquestionável interesse público.
Nesse caso, a especulação é não apenas procedente como legítima, porque decorrente do desprezo do Poder Público em oferecer números consistentes, que, se divulgados de forma transparente, aí sim, não permitiriam quaisquer especulações).
A primeira especulação é de que o número de autos de resistência teria alcançado um patamar tão elevado que poderia impactar negativamente as estatísticas que o estado vem apresentando sobre a redução da violência na Grande Belém e no estado.
A segunda especulação decorre da própria natureza dos autos de resistência e as polêmicas intermináveis suscitadas pelo fato de que seriam, a rigor, um álibi formal para que as forças repressivas no estado, no exercício legal e legítimo de suas atribuições, eventualmente se excedessem criminosamente, executando suspeitos mesmo quando não oferecessem qualquer resistência à prisão.

Violência no Pará (III): Estado aparece entre os cinco em que o número de mortos por policiais variou mais de 50% em um ano



O levantamento exclusivo do Espaço Aberto, indicando, com base em matérias jornalísticas, que 111 pessoas morreram “em confronto com a polícia” no primeiro trimestre do governo Helder Barbalho, está sendo apresentado no mesmo momento em que os novos números do Monitor da Violência, do portal G1, divulgados nesta sexta-feira (19), mostram um crescimento de 18% do número de pessoas mortas pela polícia em 2018, ano que houve redução na quantidade de policiais mortos em serviço.
No ano passado, e nos três anos anteriores (2015/2017) alcançados pela pesquisa do Monitor do Violência, o governador do Pará, reeleito, era o tucano Simão Jatene.
Em apenas um ano, de acordo com o Monitor da Violência, o número de pessoas mortas por policiais teve variação superior a 50% no Pará e em apenas mais quatro estados: Roraima, Mato Grosso, Goiás e Sergipe. Em Roraima, por exemplo, oito pessoas foram mortas por policiais em 2017. Em 2018, esse número foi três vezes maior: 25 mortos por policiais.
Já no Pará, diz o G1, “os dados de letalidade policial também são surpreendentes: 372 em 2017 e 612 em 2018. Um dos mortos foi Adriano da Silva Brandão, considerado um dos maiores assaltantes a banco do país, baleado em troca de tiros com a polícia em dezembro de 2018. Ele estava com um fuzil AK-47, segundo a polícia, e reagiu à prisão.
Em Goiás, foram 265 pessoas mortas por policiais em 2017. Em 2018, foram 425. No mesmo período, os números de Sergipe pularam de 90 para 144.”

Violência no Pará (IV): Auto de resistência, instituído pela ditadura, também é usado como álibi em ações policiais



Instituído durante a ditadura militar, em 1969, o auto de resistência é peça meramente informativa, em que o agente de segurança relata minuciosamente os fatos ocorridos, após ocorrência em que uma pessoa oferecer resistência não passiva a uma prisão em flagrante ou por mandado judicial,.
Tal procedimento, atualmente, segue o previsto no artigo 292 do Código Penal, que diz o seguinte, in verbis: “Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à prisão em flagrante ou à determinação por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.”
Em maio de 2017, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou o PLS 239/2016, que altera o Código de Processo Penal (CPP), suprimindo do artigo 292 o chamado "auto de resistência". A nova redação também deixa claro que os agentes do Estado poderão usar, moderadamente, dos meios necessários para defender-se ou para vencer a resistência à prisão. Havendo feridos ou mortos no confronto com as forças de segurança, será instaurado inquérito.
Mais recentemente, o pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, atirou mais lenha na fogueira de polêmicas sobre o auto de resistência, ao ponto de juristas estarem sustentando que a proposta legislativa contemplaria uma espécie de licença para matar.
Tudo porque o projeto de Moro propõe permitir que o juiz deixe de aplicar a pena por excesso de legítima defesa caso o crime tenha sido cometido em decorrência de "escusável medo, surpresa ou violenta emoção”.
O projeto acrescenta um parágrafo 2º ao artigo 23 do Código Penal. O caput diz que não há crime se o homicídio foi cometido em legítima defesa - a chamada "excludente de ilicitude". O parágrafo único diz que o autor responderá por homicídio caso se exceda no exercício do direito de defesa. A nova redação do parágrafo 2º do artigo 23 ficaria assim: “O juiz poderá reduzir a pena até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção”.
Como se sabe que as funções inerentes à atividade policial deflagram rotineiramente – e, reconheça-se, inevitavelmente – violentas emoções, esse dispositivo seria uma alternativa a mais para policiais escaparem de punições. A possibilidade de aprovação desse dispositivo justifica fortes receios, quando se confrontam os números de assassinatos cometidos no Brasil “sob violenta emoção”.
A Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp) e o Conselho Nacional do Ministério Público fizeram estudo mostrando que, entre 2011 e 2012, os homicídios por impulso ou por motivos fúteis totalizaram entre 25% e 80% dos assassinatos com causas identificadas no Brasil, a depender do estado.
No Rio de Janeiro, 31,2% dos homicídios registrados 2015 decorreram de "relações interpessoais", segundo estudo Instituto de Segurança Pública (ISP). Em Minas Gerais, 57% dos inquéritos por homicídio concluídos em Belo Horizonte entre 2012 e 2013 tinham como motivo rivalidade (27,8%), causa passional (12,9%), desentendimento (10,3%) ou vingança (6,2%).

