A menos que o mar vire sertão e o sertão vire mar - o que não é nada impossível, nestes tempos tenebrosamente difíceis e imprevisíveis em que vivemos -, a professora Izabela Jatene, que exerceu o cargo de titular da Secretaria Extraordinária de Estado de Integração de Políticas Sociais no último governo de seu pai, Simão Jatene, está com um pé fora do PSDB, partido que tem no ex-governador um dos maiores líderes e fundadores no Pará.
As evidências ganharam mais força recentemente, quando Izabela, que é antrópologa e doutora em Ciências Sociais pela PUC-RJ, postou em seu próprio perfil no Instagram uma imagem em que ela e mais 20 professores e professoras de Ciências Sociais da UFPA declaram apoio público ao candidato Edmilson Rodrigues (PSOL), eleito neste domingo (30) para exercer um terceiro mandato de prefeito de Belém.
Izabela, segundo afirmam ao Espaço Aberto fontes seguras, já redigiu a carta em que, formalmente, pede o seu desligamento do PSDB.
A insatisfação, para não dizer revolta, da ex-secretária com o partido agravou-se a um ponto praticamente sem volta em 1º de setembro deste ano, quando quatro deputados tucanos com assento na Assembleia Legislativa - Ana Cunha, Cilene Couto, Luth Rebelo e Victor Dias (na foto) - foram apontados como tendo votado favoravelmente à rejeição às contas de Jatene.
A sessão foi marcada por um acontecimento sem precedentes na história política do Pará: a presença pessoal do próprio ex-governador para defender, da tribuna do Legislativo, a legalidade de suas contas. Mas nem isso foi suficiente para evitar que o plenário as rejeitasse por supostas irregularidades.
Além de apontados publicamente como favoráveis à rejeição das contas, os quatro tucanos ainda exibiram, ostensivamente, outra conduta reveladora de desprezo à figura do ex-governador: nem sequer o cumprimentaram durante todo o tempo em que ele esteve no plenário, ao contrário até mesmo de adversários históricos, que não se dispensaram do dever de civilidade e cortesia, dirigindo-se à Mesa Diretora para cumprimentar Jatene.
Edmilson: mobilização da militância virtual e discurso para descontruir imagem de que é um galo de briga podem explicar sua vitória para governar Belém pela terceira vez
Analistas de resultados eleitorais - os tecnicamente abalizados ou mesmo os especialistas em achismos - não conseguirão jamais, em tempo algum, libertar-do subjetivismo para apontar por que motivo fulano ganhou uma eleição ou por que razões sicrano não se saiu bem nas urnas.
Às vezes, as análises poderão até basear-se em números - como os de pesquisas segmentadas, por exemplo. Mas mesmo, assim os juízos serão meio precários porque, repita-se, impregnados do incontornável subjetivismo.
Por isso é que análises não são nem corretas, nem erradas. Em última análise, análises não passam de um exercício intelectual para tentarmos comprender os fatos que possivelmente - possivelmente, repito - concorreram para a vitória ou para a derrota deste ou daquele candidato.
Analisemos oito fatores que possivelmente concorreram para a vitória de um e, consequentemente, a derrota de outro.
1. Edmilson soube, sobretudo na reta final da campanha, insistir bastante em sua experiência como gestor de Belém por oito ano como um atributo básico que o credenciaria para um novo mandato. Com isso, reforçou a ideia de que não valeria a pena os eleitores exporem-se a riscos elegendo alguém como Eguchi, que nunca administrou nem um boteco de esquina (e olhem que boteco dá trabalho à beça para administrar, viu, gente? Às vezes, dá mais trabalho de administrar do que um País inteirinho).
2. Eguchi, como lembrou esta manhã mensagem de um leitor do Espaço Aberto,que priva das relações do candidato do Patriota -, "pagou pela própria língua": falou demais sobre temas que não domina.
3. Ao apresentar propostas mirabolantes - como tamponar canais e construir um prédio de 20 andares no centro de Belém -, o candidato do Patriota atraiu a rejeição de eleitores mais conservadores, que ainda esperavam ouvir dele explicações mais convincentes, em vez de abordagens marcadas por um empirismo muitas vezes tosco, sem consistência alguma, caricato e ridículo.
4. Boa parte do eleitorado de centro enfastiou-se com o discurso monótono, monocórdio e monotemático de Eguchi, de combater a corrupção. Porque a corrupção é, sim, um mal. Um tremendo mal. Mas não é o único dos males a corroer a eficácia com que deve se conduzir a administração de uma metrópole como Belém.
5. Em vez de agregar apoios de boa parte do eleitorado mais conservador, Eguchi espantou-o quando polarizou seu discurso sobretudo nos últimos dias da campanha, apresentando-se como uma espécie de Bolsonaro ao Tucupi, invocando de forma equivocada, e com aparência de fanatismo, certos valores morais e religiosos como indispensáveis para um gestor sair-se bem como prefeito de uma cidade.
6. Edmilson, muito embora demonstrando falta de frieza e racionalidade diante das estocadas do adversário, acusando-o de atos de corrupção quando governou Belém de 1997 a 2004, conseguiu compensar essa fragilidade fazendo colar em Eguchi a pecha de propagador contumaz de fake news, de um mentiroso compulsivo capaz de fazer qualquer coisa para ganhar a eleição.
7. Edmilson, e por extensão os partidos de esquerda que apoiaram sua candidatura, soube mobilizar sua militância - a profissional ou orgânica, digamos assim, e a militância voluntária - para atuar intensamente nas redes sociais, neutralizando assim a força que a campanha adversária vinha fazendo nesse ambiente desde o primeiro turno.
8. Ainda que sem transmitir tanto convencimento, Edmilson chegou à fase final da campanha caprichando de forma bem mais enfática no discurso para desconstruir a imagem que dele sempre fizeram os adversários: a de um galo de briga (como mencionou José Priante em sua campanha), a de um político irascível, rancoroso, raivoso, radical e intolerante politicamente. Nesse sentido, se não chegou a transmitir a certeza de que já é um Edmilson Paz e Amor, no mínimo indicou que poderá vir a sê-lo.
Esses, reitere-se, são fatores que, na análise do Espaço Aberto, podem ter concorrido para o resultado final destas eleições. E como são fatores subjetivos, você, certamente, terá oito discordâncias. Ou seriam 800?
Discorde, pois.
ATUALIZAÇÃO ÀS 17H:
Como se disse na postagem, às oito razões expostas pelo blog, você, certamente, terá outras oito - ou 800.
Há pouco, leitor assíduo do Espaço Aberto mandou mais três, a seguir:
1- Eguchi fez aquela fala desastrosa de que quem recebe auxílio é vagabundo. Se não disse ou foi montagem, então o marketing do candidato do Patriota deveria ter reagido imediatamente para desfazer essa versão.
