sexta-feira, 19 de abril de 2019

Violência no Pará (I): em três meses de governo Helder Barbalho, mais de 110 suspeitos “mortos em confronto com a polícia”


Reduzir – e reduzir rapidamente – a escalada da violência devastadora, que nos últimos anos transformou os paraenses em reféns do banditismo avassalador, foi um dos motes de campanha de Helder Barbalho (MDB).
Após assumir o governo, em 1º de janeiro deste ano, Helder tem-se empenhado em apresentar durante aparições regulares, ao lado de seu estafe da Segurança Pública, números que indicariam a redução do índice de criminalidade em todo o Pará, sobretudo os ilícitos considerados mais pesados, como homicídios dolosos e latrocínios (roubo seguido de morte).
O balanço mais recente divulgado no dia 4 de abril, pela Segurança Pública do governo Helder Barbalho, aponta que, no mês de março passado, o número de homicídios em todo o estado caiu 17%, em comparação ao mês de março de 2018.
A diminuição desses índices “representa a preservação de 47 vidas, visto que o número deste tipo de crime caiu de 282 mortes em 2018 para 235 ocorrências este ano. Essa é a segunda redução de homicídios mais significativa registrada no mês de março desde 2010”, informa matéria disponível na Agência Pará.
Mas há números faltando nessas estatísticas. Como os relativos, por exemplo, ao número de “suspeitos mortos em confronto com a polícia”, expressão que o jargão jornalístico incorporou e se tornou tão banal, mas tão banal, que os próprios jornalistas, seja em entrevistas coletivas, seja em apurações rotineiras sobre ocorrências pontuais, nem mais se dão ao trabalho de apurar a fundo os detalhes desses alegados “confrontos”, como também raramente procuram levantar periodicamente a quantidade de suspeitos que morrem em tiroteios que a polícia diz ter travado para reagir à resistência oposta por suspeitos durante uma diligência.

111 mortos em três meses
Matéria do DOL: sete mortos no Acará, em fevereiro
Com base em levantamentos de notícias publicadas – ora com mais, ora com menos destaque – pelos jornais O LIBERAL e Diário do Pará e em mídias virtuais, no período de 1º de janeiro a 31 de março de 2019, os três primeiros meses do governo Helder Barbalho, o Espaço Aberto apurou, com exclusividade, que pelo menos 111 pessoas foram mortas em “confrontos com policiais”. Esse número, vale destacar, está muito aquém da realidade, porque não se pode precisar quantas mortes ocorreram em circunstâncias alegadamente idênticas a essa e que a polícia não divulga, muitas vezes porque não lhe é conveniente divulgar.
Ao final de janeiro, primeiro mês do governo Helder Barbalho, foram registradas as mortes de 35 suspeitos, de acordo com o levantamento do blog. Em fevereiro, houve 38 ocorrências, mesmo número de março.
No trimestre considerado pela apuração do Espaço Aberto, a diligência policial que resultou em maior número de mortos em confronto ocorreu no dia 5 de fevereiro, quando sete homens, suspeitos de integrar uma quadrilha de assalto a bandos, foram mortos em “confronto com a PM” no município de Acará, região nordeste do Pará. Leia-se matéria disponível no DOL, site do Diário do Pará:

Sete assaltantes que pretendiam assaltar duas agências bancárias, na cidade de Acará, nordeste paraense, morreram durante troca de tiros com a Polícia Civil, nesta terça-feira (05).
De acordo com informações da Polícia Civil, a operação foi deflagrada para prender integrantes de uma associação criminosa que planejava assaltar as agências bancárias. O grupo de assaltantes foi abordado no momento em que trafegava em uma estrada vicinal, na zona rural do município, de onde seguiriam para a sede da cidade para cometer o assalto. No momento da abordagem policial, os criminosos efetuaram disparos contra os policiais civis que revidaram aos tiros e atingiram inicialmente quatro suspeitos. Eles ainda chegaram a ser socorridos, mas não resistiram. Outros três suspeitos foram baleados e também morreram.

Matérias do G1 Pará: seis mortos numa madrugada de janeiro
Na madrugada de sábado, 12 de janeiro, coincidentemente dia do aniversário de Belém, seis pessoas foram em confrontos com a polícia, quatro durante perseguição no bairro de Batista Campos, duas durante troca de tiros com policiais militares no Conjunto Cordeiro de Farias:

Trecho da matéria do G1 sobre o tiroteio em Batista Campos:

De acordo com a PM, um homem teria sido sequestrado no bairro da Pedreira e conduzido no próprio veículo pelos quatro criminosos. Informações repassadas por familiares da vítima ao Centro Integrado de Operações (Ciop) possibilitaram que o carro fosse interceptado por equipes da PM na rua São Francisco com a avenida Almirante Tamandaré, onde ocorreu uma troca de tiros.
No confronto com a polícia, os quatro criminosos foram alvejados e morreram no local. O homem feito refém foi resgatado pela PM e não sofreu lesões graves.
Dois policiais militares foram atingidos durante a troca de tiros e socorridos para um hospital particular, no bairro Batista Campos. Um dos PMs baleados foi o cabo Denis Miranda, do 20º Batalhão. Ele foi atingido de raspão na mão, sem gravidade.

Trecho da matéria do G1 sobre as mortes de suspeitos no Cordeiro de Farias:

De acordo com a Polícia Militar, os suspeitos, armados e utilizando-se de uma motocicleta, tentaram efetuar um roubo à um comércio no conjunto Cordeiro de Farias. Mas, o assalto foi frustrado por um homem, não identificado, que teria reagido e trocado tiros com os suspeitos.
Os criminosos tentaram então fugir, porém, foram interceptados por duas equipes da polícia militar, que estavam fazendo rondas às proximidades e perceberam a movimentação. Ainda segundo a PM, os assaltantes dispararam contra as viaturas e os policiais reagiram à agressão.

5 comentários:

  1. Onde estão a OAB e direitos humanos que não tomam uma providencia contra esta matança oficial?

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  2. É essa matança não para não. O Estado do Pará continua executando, antes de prender. Ou até prendendo e matando em seguida. Talvez eu esteja errado, mas a Polícia paraense deve ser a 2a de todo o Brasil que mais mata. Rio deve ser o 1o. Parabéns pelo trabalho de garimpagem no jornalismo. Uma aula para a imprensa e para os fiscais da lei.

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  3. Dentro dessa questão de violência, o que vem instigando são essas mortes (várias esse ano de 2019) dentro das prisões paraenses. O sujeito é preso e o estado não consegue evitar essas mortes de apenados? Dezenas de homens já morreram em condições de vulnerabilidade. Com a palavra a Susipe, se é que consegue explicar , já que não consegue deter essas mortes dentro das celas.

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  4. Até acho que a situação tá complicada e por isso estão buscando eliminar de qualquer forma os fora da lei. O problema são esses argumentos pra justificar a atitude da polícia...tudo mentira!!

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  5. Parabéns ao Blog pois foi o unico a tocar neste assunto, depois que a imprensa esta toda a favor deste Governo todos calados com respeito a estas matanças sem explicações. Onde estão as organizações dos, DIREITOS HUMANOS, A OAB e a IMPRENSA que atazanavam o Governo passado? Todos caladinhos! Uma vergonha.

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