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Mudanças na direção do Detran. Espaço Aberto adiantou há 11 dias.


O Diário Oficial do Estado publica na próxima segunda-feira, dia 22, o ato de exoneração do diretor-geral do Detran, João Guilherme Cavaleiro de Macedo.
Há 11 dias, precisamente no dia 7 de abril, o Espaço Aberto adiantou que eram iminentes mudanças na direção do órgão.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

Ou o Supremo nos salva da censura ou teremos que nos mudar para o Brasil


Não nos desesperemos tanto assim como esse atentado à liberdade de expressão que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, acaba de cometer contra o site O Antagonista e sua revista, a Crusoé, compelindo-os a suprimir dos meios virtuais reportagem revelando ser o presidente do STF, Dias Toffoli, o Amigo do Amigo do meu Pai, conforme expressão usada pelo empresário Marcelo Odebrecht, em processo de delação.
Por que não devemos nos desesperar?
Porque essa decisão, muito embora esdrúxula, inconstitucional e ofensiva à liberdade de Imprensa, pilar de qualquer democracia que se preze, foi monocrática, individual, isolada, solitária.
Foi de Alexandre de Moraes.
E Alexandre de Moraes é do Supremo.
Mas ele não é o Supremo.
Como os atingidos já recorreram ao Pleno do STF, teremos um maravilhoso embate nessa instância.
O confronto será Supremo x Supremo.
No plenário será a hora da verdade.
No plenário é que teremos o excelso momento em que o Supremo, como instituição, poderá firmar, ou não, seus julgados e sua jurisprudência sobre casos envolvendo a liberdade de expressão.
E vamos e convenhamos: pelo histórico do Supremo em casos semelhantes, não há a menor possibilidade de que essa censura odiosa se sustente.
Agora, se o plenário respaldar essa hediondez cometida por Alexandre de Moraes, a pedido de Dia Toffoli, só nos resta pegar a mochila e nos mudar para o Brasil, este país democrática, tolerante e recantos das mais caras liberdades.
Porque, aqui na Suíça, seria insuportável viver sob o tacão do retrocesso e do obscurantismo.

“Estão praticando um terrorismo contra a população brasileira”, diz jurista sobre censura do Supremo



Do jurista Modesto Carvalhosa, sobre a censura do Supremo à liberdade de Imprensa:

“Toffoli e Moraes cometem vários crimes do código penal. O primeiro deles é o constrangimento ilegal. No exercício de sua função pública, eles estão cometendo violência, invadindo domicílios sob o pretexto de apreender documentos, fazendo censura, aplicando multas contra a imprensa, sobretudo eles estão praticando um terrorismo contra a população brasileira.”
[...]
“Os crimes que Toffoli diz que foram praticados são de injúria, difamação e calúnia, crimes de ação privada, não de ação pública. Numa ação privada, deve-se entrar em juízo para que se possa fazer uma audiência de retratação do veículo [de imprensa], ou dar continuidade ao processo.”

Cármen Lúcia: "Todo censor é um pequeno ditador"




“Sem a imprensa livre, a Justiça não funciona bem, o Estado não funciona bem.”
[...]
"Todo censor é um pequeno ditador."
[...]
“Quem não tem direito livre à própria liberdade de expressão não tem garantia de qualquer outro direito, porque palavra é a expressão da sua alma, do seu pensamento.”

Ayres Britto: "Ou a liberdade de imprensa é completa ou é um arremedo de liberdade”



Do ministro aposentado do Supremo Ayres Britto, relator da ação que derrubou a antiga Lei de Imprensa, editada no regime militar:

“A Constituição não diz ‘é livre’, diz ‘é plena a liberdade de informação jornalística’. Então é um sobredireito. E o pleno é íntegro, é cheio, é compacto, não é pela metade. Então, ou a liberdade de imprensa é completa, cheia, íntegra, ou é um arremedo de liberdade de imprensa. É uma contrafação jurídica”.