2- Juntou-se a políticos no segundo turno , como os vereadores Fabrício e Mauro Freitas , além da Mary, vice do Thiago, todos com o DNA do prefeito Zenaldo Coutinho. E deixou que o Edmilson carimbasse o apoio do prefeito a ele, Eguchi, ainda reafirmando que aceitava apoio de quem quer que fosse .
3- Não atacou o Edmilson no ponto mais fraco: o PT, partido de Edilson Moura, vice na chapa do candidato psolista.
Com 100% das urnas apuradas, Edmilson está com 390.723 votos contra 364.095 atribuídos ao Delegado Federal Eguchi, do Patriota. Em percentuais, o candidato do PSOL obtém 51,76% dos votos válidos contra 48,24% do adversário.
O resultado das urnas, apontando uma diferença de 3,52 pontos percentuais entre os dois candidatos, está muito aquém do apontado por duas pesquisas divulgadas neste sábado (28).
O levantamento do Ibope apontava Edmilson na frente por 16 pontos percentuais - oscilando de 12 a 20 pontos, se considerada a margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou para menos. Praticamente a mesma projeção foi apontada pela aferição do Instituto Acertar.
A pesquisa que acertou o resultado foi a do Instituto Doxa, que apontou um empate técnico entre os dois candidatos, com pequena diferença para Eguchi. Considerada, então, a margem de erro, o levantamento previu corretamente que a vitória de Edmilson por um pouco mais de três pontos de diferença.
Em movimento reverso em relação ao da véspera do primeiro turno, quando disparou, ultrapassou José Priante (MDB) e chegou em segundo lugar, Delegado Federal Eguchi (Patriota) perdeu fôlego e está, em média, 16 pontos atrás de Edmilson Rodrigues (PSOL) em duas pesquisa divulgadas neste sábado (28) sobre a disputa pela Prefeitura de Belém, que será decidida neste domingo (29).
Na pesquisa do Ibope, contratada pela TV Liberal, Edmilson Rodrigues tem 58% das intenções de voto, seis pontos percentuais a mais em relação ao último levantamento. Eguchi, que na aferição anterior aparecia com 48%, num empate técnico com o psolista, caiu para 42%.
A margem de erro na pesquisa, registrada sob o número PA 05866/2020, é de quatro pontos percentuais para mais ou para menos e foi feita no período de 26 a 28 de novembro, entre 602 eleitores.
Em outra pesquisa, feita pelo Instituto Acertar, Edmilson aparece com 58,3% dos votos válidos, enquanto Eguchi (Patriota) está com 41,7%. A margem de erro é de 3,5% para mais ou para menos.
Contratada pelo jornal Diário do Pará, a pesquisa foi registrada sob o número PA-09015/2020 e ouviu 820 pessoas no período de 25 a 27 de novembro.
Em decisão liminar, proferida no final da noite de ontem, a juíza Mônica Maciel Soares Fonseca proibiu a empresa Eco Consultoria Empresarial Ltda. - Ecodatta de divulgar o resultado de pesquisa registrada sob o nº 09301/2020, que aponta o candidato do Patriota, Delegado Federal Eguchi, à frente de Edmilson Rodrigues (PSOL) na disputa pela Prefeitura de Belém. Em caso de desobediência, a magistrada estipulou multa de R$ 50 mil.
A decisão decorreu de representação formulada pelo candidato a vereador Marco Antonio Barros, alegando que o levantamento apresenta indícios de ser fraudulento.
"Em pesquisa ao site do TSE - Sistema de Pesquisas Eleitorais, verifica-se haver ainformação somente de que os recursos foram próprios, com nota fiscal no valor de R$ 8.000,00, sem, no entanto, indicar a procedência da disponibilidade financeira, o que contrariao citado artigo da Resolução do TSE e no art. 33, inciso II, da Lei Eleitoral", fundamenta a juíza.
A advogada e ex-presidente da OAB-PA Avelina Hesketh divulgou, nesta quinta-feira (26), uma nota em que desmente informações sobre o envolvimento de seu nome no que ela classifica de "campanha para desacreditar" o candidato do PSOL a prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues.
Na nota, a advogada diz que deu parecer concluindo pela legalidade na aquisição de livros didáticos durante o governo de Edmilson e acrescenta que o então prefeito "sempre agiu de forma republicana, prestigiando a Ordem dos Advogados do Brasil, as prerrogativas dos advogados e advogadas e o Estado Democrático de Direito".
O prefeito de Altamira , Domingos Juvenil, foi solto por volta das 20h desta quinta-feira (26), após ter sido preso um dia antes durante a Operação "Prenúncio", deflagrada pelo Ministério Público do Pará no âmbito de investigações sobre supostas fraudes em processos licitatórios que teriam lesado os cofres do município em R$ 10 milhões.
Juvenil, um dos maiores quadros do MDB no estado, já tendo disputado, inclusive, o governo do estado no ano de 2010, foi preso porque policiais e promotores que participaram da operação encontraram na casa dele uma arma com posse legal não comprovada.
Mas o que impresiona foi o montante de dinheiro em espécie que Juvenil guardava em casa: R$ 726 mil. A soma, verdadeiramente espantosa para os padrões paraenses em casos de supostas condutas de improbidade - e ainda mais se tratando de um prefeito de município -, é a maior já encontrada nos últimos anos na residência de um investigado.
Dinheiro pelos Correios - Uma reportagem da TV Record de Altamira, disponível no canal da própria emissora no YouTube (veja acima), mostra em detalhes a ação policial no interior da casa de Juvenil, com destaque para o volume de cédulas encontradas. E informa, com base em dados fornecidos pelos investigadores, que o prefeito recebia dinheiro até em caixa, "que aparentemente foi entregue pelos Correios", confome diz o repórter.
Segundo apurou pelo MPPA, há 20 anos a empresa Arapujá Ltda., aparentemente, só presta serviços para a municipalidade, sempre nos mandatos de Domingos Juvenil, de tal forma que a história da empresa confunde-se com o próprio histórico de mandatos do atual prefeito à frente do executivo.
A investigação não encontrou registros ART de prestação de obras ou serviços pela empresa a nenhum outro tomador. A Arapujá também nunca juntou aos certames licitatórios analisados, recheados de flagrantes ilicitudes, nenhum atestado de capacitação assinado por outra pessoa, física ou jurídica, senão a própria Prefeitura de Altamira.
O núcleo contábil do Ministério Público do Estado constatou, mediante a análise de sistemas e dos documentos enviados pela Prefeitura Municipal, que já houve, em valores atualizados, o pagamento de R$11.019.115,83 para a empresa Arapujá nos últimos seis anos, sendo que, há provas de que nem um centavo foi repassado de forma lítica.
“Trata-se de grandioso desvio de verbas públicas praticado, como já demonstrado, há cerca de 20 anos. Contudo, a investigação não conseguiu, pelo decurso do tempo, alcançar datas tão remotas, de modo que este valor é apenas o referente às quatro licitações investigadas, retroativas ao ano de 2014”, explica na ação civil o promotor de Justiça Danile Bona.
O requerimento de liminar pelo MPPA para deferimento de indisponibilidade dos bens visa garantir o ressarcimento dos prejuízos causados aos cofres públicos, decorrentes das licitações fraudulentas e dos contratos administrativos nulos daí decorrentes, no valor de R$ 33.057.347,40.
Mostra Doutor Eguchi, candidato do Patriota aspirante a prefeito de Belém, sendo alvo de protestos de feirantes do Ver-o-Peso, quando fazia campanha por lá.
Eguchi no Veropa é mais ou menos como um astronauta no Palácio de Buckingham.
O Ver-o-Pará um mundo estranho a Eguchi, porque frequentado por trabalhadores.
O Palácio de Buckingham é um mundo estranho para astronautas. Mesmo os que já pisaram, literalmente, no solo lunar.
A passagem de Eguchi pelo Veropa me trouxe à mente um dos episódios de The Crown, a série magistral, disponível na Netflix, que traça um panorama da história da Inglaterra nas últimas cinco décadas do reinado de Elizabeth II.
Um dos episódios mostra o Príncipe Philip vivendo uma crise existencial, que o levou a acreditar que a capacidade humana de realizar feitos fantásticos, magnifícos, fenomenais expressava-se não com amparo também em qualidades espirituais e morais, mas em ações. Puramente ações.
Philip ficou encantado, para não dizer hipnotizado, com a jornada dos americanos Armstrong, Collins e Aldrin, que estiveram na Lua, em 1969, na Missão Apollo 11.
Quando os três visitaram o Palácio de Buckingham, pouco depois de retornarem da aventura espacial, Philip exigiu uma audiência privada dele com os três.
O príncipe esperava-se que fosse ouvir dos astronautas narrações grandiloquentes, fantásticas, heroicas, dignas das aventuras mais fascinantes, sobre a experiência que tiveram no espaço.
E pediu para falarem das "perspectivas", para descreverem as observações que fizeram do "nosso lugar", como disse Philip, referindo-se à Terra.
Em The Crown, astronautas no palácio: foi apenas o refrigerador de água
"Bam, bam, bam, bam" - Eis que Armstrong narra singelamente sua experiência.
- Bem, depois de terminar a caminhada [na Lua], voltei para o módulo e sabia que tínhamos poucas horas para descansar antes de decolarmos de novo. Então abaixei a cabeça, fechei os olhos, mas só ouvi um barulho; bam, bam, bam, bam.
- O quê? De fora do módulo? - pergunta o príncipe, olhos arregalados, à espera de uma revelação fenomenal.
- Era o refrigerador de água. Fazia esse barulho; bam, bam, bam - completa Armstrong.
Phillip, totalmente desconcertado, dá uma risadinha, frustrado com aquela experiência tão sem graça, tão pequena, tão banal, tão destituída de qualquer traço de heroísmo.
E aí?
E aí que, terminada a audiência, Armstrong, Collins e Aldrin saíram em disparada para fazer fotos no Palácio, perfeitos tietes, animados, encantados e hipnotizados com toda a opulência, a riqueza e a majestade expressas na residência da família real britânica.
O Palácio de Buckingham era, aquele assim, um mundo totalmente estranho para os astronautas. Mais mágico, mais encantador, mais deslumbrante do que a Lua, que eles haviam acabado de visitar em carne e osso.
A mesma coisa o Ver-o-Peso para o candidato do Patriota.
Eguchi, com Rita e Flexa: o Ver-o-Peso é um mundo que lhe é estranho
Eguchi e o trabalhador - Antes do primeiro turno, quando foi entrevistado pelos repórteres Rita Soares e Evandro Flexa, o delegado sentenciou, do alto de sua extrema sensibilidade e de suas elevadas laborações mentais, sobre como sua cartilha ensina acerca da divisão do trabalho.
- Eu estou vendo aí o senhor falar só de patrão. Fecomércio, Fiepa... - provocou Rita.
-... Que são geradores de riqueza e de empregos - emenda Eguchi, triunfante.
E ainda continou, impávido no seu colossal raciocínio: "Quem vai transformar Belém não é o trabalhador, é o empresário. O trabalhador vai entrar com o serviço ou o emprego dele. Mas o patrão é que vai gerar riqueza.
- Há divergências. Pode ser o trabalhador que gera riqueza - Rita ainda divergiu.
Mas não teve jeito. A formulação, a tese, a concepção, a elucubração - sabe-se lá o que foi aquilo - de Eguchi já estava consumada.
E daí ele foi ao Veropa.
Aquilo ali, para Eguchi, deve ser o microcosmo do negacionismo econômico.
O Ver-o-Peso, um ambiente essencialmente de trabalhadores, muitos batalhando bravamente, diariamente e honradamente para manter o seu sustento e de suas famílias, o Veropa, enfim, é um nicho menor, é um teatro de coadjuvantes, é um centro que não gera riqueza.
Porque riqueza, para Eguchi, deve ser apenas a riqueza de bilionários, e não a riqueza vista como a aferição de renda que o trabalho gera em todos os segmentos sociais, favorecendo tanto os que, como Eguchi, têm um salário muito bom, compatível com suas funções de policial federal, como favorecendo também os feirantes, que dão um murro danado para conquistar o mínimo que lhes permita viver com pouco, mas dignamente.
O Ver-o-Peso, nesse contexto, é um mundo desconhecido para Eguchi, porque povoado de trabalhadores. Talvez o delegado tenha ido à feira para submeter suas teses a uma experimentação prática. Mas deu no que deu.
E Eguchi deve ter ido embora do pedaço confirmando que o seu mundo é o dos empresários.
Para Eguchi, o mundo deslumbrante, encantador, quase hipnótico é o mundo de empresário gerando riqueza, e não de trabalhador, que também gera riqueza, ora. Mas não a riqueza no sentido como a entende o delegado.
O Ver-o-Peso é um mundo estranho para o Delegado Federal Eguchi.
Da mesma forma como o Palácio de Buckingham foi um mundo estranhíssimo, ainda que fantástico, para Armstrong, Collins e Aldrin.
Choca, sobretudo, os que gostam de ver um artista engajado nos temas políticos de seu tempo, abordando-os de peito aberto, consciência límpida e língua afiada.