Bolsonaro, que se reconhece um ignorante em economia, pode "derreter" a Petrobras?


Quanto mais tentamos entender o Capitão, mais e mais as decisões, condutas e atitudes do Capitão desafiam a nossa inteligência.
No dia em que interveio - sim, isso mesmo, interveio - na Petrobras, por meio de um simples telefonema que levou a petroleira a segurar o reajuste de 5,7% no preço do diesel, o Capitão disse que fez isso porque não entende de economia e queria explicações sobre o modelo de reajustes de combustíveis.
Com essa autoconfessada ignorância, a Petrobras derreteu R$ 32,4 bilhões em poucas horas.
Pergunta-se: mas justamente porque se reconhece como um ignorante, um imbecil, um quadrúpede em economia, o Capitão não deveria ter evitado fazer o que fez, consultando primeiro seu ministro Posto Ipiranga, Paulo Guedes, antes de intervir por telefone na Petrobras?
Quem nos ajuda a entender o Capitão?

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Empresas de ônibus devem encontrar um novo mimimi. O que usam é muito antigo.


Empresas de transporte coletivo de Belém deveriam contar outra, todas as vezes em que a tarifa aumenta.
O que contam sempre?
Que a capacidade de investimentos das empresas está abalada porque, há várias décadas, o número de passageiros vem decrescendo, o número de gratuidades está aumentando e não sobra dinheiro para a renovação da frota.
É conversa fiada.
O modelo de concessão de transporte público em Belém está ultrapassado.
Se as empresas se sentem lesadas, elas próprias já deveriam ter se mobilizado para alterar, com a anuência do Poder Público, o modelo do transporte de concessão, de forma a premiar a qualidade dos serviços, do que decorreriam efeitos positivos para os usuários e para as próprias empresas, que visam, é claro, o lucro.
Se não o fazem, é porque: 1. O atualmente modelo, no mínimo, contempla suas expectativas; 2. Sabem que um novo modelo deverá impor, necessariamente, a renovação da frota e requalificação dos serviços prestados.
Então, vigora aquela velha máxima: vamos deixar como está pra ver como é que fica.
E o que fica é o que vamos sempre.
Um serviço de péssima qualidade.
Usuários mofando nas paradas.
Veículos sujos.
Veículos caindo aos pedaços.
Veículos no prego.
Até quando?

Celpa sofre nova derrota judicial e está proibida de cobrar dívidas antigas dos consumidores nas faturas mensais