A morte de Maradona choca, portanto, todo mundo.
Inclusive os que abjetam futebol, ao ponto de, literalmente, não fazerem sequer questão de saber a cor da bola.
Maradona foi o gênio da bola que era capaz de negar até mesmo suas concepções mais íntimas apenas pelo desejo de polemizar, de dizer o que se achava no direito de dizer - claramente, objetivamente, sem meias palavras.
Maradona foi o artista que, na sua dimensão humana, consternou o mundo em sua luta - atroz, atropelada e inconstante, mas heroica - para superar o horror do vício da dependência química.
Por tudo isso, não há dúvida: as pessoas sempre vão amar Maradona.
O candidato a prefeito de Belém pelo Patriota, Delegado Federal Eguchi, tem insistido nesta campanha, um minuto sim, outro minuto também, que seu governo, caso ele seja eleito, será o mais transparente, o mais moralmente cristalino, o mais incorruptível, como nunca, jamais, em tempo algum existiu na face da Terra - inclusive da Terra plana, não esqueçam.
Como já se disse aqui no Espaço Aberto, quando ouvimos Eguchi falar, temos a impressão de que ele dorme, tem pesadelos com corruptos tentando algemá-lo e, ao acordar, antes mesmo de espreguiçar-se, salta da cama gritando: "Pega o ladrãããããoooooo!". E sai correndo pela casa à procura de corruptos para algemá-los.
Mas o conceito de Eguchi sobre corrupção, parece, é estanque: ele considera corrupto apenas quem mete as mãos cofres públicos adentro, para de lá roubarem o que for possível roubar.
Engana-se o candidato do Patriota: corrupto, num conceito mais largo, é aquele que corrompe. Corromper a verdade, portanto, é corrupção. E dependendo das intenções com que isso for feito, é corrupção da grossa, como se diz.
Eguchi, o mesmo que já prometeu tamponar os canais de Belém e construir um edifício de 20 andares na área onde funcionou a extinta Palmeira, no centro da cidade, acaba de corromper a verdade mais uma vez, ou de estuprá-la por completo, ao falar de seus planos de governo.
Ônibus em Fortaleza - Em entrevista nesta segunda-feira (23) a Marcelo Marques, editor do Portal Bacana News, Eguchi disse que a tarifa de ônibus em Fortaleza é de R$ 0,36. Tentem ouvir, na imagem acima, a partir dos 10 minutos de entrevista. O áudio, infelizmente, está muito baixo, mas, se você puser um fone de ouvido e aumentar o volume do seu computador ao máximo, poderá ouvir perfeitamente.
Marcelo faz um questionamento a Eguchi sobre as razões que teriam os eleitores de Belém para acreditar que a promessa dele, de climatizar os ônibus, será realmente cumprida. O candidato começa a responder que todos podem acreditar nisso porque ele é delegado federal, foi representante do Brasil na Interpol e sua palavra vale mais do que qualquer documento assinado, como se esses fossem requisitos para acreditarmos que ele, uma vez eleito, fará a terra virar mar e o mar virar terra.
"Em Fortaleza, você acabou de citar Fortaleza, você sabe quanto é uma passagem de ônibus em Fortaleza? Trinta e seis centavos. Lá tem ar-condicionado, lá tem pontos de ônibus de primeira qualidade, lá os ônibus são novos", diz o candidato.
De onde Eguchi arrancou essa informação? Onde a viu? Onde leu? Ele já andou de ônibus em Fortaleza? Se andou, pagou a própria passagem ou pagaram pra ele?
O Espaço Aberto foi checar, há pouco, no site da Prefeitura de Fortaleza. Clique aqui. Quando clicar, você vai ver a imagem que aparece ao lado, indicando claramente as tarifas de ônibus na capital cearense. Ainteira, no início deste ano, passou de R$ 3,40 para R$ 3,60 e a tarifa estudantil, de R$ 1,50 para R$ 1,60.
Como se pode ver, existem as tarifas de R$ 0,50 (inteira) e R$ 0,25 (estudantil). Mas essas são as tarifas da Linha Central. O que é a Linha Central? É uma linha que circula pelas principais vias de comércio. Pela janela, durante o caminho, é possível observar a Catedral, o Passeio Público a Praça da Estação, o Parque da Criança, entre outros atrativos turísticos de Fortaleza.
Se a menção de Eguchi foi à tarifa da Linha Central, talvez o candidato, quando fez isso, não estivesse totalmente antenado, depois de passar uma noite insone, caçando milhares de ladrões em seus pesadelos. Porque não há sentido em comparar a circulação de ônibus que fazem o trajeto normal com o de um ônibus que se limita a rodar em poucas ruas de uma cidade.
Fake news - Essa não é a primeira vez que o candidato do Patriota propaga inverdades durante esta campanha. Tomara que seja a última, mas seguramente não é a primeira. Na semana passada, a juíza eleitoral da 1ª Zona, Suayden Fernandes Silva Sampaio, notificou o Facebook a excluir, em 24 horas, postagem com imagens e mensagens ofensivas ao candidato à prefeitura de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), promovidas no perfil “delegadofederaleguchioficial” e configuradas como “calúnia eleitoral”.
Na decisão, a magistrada ressalta que o perfil do candidato promove postagens que “extrapolam dos limites da liberdade de expressão e da manifestação do pensamento e, de fato, caracterizam ofensa à imagem, à honra e à dignidade do candidato. Daí a necessidade da intervenção da Justiça Eleitoral para coibir e fazer cessar tais abusos e ofensas”.
Eguchi vai se retratar de mais uma inverdade que ele propaga? Vai adotar conduta assertiva, para desfazer a corrupção da verdade, que ele promove? Vai explicar direito o que foi mesmo que quis dizer? Vai dizer que, nas suas contas, R$ 0,36 é a mesma coisa que R$ 3,60?
Sob encomenda da TV Liberal, a pesquisa, registrada na Justiça Eleitoral sob o número PA‐08277/2020, aponta Edmilson com 45% das intenções de votos e Eguchi, com 43%. O índice de votos em branco/nulos soma 8%. E 4% disseram que não sabem ainda em quem vão votar ou votarão nulo.
Como a margem de erro é de quatro pontos percentuais para mais ou menos, temos Edmilson na faixa de 41% a 49% e Eguchi, podendo variar de 39% a 47%. Portanto, ambos encontram-se tecnicamente empatadados, seis dias depois das eleições do último domingo.
Realizada no período de 18 a 20 de novembro, a pesquisa ouviu 602 eleitores. O Ibope informa que o nível de confiança utilizado é de 95%. Isso quer dizer que há uma probabilidade de 95% de os resultados retratarem o atual momento eleitoral, considerando a margem de erro.