A 2ª Vara da Justiça Federal em Belém concedeu mais uma liminar contra as Centrais Elétricas do Pará (Celpa), respondendo aos esforços do grupo de promotores de Justiça, procuradores da República e defensores públicos do Estado e da União para coibir os abusos da concessionária de energia contra os consumidores paraenses. A decisão, assinada pela juíza Hind Kayath, proíbe a empresa de cobrar dívidas antigas (anteriores a 90 dias) dos consumidores nas faturas mensais e também impede a prática irregular de notificar os usuários sobre débitos mesmo quando o titular da conta não está presente na residência.
A decisão suspende trechos da Resolução nº 414/2010, da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), nos quais a Celpa se apoiava para cometer as irregularidades. Para a juíza, ao permitir que as pessoas fossem notificadas sobre dívidas, com ameaça de corte de energia, sem a presença do titular da conta, a Aneel violou direitos garantidos no Código de Defesa do Consumidor. A liminar também proíbe a concessionária de incluir nas faturas mensais débitos antigos, anteriores ao prazo de 90 dias que foi estabelecido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), como limite para esse tipo de cobranças.
A liminar negou um dos pedidos feitos pelas instituições que investigam a Celpa, de maior transparência no detalhamento dos débitos nas contas elétricas. Para a juíza, os documentos anexados não oferecem prova suficiente disso, mas o ponto poderá ser comprovado ao longo da tramitação do processo judicial. Essa é a segunda decisão favorável ao grupo de trabalho formado pelo Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública do Estado do Pará (DPE). No total, eles ajuizaram três ações contra a empresa e a Aneel. ,
O defensor público Cássio Bitar, que coordena o Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria do Estado do Pará, afirmou que a desvinculação dos parcelamentos da fatura mensal de consumo é uma luta antiga do Nudecon gerando a propositura de centenas de ações individuais. “Felizmente o Poder Judiciário Federal reconheceu a violação na conduta e acatou nossos argumentos. Também merece destaque a decisão da obrigatoriedade da presença do titular da conta contrato por ocasião da lavratura do TOI. Não raras vezes atendemos assistidos questionando a inspeção da empresa na presença de desconhecidos o que fere os princípios básicos da relação consumerista", disse.
No que diz respeito ao chamado TOI (Termo de Ocorrência de Inspeção), a Justiça Federal considerou que os artigos 129 a 133 da Resolução 414/2010 da Aneel, que preveem procedimento a ser adotado em caso de constatação de irregularidade no consumo da energia elétrica, deixam de definir quem poderia acompanhar a inspeção, “deixando margem para que qualquer pessoa exerça tal papel, ainda que não seja conhecida do titular da conta contrato ou não guarde qualquer relação com o consumidor”.
“Penso que tal procedimento viola as disposições protetivas do Código de Defesa do Consumidor, na medida em que possibilita que a concessionária realize a inspeção e conclua pela existência de consumo não faturado, do ilícito, portanto, sem que o titular da conta contrato tenha conhecimento do procedimento, quiçá que o acompanhe, caracterizando procedimento unilateral, vedado pelo STJ”, diz a juíza na decisão.
Sobre a inclusão nas faturas mensais de débitos antigos, com ameaça de corte de energia, prática comum da Celpa com os consumidores paraenses, a Justiça considerou que é uma maneira “transversa” de violar a jurisprudência do STJ que proíbe a suspensão de fornecimento para débitos anteriores a 90 dias. “Em termos práticos, a Celpa, em manifesta ofensa a autoridade da decisão do STJ, vem utilizando-se do instrumento de corte de fornecimento em caso de não pagamento de débitos pretéritos (vencidos a mais de 90 dias), por meio da inclusão destes nas faturas mensais ordinárias”, diz a liminar.
Entenda o caso – Na última semana de março de 2019, após quatro meses de investigações, um grupo de procuradores da República, promotores de Justiça e defensores públicos federais e estaduais ingressou com três ações judiciais buscando corrigir abusos e irregularidades cometidos pela Celpa contra dois milhões de usuários de energia elétrica no Pará.
Os processos pedem um total de R$ 20 milhões em indenização por danos sociais e buscam a suspensão imediata de práticas abusivas da empresa contra os consumidores paraenses: foram constatadas cobranças excessivas, cortes irregulares de energia, falta de transparência nas contas e até enriquecimento ilícito. A Aneel também é ré nos processos que tramitam na esfera federal, por ter permitido as práticas ilegais da concessionária.
Processo nº 1001345-89.2019.4.01.3900

A vida por um fio. Ou por um perna.


A foto é do Espaço Aberto.
Foi feita no último sábado (13), por volta das 12h.
No sexto andar de um edifício, na Travessa Benjamin Constant, um mecânico tenta consertar um ar-condicionado com uma das pernas apoiada na caixa do aparelho.
Se a caixa cedesse e despencasse, já eram a própria caixa, o ar-condicionado e, por último mas não menos importante, uma vida humana.
Em circunstâncias como essa, em que os riscos inerentes a uma atividade profissional exigem seguir regras de segurança rigorosas, por que ignorá-las? Por que não segui-las?

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Dezesseis veículos de aplicativos de transporte já foram roubados em cinco dias em Belém



Do último domingo (07) até esta quinta-feira (10), 16 veículos de aplicativos de transporte já foram assaltados na Região Metropolitana de Belém.
A informação é de Juan Santos, motorista que integra o Rádio Zelo, aplicativo que já reúne cerca de 1.300 profissionais da Uber e da 99 e tem servido como um canal de voz - disponível nos próprios telefones celulares - em que os membros do grupo trocam informações em tempo real, sobretudo em relação a temas envolvendo a segurança da categoria.
O caso mais recente de carro roubado aconteceu na manhã desta quinta-feira. “O colega foi encontrado num ramal de Santa Isabel do Pará, em área de mata fechada. O assalto ocorreu por volta das 7h da manhã, na Travessa Piedae, e só umas três horas depois é que ele foi resgatado por um outro colega nosso que roda em Benevides”, contou Juan Santos ao Espaço Aberto.
Ele diz que os bandidos estão usando celulares roubados para praticar os assaltos e levar os carros para os desmanches, oficinas que praticamente desmontam veículos para comercializar as peças, em conluio com criminosos.
Juan diz ainda que a maioria dos assaltos está sendo praticada nas áreas mais centrais de Belém. “Por incrível que pareça, os assaltos estão ocorrendo no centro de Belém”, afirma o motorista.
Ouça os áudios.

Nem amigo, nem inimigo



A nota está em O Antagonista.
E revela que o Capitão deve estar fazendo uma grande confusão que precisa logo ser desfeita, quem sabe, por seu guru Olavo de Carvalho, este monumento à lucidez intelectual.
É que a Imprensa, Capitão, não o quer como amigo. E nem como inimigo.
A Imprensa o quer como presidente, "talkey"?
Apenas isso!

SOS Ver-o-Peso


Por FRANCISCO SIDOU - jornalista

Circulam nas redes sociais notícias dando conta que a orla do Ver-o-Peso estaria cedendo pelo menos 10 centímetros.
A notícia não traz dados técnicos nem pareceres de especialistas. Mas merece ser apurada. Seria de todo conveniente que a Prefeitura de Belém, via Seurb, mandasse seus técnicos avaliar os impactos dos últimos alagamentos e as estruturas que sustentam o Complexo do Ver-o-Peso, tombado como patrimônio da Humanidade.
Lembro que o eminente engenheiro e urbanista paraense Nagib Charone já vem alertando há anos sobre a necessidade de desvio do pesado tráfego de veículos pesados do entorno do Ver-o-Peso, que poderia sofrer também os efeitos do fenômeno das "terras caídas", a exemplo do que ocorreu com a orla de Abaetetuba, que ruiu causando grandes transtornos, perdas e vidas. Nagib é o craque do time de "bradadores" no deserto de ideias e projetos para Belém, do qual também faço parte.
Belém é a única metrópole brasileira onde os veículos transitam pelas ruas do comércio e o centro histórico da cidade. Em todas as outras já foram feitas calçadas arborizadas permitindo-se a passagem apenas de pedestres.
Há mais de 20 anos que clamo no deserto com a ideia de se construir um Terminal de Integração na Praça Waldemar Henrique, até onde iriam os ônibus de todas as linhas que demandam, sem necessidade, o Ver-o-Peso. Dali os passageiros , com o mesmo bilhete, pegariam ônibus jardineiras que fariam o circuito pela centro histórico e Cidade Velha, fechando-se as demais vias do comércio para o tráfego de veículos automotores. Melhor que bondinhos inviáveis, os ônibus jardineiras, construídos em Curitiba, serviriam também para incrementar o turismo na cidade. Quem sabe um dia, não?
O prefeito Zenaldo Coutinho anunciou para breve o projeto de revitalização do Ver-o-Peso. Não seria mais urgente e prudente realizar antes ali um trabalho de avaliação das atuais condições das estruturas que suportam o peso das edificações e que poderiam estar abaladas com as enchentes e o intenso tráfego de veículos pesados, como já apontou o engenheiro e urbanista Nagib Charone? Por que não chamar o próprio Charone para fazer esse trabalho de avaliação técnica antes da construção do "novo" Ver-o-Peso?
Não se ergue uma nova construção sobre uma estrutura ameaçada de desabar. Diz o antigo brocardo popular que "é melhor prevenir do que remediar".

O Bragantino está milionário. Mas pensa pequeno. Muito pequeno.

A torcida do Bragantino, no Mangueirão: eram 6 mil. E por que não 20 mil? Ou 30 mil?

Que alegria, gente: o Bragantino, único time paraense na Copa do Brasil, avança de fase na competição.
Que tristeza, gente: o Braga ainda continua pensando como o Bragantino do Parazão, e não como o Bragantino que disputa a Copa do Brasil, uma competição nacional.
O senso comercial e as noções de marketing do time de Bragança são uma tragédia.
Não uma tragédia grega (ainda), mas uma tragédia bragantina.
Nesta quarta-feira (12), no jogo contra a Aparecidense-GO, em que ganhou por 3 a 2 e avançou para mais uma fase da Copa do Brasil, o Tubarão atraiu cerca de 6 mil pagantes ao Mangueirão.
E aí?
E aí que o clube parece ter planejado receber apenas 600 pessoas no estádio, e não 6 mil. A estrutura, portanto, esteve muito, mas muito aquém de receber 20 mil ou 30 mil pessoas, o que seria possível se o time de Bragança operasse alguma estratégia de marketing consequente, para atender a esse propósito.
Mas não.
Até o número de policiais presentes ao Mangueirão era reduzido, para não dizer reduzidíssimo.
E as bilheterias, então, nem se fala.
Leitor do Espaço Aberto, remista fanático (que mandou a foto acima), foi dar uma força ao Tubarão.
Chegou ao Mangueirão por volta das 19h, 15 minutos antes do início da partida.
Sabem a que horas entrou?
No início do segundo tempo, por volta das 20h.
Ele passou, portanto, quase 1 hora para chegar às arquibancadas, onde se encontravam apenas 6 mil torcedores.
O Bragantino, até agora, já embolsou R$ 2,6 milhões por sua participação na Copa do Brasil.
E poderia – ou poderá - receber bem mais, se seus dirigentes tivessem, como se diz, o mínimo tino comercial.
Mas não é isso que está acontecendo, infelizmente.
O que está acontecendo é que o Bragantino ainda continua pensando como o Bragantino do Parazão, e não como o Bragantino que está na Copa do Brasil.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Ônibus caem aos pedaços em Belém. Mas as tarifas são de Primeiro Mundo.