Eguchi agrega mais - Se comparamos os números da pesquisa do Ibope com o resultado da pesquisa das urnas, no último domingo, chega-se à conclusão de que o candidato do Patriota está agregando muito mais votos do que seu adversário.
No primeiro turno, Edmilson Rodrigues ficou em primeiro, com 34,22% dos votos válidos, enquanto Eguchi, o segundo, obteve 23,06%. Os dois somaram, portanto, 57,28%. Os restantes 42,72% pulverizaram-se entre os outros 10 candidatos que disputaram a Prefeitura de Belém.
Do total de 42,72%, cerca de 20% foram carreados para Eguchi (que tem agora 43% pelo Ibope) e apenas 11% para Edmilson, que aparece com 45%, apenas dois pontos percentuais acima do adversário, conforme apontado na aferição do Ibope. Considerados, portanto, os votos de 42,72% que não votaram nem em Edmilson, nem em Eguchi no primeiro turno, o candidato do Patriota está agregando praticamente o dobro de preferências em relação ao psolista.
Mas as previsões é de que, seja lá quem for o primeiro posicionado até o próximo domingo, as eleições em segundo turno em Belém devem ser uma das mais disputadas dos últimos anos.
O juiz Raimundo Santana, da 5ª Vara da Fazenda e Tutelas Coletivas da Capital, proferiu decisão liminar determinando o bloqueio de bens de uma empresa e cinco pessoas acusadas de cometer crimes ambientais.
Os réus são a Tecniflora Ltda. ME, Eduardo Yasuji Martins Eguchi, Michele Frias Eguchi, Edelcio Malcher Dias, Evangelista Oliveira da Silva e Eduardo Costa Coelho, alvos de ação civil pública ajuizada pelo estado do Pará.
A afirmação de Edmilson, no entando, foi equivocada, porque Eduardo Eguchi não chegou a ser preso, mas era mencionado nas investigações policiais que estavam sendo feitas. O próprio candidato do PSOL retratou-se dessa afirmação, com um pedido de desculpas (veja ao lado).
Agora, a Justiça, concretamente, emitiu uma decisão liminar, assinada pelo juiz Raimundo Santana no dia 11 de novembro, bloqueando bens dos réus, entre eles o do irmão do candidato do Patriota. O processo continuará a ser instruído normalmente, não sendo possível estimar-se, no momento, quando será proferida a sentença absolvendo ou condenando os réus.
Fraudes -Na ação (Processo nº 0846917-52.2020.8.14.0301, distribuído no dia 31 de agosto deste ano), o estado do Pará alega que foi concedida para a empresa ré Autorização para Exploração Florestal (AUTEF nº 2281/2012) de uma Unidade de Produção Anual Único (UPA Única/POA Unificado) de 5.164,7565ha, com volume total demadeiras em tora de 151.943,4766 m³.
No entanto, diz o autor da ação, depois da fiscalização do órgão ambiental, no ano de 2013, teriam constatadas no empreendimento “inúmeras irregularidades técnicas na execução do plano de manejo, dentre as quais, a mais grave foi a comercialização de 151.819,3389m³ (99,91% do total autorizado) dos créditosflorestais sem que houvesse extração que coincidisse com o valor comercializado. Ou seja, houve a pura venda de créditos florestais para terceiros, método conhecido para 'esquentar' madeira ilegal, talvez a maior fraude deste tipo cometida no Estado do Pará".
"Há, de fato, a demonstração prévia de que houve infrações de natureza administrativa e (talvez até penal), cuja repercussão também poderá ser aferida nocampo civil. Afinal, o desmatamento realizado irregularmente constitui ilícito flagrante àordem jurídica, especialmente quando é sucedido por vários relatórios de fiscalização e procedimento administrativo. Aliás, mesmo depois de instaurado o procedimento, peloórgão ambiental, os responsáveis pelo empreendimento não apresentaram qualquer recurso administrativo, denotando o seu desinteresse em esclarecer e/ou refutar asimputações", escreve o magistrado na decisão liminar.
Ambos os candidatos, que aspiram a governar Belém a partir de 1º de janeiro de 2021, foram decepcionantes.
Eguchi mostrou-se vago, supérfluo, superficial e, muitas vezes, indefinível em relação a que pretende fazer, caso eleito.
Além disso, reafirmou sua propensão a virar um monotemático folclórico. Ele só fala em combater corrupção. Estamos a ponto de alguém perguntar a Eguchi para que time ele torce, e o candidato responder que vai combater a corrupção. Nada a ver uma coisa com a outra.
Vendo Eguchi falar, temos a impressão de que ele dorme, tem pesadelos com corruptos tentando algemá-lo e, ao acordar, antes mesmo de espreguiçar-se, salta da cama gritando: "Pega o ladrãããããoooooo!". E sai correndo pela casa à procura de corruptos para algemar.
Já Edmilson, pela experiência que tem, e indepedentemente dos méritos ou deméritos dos oitos anos em que já administrou Belém, perdeu as estribeiras, descontrolou-se visivelmente diante das provocações de Eguchi.
Edmilson, como político de longa trajetória, sabia que as provocações sobre o fato de ter sido ele condenado em primeira instância - num processo que no momento está em grau de recurso - seriam levantadas. Isso era tão certo como dois e dois são quatro.
Sabedor da provocação inevitável, deveria reagir da forma mais racional possível. Como? Respondendo conforme o padrão previsto na cartilha: que o processo continua e que, ao final, "provarei minha inocência". É o que todos dizem. Porque isso é o indicado a dizer em ocasiões como a de um debate.
Mas não.
O candidato do PSOL, visível e ostensivamente, descontrolou-se e, no afã de responder a uma provocação com outra provocação, acabou fazendo, no calor da hora, uma afirmação descabida: a de que um irmão de Eguchi teria sido preso por suposto envolvimento em crimes ambientais.
Com isso, não apenas propagou uma inverdade como tornou banais as qualificações que insistiu em colar no adversário durante o debate: o de ser Eguchi um propagador contumaz de fake news.
Essa afirmação foi tão descabida que o candidato do PSOL viu-se na obrigação de desmentir-se e pedir desculpas ao adversário (veja imagem ao lado), uma atitude, sem dúvida alguma, digna, mas insuficiente para evitar que os adversários ignorem o pedido de desculpas e prefiram dar prevalência à afirmação inverídica.
Com sua experiência de administrador, Edmilson, no tempo livre de que dispôs para questionar Eguchi, poderia desmontar, destroçar completamente propostas inacreditáveis do candidato do Patriota, como a de tamponar canais de Belém e construir um edifício de 20 andares no lugar onde funcionou o prédio da Palmeira, no centro da cidade. Mas desperdiçou a oportunidade de fazê-lo.