Não deveria ser assim.
Mas é assim.
O Conselho Municipal de Transportes aprovou nesta quarta-feira (10) o aumento da tarifa de ônibus em Belém de R$ 3,30 para R$ 3,60. Falta apenas a homologação do prefeito Zenaldo Coutinho.
O transporte público na Grande Belém é pessimo.
Os coletivos estão caindo de podre. Às vezes, literalmente.
O #belemtransito, em seu perfil no Twitter, fez com ajuda de seus mais de 200 mil seguidores um levantamento sobre os ônibus que deram prego nas ruas de Belém, nos últimos dias, sobretudo a partir do momento em que as empresas formalizaram o pedido de aumento da tarifa (vejam na planilha. As datas, em verdade, referem-se a 2019, e não a 2018).
Essa planilha, circunstanciada, já deve ser do conhecimento da Semob.
O objetivo é que as empresas sejam multadas.
O que vai acontecer?
Nada.
A Semob, se for mesmo apurar, vai passar um ano para checar cada ocorrência.
Ou seja, em mais de 30 anos deve chegar ao final das investigações sobre cada uma das listadas nessa planilha.
Depois disso, mais 30 anos para as empresas recorrerem das multas que forem aplicadas (se forem, é claro, aplicadas).
Com mais 30 anos, o pagamento parcelado (se houve pagamento).
Ou seja, é um nunca sem fim.
Mas a tarifa vai aumentar mais uma vez.
Os serviços prestados pelas empresas não valem R$ 0,02 (dois centavos), mas a tarifa pode subir para R$ 3,60.
Não deveria ser assim.
Jamais deveria ser assim.
Mas é assim.
Infelizmente.

O juízo e o silêncio horrorosos de Bolsonaro e Witzel


O governador do Rio, Wilson Witzel, cujo governo já começou a matar em sigilo, e sem pedir licença, desconversa sobre o horror que foram os mais de 80 tiros disparados por militares do Exército contra o carro de uma família, no Rio, do que resultou na morte do músico Evaldo Rosa dos Santos. A família foi confundida com traficantes. Na imagem, o desespero da mulher dele.
"Não me cabe juízo de valor", diz Witzel.
Jair Bolsonaro, presidente da República, não faz comentários sobre a execução do músico.
Não fazer juízo de valor neste caso específico é um juízo clamoroso externado pelo governador. Um juízo que nos deixa liberados para fazer um juízo: o de que a tolerância zero que ele quer para crimes cometidos por bandidos não é a mesma tolerância zero para agentes da lei que agem como criminosos, mesmo sob o alegado cumprimento de seus deveres.
Já o silêncio de Jair Bolsonaro representa um berro, um grito, um brado de que o fuzilamento de um inocente deve ser debitado à conta da falibilidade humana.
Inclusive a falibilidade de vários humanos que lançam de armas para disparar 80 tiros contra o carro onde se encontrava uma família.
Tristes tempos!
Triste Brasil!

terça-feira, 9 de abril de 2019

Machadinho, a Voz que passa a ecoar na eternidade



Edenmar da Costa Machado.
Assim mesmo: Edenmar (com n na frente do m).
O Machadinho.
Em Santarém, nos anos 1960, cresci ouvindo seu nome, sobretudo em reuniões de família de que participava meu tio Emir Bemerguy, poeta e autor de dezenas de composições musicais.
Na adolescência, nos anos 1970, impressionei-me ao ver Machadinho cantar. Não num palco, mas na casa de meu tio – de quem era grande amigo -, em alguns aniversários.
À capela, acompanhado de um violão – tocado por ele mesmo ou não – ou qualquer outro instrumento, Machadinho não era propriamente um cantor de voz bonita.
Era uma voz.
Era a Voz.
Uma Voz cuja potência, mais do que inebriar os ouvidos, inebriava a alma, encharcando-a com a harmonia que só ele sabia compor, com seus timbres perfeitos.
“A dupla Machadinho (canto e violão) e Laudelino Silva (cavaquinho) marcou época na história musical de Santarém, em saudosas serenatas e diversos outros eventos culturais, não raro com a participação do talentoso violonista Moacir Santos, notadamente em programas de auditório dirigidos e apresentados por Ércio Bemerguy e Edinaldo Mota; e em memoráveis programas radiofônicos (Rádio Clube de Santarém) ou Rádio Rural, apresentados pelo radialista Osmar Loureiro Simões ou pelo poeta Emir Bemerguy”, diz o desembargador e músico santareno Vicente Fonseca, um dos filhos do Maestro Wilson Fonseca, o Isoca.
“Além de cantar inúmeras vezes, Machadinho jamais se negava a participar, colaborar de qualquer outra forma no programa de auditório que eu e Edinaldo Mota apresentávamos no palco da Casa Cristo Rei, nas décadas de 60 e 70”, conta em seu blog Ércio Bemerguy, meu tio, irmão de Emir.
Vicente Fonseca nos lega uma preciosidade: uma gravação histórica, registrada por Emir Bemerguy, do fox “Perfume” (Wilson Fonseca), interpretado por Machadinho (violão), acompanhado, ao cavaquinho, por Laudelino Silva, “que, nestas horas, devem estar participando de uma maravilhosa seresta lá no Paraíso”, como diz o desembargador.
No Paraíso, sim.
No Paraíso onde Machadinho está desde esta terça-feira (09), quando nos deixou aos 90 anos de idade.

O boêmio Machadinho


Sob o título acima, o Espaço Aberto republica o artigo assinado por Cristovam Senna, do Instituto Cultural Boarnerges Sena e disponível no site de O Estado do Tapajós:

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Hoje, 9 de abril, foi sepultado aos 91 anos Edenmar da Costa Machado, "o Machadinho", como era de modo popular conhecido em Santarém. 
Nós últimos anos, olhando seu semblante sereno, ninguém poderia imaginar que ele já foi identificado como boêmio, sendo reconhecido pelos seus pares como uma das vozes mais bonitas de Santarém, quiçá do Pará, quem sabe do Brasil.
Vale ressaltar que o boêmio, no seu cotidiano, não é necessariamente um desocupado, um inútil para a sociedade, um desacreditado. 
Basta lembrar de boêmios bem sucedidos, a começar pelo Machadinho, que ombreou com figuras ilustres como Isoca, Laudelino, Joaquim Toscano, João Fona, Emir Bemerguy, Armando Soares, fazendo "serenata entre o rio e a verde mata, ponteando o violão". 
Não é qualquer boêmio seresteiro que tem o privilégio de cantar para um presidente da república, como aconteceu em 1974 quando o Garrastazu Médici visitou Santarém; nem representar seu povo no Teatro da Paz durante a Semana de Santarém, em 1972, acompanhado pela Orquestra Sinfônica do Pará, tendo ao piano seu inesquecível companheiro Isoca; ou ser convidado pela VARIG a ir ao Rio Grande do Sul fazendo parte de uma comitiva composta por músicos santarenos, para participar de encontro de agentes da companhia aérea, onde cantou "Terra Querida" e foi efusivamente aplaudido. 
Um dia, quando perguntado onde nasceu, Machadinho afirmou que se considerava santareno de coração, unido pelo amor que dedica e este chão, mesmo tendo nascido em Belém, no dia 14 de abril de 1928. Em  dezembro de 1982 recebeu o título de Cidadão Santareno. Em 1988 a medalha João Felipe Bettendorf. 
Aprendeu a se interessar por música com a mãe, que tocava piano e gostava de cantar. Acreditava que ali estava a raiz de tudo. 
A primeira vez que mostrou sua voz em público foi como estudante do Dom Amando, uma apresentação no dia 7 de setembro de 1944, no antigo Teatro Vitória. 
O sucesso da voz começou naquela primeira apresentação. Teve que voltar três vezes ao palco, nascia ali o boêmio Machadinho. 
Passou a acompanhar os seresteiros que cantavam e tocavam pelas tranquilas ruas de Santarém da metade do século passado. 
No início chegou a duvidar do seu potencial, do volume da sua voz. Uma noite, cantando no Teatro Cristo Rei, época em que o artista tinha que usar o peito como único recurso para se apresentar, pois o microfone ainda não tinha desembarcado por aqui, foi aplaudido de pé, não queriam que saísse do palco. 
Naquela noite, nos bastidores do Teatro, teve a certeza que era verdade o que diziam dele. Passou a acreditar que era um cantor de sucesso, que era querido não só em Santarém, mas na região. 
O pai queria que estudasse para ser doutor, mas preferiu se dedicar à música. Para ele a vida era cantar, tocar violão, ser feliz. Chegou a ir estudar em Belém mas, um dia, de férias, encontrou uma moça chamada Áurea, se apaixonou, teve de abandonar os estudos e vir embora. Preferiu trabalhar para sustentar a família. 
O casamento não o privou da boemia. Quando ainda estavam noivos selaram o pacto da boa convivência. Machadinho foi categórico com a noiva Áurea: você vai casar com uma pessoa que gosta da boemia, da noite, veja o que você esta fazendo! 
Ela aceitou a concorrência da boemia,  nunca o impediu das serestas, depois passou a acompanhá-lo em alguns eventos pela cidade.
Estava com 23 anos quando casou em julho de 1951. Segundo ele, foi a mulher pra quem mais cantou, porque era difícil o namoro naquela época. Namorava cantando, altas horas da noite na frente da sua casa, pra ela saber que ele a amava. Conversas só de mês em mês.