Espera-se mais, muito mais, dos dois candidatos nos próximos debates. Se é que haverá próximos debates.
Mas, escolados que somos, não esperemos tanto como esperamos do debate de ontem.
Convém que conformemos nossas expectativas ao que Edmilson e Eguchi demonstraram ontem.
As redes sociais estão, neste momento, em polvorosa.
O frenesei precede o debate a ser travado na noite desta quinta-feira (19), na TV RBA, a partir das 22h30, entre Edmilson Rodrigues (PSOL) e Delegado Federal Eguchi (Patriota).
Será o primeiro, depois que as urnas apontaram, no último domingo, Edmilson e Eguchi como os dois que vão ao segundo turno, no dia 29 deste mês.
Edmilson, como já dito em postagem aqui no Espaço Aberto, todos conhecemos.
Todos têm suas razões para se sentir assim ou assado em relação ao candidato do PSOL, porque já o conhecem. Dispõem de motivos, portanto, para amá-lo, tolerá-lo ou odiá-lo.
Até ser confirmado pelas urnas como o segundo, no último domingo, o candidato era, digamos assim, ignorado, mesmo tendo formalizado, perante a Justiça Eleitoral, propostas no mínimo discutíveis; outros diriam mirabolantes; outros ainda, amalucadas.
Como a proposta de tamponar, ou de tapar - simplesmente isso - os canais de Belém.
Ou como a proposta de construir um prédio de 20 andares na área da extinta Fábrica Palmeira, no centro de Belém.
Essas propostas poderão ser melhor explicitadas no debate desta noite, por meio dos questionamentos que, espera-se, serão feitos a Eguchi.
Enquanto isso, o candidato do Patriota surfa na onda de apoios, que ele afirma ser crescente.
Olhem as imagens acima, extraídas do perfil do candidato no Instragram, e observem nos destaques grifados em vermelho.
Militarização - O delegado, para combater a corrupção, propõe recrutar militares das Forças Armadas. Eguchi eleito, não se sabe quem será o general Heleno dele, nem quem será o seu general Luiz Eduardo Ramos, nem o seu general Braga Netto.
Mas que ele pretende recrutar militares das Forças Amadas, como também das forças auxiliares e civis de alta respeitabilidade profissional, isso está explícito em suas propostas.
Tem mais: ao lado de militares, Eguchi pretende convocar policiais federais para atuar nos órgãos de fiscalização da administração municipal.
Tudo isso em nome da bandeira anticorrupção.
Em quem Eguchi se inspira?
Em Bolsonaro, off course.
Bolsonaro é Eguchi, Eguchi é Bolsonaro.
Em sua conta no Instagram, Eguchi assume, desta vez escancaradamente, que tem o apoio de Bolsonaro, muito embora esse apoio tenha sido manifestado discretamente pelo presidente, num comentário que fez em postagem de um seguidor.
Mas Eguchi pegou corda.
Polarização - E tanto pegou que, vejam ao lado, fez esta postagem no Instragram e proclamou com letras vazadas em caixa alta: "Eguchi tem o apoio do presidente Bolsonaro".
Com isso, o candidato do Patriota aposta na ideologização do voto como a trilha que, ele acredita, poderá conduzi-lo mais facilmente à Prefeitura de Belém.
Aposta na polarização direita-esquerda.
Aposta no nós contra eles.
Aposta nos patriotas (nome, aliás de seu próprio partido), que seriam os conservadores da direita e da extrema direita, contra os esquerdistas, contra os comunistas, contra os vendilhões da Pátria.
Eguchi está vindo aí.
Mostrando-se por inteiro.
Mostrando-se como uma espécie de salvador da Pátria.
A chamada acima está na primeira página de O Globo desta quarta-feira (18).
A ser verdade que o Delegado Federal Eguchi demonstra o desejo de ter Bolsonaro ativo em sua campanha neste segundo turno, conviria ao candidato do Patriota, se julgar conveniente, rever seus desejos.
Por enquanto, Bolsonaro não se manifestou mais ostensivamente em apoio ao delegado.
Sabe-se, até agora, que, comentando na postagem de um seguidor no Facebook, Bolsonaro afirmou apenas que, se morasse em Belém, votaria no candidato do Patriota.
Aguardemos a quantas irão os desejos de Eguchi em ter o apoio mais explícito de Jair Esfarelador de Candidaturas Bolsonaro.
Mas, pelo sim, pelo não, Edmilson Rodrigues deve estar torcendo para que Bolsonaro proclame sua adesão à candidatura de Eguchi.
Os horrores destes tempos dolorosos e trágicos que vivemos agravaram-se nesta terça-feira (17) com a morte de Ubirajara Bentes Filho, aos 58 anos.
Advogado dos mais conhecidos e atuantes em Santarém, no estado do Pará, Birinha, que também era presidente da Subseção da OAB no município, morreu de Covid-19, após várias semanas internado e lutando pela vida.
Mas perdeu essa luta.
Infelizmente, perdeu.
Enquanto viveu, no entanto, Birinha foi um vencedor, sobretudo pela honradez com que exerceu sua profissão.
Abaixo, o Espaço Aberto republica um artigo do advogado Ismael Moraes, publicado no Jornal O Impacto no último sábado (14), antes, portanto, do falecimento de Birinha.
Há pessoas que passam à História por personificar a instituição a que pertencem, na maioria das vezes por atenderem o bem comum de maneira tão extraordinária, transcendendo mesmo os limites da entidade da qual fazem parte.
O advogado Ubirajara Bentes – cuja simplicidade franqueou a todos o tratamento naturalmente acessível de “Birinha” – talvez seja o mais expressivo caso numa Subseccional da OAB, e de longe o único na de Santarém.
O “Birinha” não encontrou limites na defesa e na solidificação das prerrogativas profissionais dos advogados, fosse perante que autoridade fosse, diante de que poder fosse, de que origem humilde viesse o profissional. Não havia hora imprópria, local distante, risco pessoal grave, animosidade pessoal com o advogado a ser defendido ou amizade com a autoridade a ser combatida – nenhuma dificuldade ou conveniência existia que pudesse deter o ímpeto e o compromisso cego às suas obrigações. Por isso, sofreu injustiças comuns àqueles visionários, e pior que isso, recebeu o gosto amargo de inúmeras ingratidões, mas nunca desacreditou de suas convicções, quando muitos já teriam desanimado.
O Dr. Ubirajara tem ainda capacidade especial de transformar a Advocacia, como reconhecida na Constituição, enquanto a profissão que pode levar uma pessoa à dignidade de tratamento junto ao Poder Judiciário, e por extensão para dentro do Estado Democrático. Enquanto normalmente se faz isso num plano individual, por meio da OAB o “Birinha” fez isso num plano coletivo, e o que é melhor, dando vez a pessoas pobres, sem voz, sem meios de se defender de agressões, para que passassem a gozar de cidadania. A OAB transformou-se em Santarém numa espécie de ouvidoria-geral, e depois chegou a ser mesmo uma procuradoria-geral da cidadania.
Todos esses anos de enfrentamento e de dedicação diuturna à Advocacia e à sociedade não aquebrantaram o ânimo do Dr. Ubirajara Bentes. Antes, atribuíram-lhe mais vida, mais ânimo que poucos jovens teriam.
Tudo isso somado à maturidade e à honestidade em corresponder às angústias do bem comum, conferem a “Birinha” credenciais em permanecer seguindo nessa cruzada, e à sociedade a oportunidade de servir-se desses predicados que poucos homens públicos já demonstraram.
Hoje o Dr. Ubirajara Bentes é quase uma unanimidade entre os advogados de Santarém.
Daqui de Belém, como observador, sempre busco ouvir essa voz de liberdade que vem do Oeste, e inspirar-me nas minhas ações.
Começamos a assistir ao que podemos chamar de espetáculo dispersão.
Por dispersão, entenda-se o que devem ser neste segundo turno, em Belém, os apoios individuais de pessoas, e não propriamente de partidos, a candidatos. Sobretudo ao candidato-surpresa desta temporada eleitoral, o Delegado Federal Eguchi, que passou para o segundo turno contra Priante.
Vejam aí.
Nesse vídeo, que rola no Instagram, o deputado federal Joaquim Passarinho apoia enfaticamente Eguchi, "o seu prefeito, o meu prefeito", como diz o parlamentar.
Joaquim é do PSD, que teve como candidato a prefeito Gustavo Sefer.
O PSD de Sefer é um: aliado do governo Helder Barbalho (MDB).
O PSD do deputado federal Eder Mauro é outro: inimigo do governo Helder Barbalho e apoiador fanático de Bolsonaro. No primeiro turno, o parlamentar fez campanha para Thiago Araújo (Cidadania).
O PSD de Sefer dificilmente vai se mover, neste segundo turno, sem o aval de Helder. Portanto, dificilmente apoiará Eguchi, que Helder também não quer ver eleito.
Já o PSD de Joaquim Passarinho, que não é nem barbalhista, nem fanaticamente bolsonarista, já se decidiu por Eguchi.
José Priante, em banner de campanha: "Estou com a alma mansa e tranquila"
O deputado federal José Priante, candidato do MDB a prefeito de Belém nas eleições do último domingo, disse há pouco, ao Espaço Aberto, que ainda não sabe a que fatores atribuir, com precisão, a disparada do Delegado Federal Eguchi (Patriota) na reta final.
"Foi um fenômeno. Algo subterrâneo. Algo imperceptível. Isso ocorreu de sábado para domingo", disse Priante ao blog. Confrontado com o fato de que pesquisas como a do Ibope, publicada no sábado, já detectavam o crescimento rápido de Eguchi, o deputado destacou que os 13% de intenções de voto atribuídos no levantamento a Eguchi ficaram, mesmo assim, bem distantes dos 23,06% atestados pelas urnas. Em contrapartida, a aferição registrou 17% para Priante, percentual semelhante aos 17,03% apontados nas urnas.
Dizendo-se "com a alma mansa e tranquila", o ex-candidato do MDB reforçou ao Espaço Aberto o que já anunciara em nota distribuída nesta segunda-feira (16): sua neutralidade em relação a Edmilson e Eguchi, que vão se enfrentar no segundo turno.
"Primeiramente agradeço aos mais de 123 mil votos de confiança do povo de Belém. Essa confiança no nosso projeto seguirá retribuída através do meu mandato como deputado federal. Seguirei buscando recursos e aprovando projetos na Câmara que sejam interesse de Belém e de todo o Pará", diz Priante na nota.
"Quanto ao segundo turno da eleição declaro que não apoiarei o candidato Edmilson Rodrigues, por conhecê-lo, e também não apoiarei o candidato Delegado Eguchi, por não conhecê-lo. Portanto, minha posição e recomendação é de neutralidade", avisa o parlamentar.
Edmilson? Goste dele ou não, você já o conhece. E Eguchi?
"Eguchi?"
"Mas quem é esse Eguchi?"
Não sei se você aí, que lê o blog agora. Mas eu tenho ouvido, nas últimas horas, trocentas perguntas sobre quem é o Delegado Federal Eguchi (Patriota), que vai disputar contra Edmilson Rodrigues o segundo turno da eleição que vai definir quem será o próximo prefeito de Belém.
As perguntas, normalmente, são de leitores que estão fora da cidade há algum tempo e não acompanharam com mais assiduidade esta campanha eleitoral nos últimos dois meses.
O que tenho respondido, invariavelmente?
Respondo que não sei. Nem eu mesmo sei quem é o Delegado Federal Eguchi.
Dizer que não sabemos quem é o adversário de Edmilson Rodrigues é, obviamente, uma força de expressão.
Mas não é força de expressão atestarmos que todos sabemos pouco, muito pouco, sobre um dos aspirantes a governar uma cidade de 1,5 milhão de habitantes como Belém - complexa, com abismos sociais imensos, contrastante em suas belezas e nas mazelas que reforçam injustiças horríveis.
Propaganda - Eguchi, vejam na tabela ao lado, teve direito a apenas 89 inserções no rádio e na TV durante o primeiro turno, com inserções de apenas 18 segundos. Repito: dezoito segundos.
Você sabe o que são 18 segundos? Fiz um teste: cantei a primeira estrofe do Hino Nacional. É mais ou menos isso!
Priante, o candidato do MDB que Eguchi suplantou na reta final, teve direito a um tempo de 2:55 de propaganda, com 860 inserções, ou seja, 9,6 vezes mais que o candidato do MDB, apoiado intensa, enfática e exaustivamente por ninguém menos que o governador Helder Barbalho.
Que propostas Eguchi apresentou, capaz de sensibilizar o eleitorado de Belém a abrir-lhe passagem para o segundo turno?
A rigor, não apresentou praticamente nenhuma.
Talvez por falta de maior espaço na propaganda no rádio e na TV, não conhecemos o que o delegado pretende fazer pela cidade, caso venha a governá-la.
No único debate público de que participou, promovido pelo Portal RomaNews, o delegado foi pífio, evasivo, vago.
"Pega o ladrão!" - Monotemático, o candidato do Patriota falou muito em combater a corrupção, tema que, em sua campanha, abordou exaustivamente, associando-o à sua profissão de delegado da Polícia Federal.