Seu instrumento preferido era o piano, que nunca conseguiu aprender. O violão substituiu o piano, mais adaptado à sua vida de boemia. 
Começou a cantar com 14 anos, com 18 já estava no auge da fama em Santarém. Teve convites para sair, ir cantar no Rio de Janeiro e São Paulo, gravar discos, mas o pai nunca deixou que fosse. Naquela época, dizia ele, quem mandava nos filhos eram os pais.
Machadinho sabia que fazia parte de um restrito número de pessoas consideradas como  patrimônio da cidade. Ao lembrar das serenatas do seu tempo falava com saudade do luar que banhava as ruas, dos boêmios a cantar para a mulher amada.
Falava com carinho do Centro Recreativo, que fez parte da sua vida, sendo diretor por vários anos. 
O Mascote era o ponto de encontro da turma da seresta. A boemia lá se reunia, os que não tinham namorada ficavam a esperar o namoro dos outros terminar para começar a serenata. 
Ficavam a conversar, faziam coleta para depois da cantoria ir para o mercado comer linguiça no Zé Olaia. 
O personagem Machadinho é digno de uma biografia. 
Sua participação na vida religiosa merece destaque, como também na esportiva, onde foi presidente do São Francisco.  
Um dia sua voz foi sumindo devagarzinho, minguando, fazendo com que deixasse de lado o violão, abandonasse uma das suas duas grandes paixões, porque a outra, a esposa, continuou até a definitiva separação terrena. Passaram a fazer parte do passado, lembranças misturadas com saudades, mas que emergem do fundo do peito onde são guardadas com carinho, basta chegar o enlevo que as transporte, sentindo cheiros, ouvindo os acordes de uma música. Sofria resignado as duas separações.  
Em agosto de 2014 o grupo musical Canto de Várzea prestou merecida homenagem ao seresteiro Machadinho, com o show "Cantando pra Machadinho, realizado no Centro Recreativo. Para marcar a data, foi lançada a revista "Machadinho", editada pelo ICBS. 
Aproveitei uma entrevista que o Anderson Dizencourt e o Amarildo Gonçalves fizeram com o Machadinho, numa noite de 1989, durante um encontro de bar, para entre um gole e outro de cerveja colher do seresteiro longo depoimento. 
Ainda bem que o destino fez com que uma cópia da entrevista chegasse ao ICBS. Aproveitei a entrevista para compor a maior parte da revista e escrever este artigo. 
Encerro com o que o Emir Bermeguy escreveu no seu livro "Diário de um convertido", editado pelo ICBS em 2000. 
No dia 26 de junho de 1968 Emir anotou: 
"Com os amigos de ontem, tive mais algumas horas de deleite espiritual. Eu lhes prometera trazer aqui o maior cantor que possuímos, esse inexcedível Machadinho, e Laudelino Silva, um catarinense há vinte anos naturalizado santareno, que desvendou todos os segredos e manhas do cavaquinho. Os forasteiros ficaram visivelmente fascinados pela belíssima voz de nosso boêmio conterrâneo, não se conformando com o fato de vê-lo, anônimo, por aqui, quando lhe sobram credenciais artísticas para se projetar em todo o país. Contei-lhes, então, o seguinte: 
Herivelto Martins, há uns quinze anos, trouxe até cá o seu famoso “Trio de Ouro”, formado por si, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas. Reconhecendo o valor excepcional de Edenmar Machado, ofereceu-se para levá-lo ao Sul naquela mesma viagem, pois sem dificuldade lhe asseguraria o êxito radiofônico; entretanto, o pai do rapaz negou-se a dar seu consentimento, mutilando, talvez, um destino, uma vida."
Machadinho foi sepultado hoje a tarde, dia 14 faria aniversário. 

Fotos:

01 - Machadinho e Áurea
02 - Moacir, Antônio Von, Machadinho e Peruano
03 - Semana de Santarém, cantando Poema de Amor 1971
04 - Rio Grande do Sul - 1973