Em campanha, Eguchi chegou a mostrar algemas, dando a entender que mandaria prender corruptos. Quem terá sido capaz de acreditar nessa balela?
Nem prefeito, nem governador, nem o presidente da República prende e nem manda prender corruptos.
Quem prende é a polícia, como bem sabe o delegado federal Everaldo Eguchi.
E quem manda prender é a Justiça. Apenas e tão somente ela. Como também sabe o delegado.
Mas quantos, entre os 167.599 que votaram em Eguchi, estão conscientes dessas, digamos assim, pegadinhas típicas de discursos e promessas de campanha?
Quantos votaram nele por motivos exclusivamente ideológicos, associando-os a um apoiador de Bolsonaro, como Eguchi de fato é?
Quantos terão ficado sensibilizados com a impressão, transmitida pelo discurso de Eguchi, de que ele, caso venha a eleger-se prefeito de Belém, vai passar o dia inteiro, todos os dias, correndo atrás de corruptos para prendê-los?
Quantos serão capazes de dizer qual é, de fato, a capacidade política de Eguchi para formar legitimamente sua base de apoio na Câmara Municipal, ele que nunca, jamais, em tempo algum, exerceu qualquer mandato eletivo e nenhum cargo administrativo de relevância, além, é claro, das suas estritas funções profissionais de delegado de carreira?
A partir de 20 de novembro, recomeça no rádio e na TV o horário eleitoral, que vai se estender até o dia 27, portanto a dois dias da eleição.
Espera-se que, com mais tempo para expor suas ideias, desta vez dispondo o mesmo disponível reservado a Edmilson, o candidato do Patriota tenha condições de mostrar-se melhor, de explicitar em maior profundidade suas propostas, de indicar com maior concretude que, sim, ele está preparado, capacitado e inteiramente habilitado para governar uma cidade tão complexa como Belém.
É preciso Eguchi deixar claro que a transparência, a integridade ética, a limpidez moral são requisitos indispensáveis a qualquer cidadão, sobretudo e principalmente aqueles, como Eguchi, que aspiram a ocupar um cargo público da maior relevância.
Isso tudo é muito, claro. Mas não é tudo.
Há muito mais que precisamos aferir entre as qualidades decisivas, definidoras do perfil minimamente exigido para um candidato que pretende comandar administrativamente um município.
Belém aguarda ansiosamente que Eguchi seja capaz de transmiti-las de forma convincente.
E o outro? - E Edmilson, dirão vocês?
Edmilson é amplamente conhecido.
Você adora Edmilson Rodrigues?
Você tem, ou não, razões para adorá-lo.
Vou o odeia?
Você tem, ou não razões, para odiá-lo.
Você é capaz de relevar os extremos e adotar um juízo mais racional sobre Edmilson?
Você tem elementos bastantes para formar esse juízo mais ponderado.
Porque Edmilson, para o bem ou para mal, é amplamente conhecido.
Eguchi, esse não.
Ele ainda é um desconhecido.
Por isso, Belém precisa e quer conhecê-lo.
Porque, como já dito, a questão que se apresenta no momento é singela: quem é Everaldo Eguchi?
Joaquim Campos (MDB) não se reelegeu. No ano passado, ele, que se diz jornalista, usou linguagem chula para se referir a uma jornalista da Folha alvo de comentários sexistas
Sargento Silvano (PSC) colecionou polêmicas nos últimos quatro anos. Uma delas foi apresentar projeto criando o Dia do Orgulho Heterossexual. Neste ano, foi abatido pelas urnas.
Na Câmara, o MDB, que atualmente conta com sete vereadores, vai encolher para quatro na próxima legislatura. Mesmo assim, o partido continuará com a maior bancada. Além de Paulo Queiroz e Professor Wellington Magalhães, que não se reelegeram, também foi expurgado pelas urnas para um próximo mandato o vereador emedebista Joaquim Campos.
O PSOL, partido do candidato Edmilson Rodrigues, que vai disputar o segundo turno com Eguchi, manteve as suas três cadeiras na Câmara. Doutor Chiquinho - que chegou a protocolar representação no Ministério Público denunciando supostas irregularidades na compra de respiradores pelo governo Zenaldo Coutinho - e Enfermeira Nazaré não se reelegeram. Mas Fernando Carneiro conseguiu um novo mandato, e terá como companheiras de bancada duas mulheres - Vivi e Lívia Duarte.
O Patriota, partido de Eguchi, que não tem nenhum representante atualmente no Legislativo municipal, terá dois nos próximos quatro anos: Pastora Salete e Josias Higino.
Chama atenção o Republicanos. O partido, que disputou a eleição para prefeito de Belém com Vavá Martins, não é representado por nenhum vereador atualmente, mas neste pleito conseguiu eleger três: Juá Belém, Augusto Santos e Vinícius, goleiro do Remo.
O PSDB, que tem três vereadores na atual legislatura, ficará reduzido a duas cadeiras na próxima. Mauro Freitas e Moa Moraes conseguiram renovar o mandato, ao contrário de Nehemias Valentim.
Celsinho Sabino (PSC) será outra ausência notada na próxima legislatura, já que não conseguiu se reeleger. O vereador é sobrinho de Celso Sabino (PSDB), que chegou a apresentar seu nome como opção para ser o candidato do partido à sucessão de Zenaldo, mas foi ignorado porque os tucanos o consideram como aliado do governo Helder Barbalho, que inclusive nomeou um irmã do parlamentar para dirigir a Jucepa.
A nova composição da Câmara de Belém ficará assim:
Zeca Pirão (MDB), 10.851 votos (reeleito)
Nenem Albuquerque (MDB), 10.272 votos (reeleito)
Juá Belém (Republicanos), 10.221 votos
Túlio Neves (PROS), 10.119 votos
Vivi (PSOL), 9.654 votos
João Coelho (PTB), 9.493 votos
John Wayne (MDB), 9.054 votos (reeleito)
Pablo Farah (PL), 8.602 votos (reeleito)
Bieco (PL), 8.111 votos (reeleito)
Augusto Santos (Republicanos), 7.521 votos
Goleiro Vinicius (Republicanos), 7.079 votos
Moa Moraes (PSDB), 6.942 votos (reeleito)
Mauro Freitas (PSDB), 6.392 votos (reeleito)
Blenda Quaresma (MDB), 6.210 votos (reeleita)
Zeca do Barreiro (Avante), 5.778 votos
Lívia Duarte (PSOL), 5.599 votos
Igor Andrade (Solidariedade), 5.558 votos (reeleito)
Fabricio Gama (DEM), 5.224 votos (reeleito)
Bia Caminha (PT), 4.874 votos
Renan Normando (PODE), 4.844 votos
Lulu das Comunidades (PTC), 4.657 votos (reeleito)