O vídeo acima viraliza nas redes sociais.
Mostra Doutor Eguchi, candidato do Patriota aspirante a prefeito de Belém, sendo alvo de protestos de feirantes do Ver-o-Peso, quando fazia campanha por lá.
Eguchi no Veropa é mais ou menos como um astronauta no Palácio de Buckingham.
O Ver-o-Pará um mundo estranho a Eguchi, porque frequentado por trabalhadores.
O Palácio de Buckingham é um mundo estranho para astronautas. Mesmo os que já pisaram, literalmente, no solo lunar.
A passagem de Eguchi pelo Veropa me trouxe à mente um dos episódios de The Crown, a série magistral, disponível na Netflix, que traça um panorama da história da Inglaterra nas últimas cinco décadas do reinado de Elizabeth II.
Um dos episódios mostra o Príncipe Philip vivendo uma crise existencial, que o levou a acreditar que a capacidade humana de realizar feitos fantásticos, magnifícos, fenomenais expressava-se não com amparo também em qualidades espirituais e morais, mas em ações. Puramente ações.
Philip ficou encantado, para não dizer hipnotizado, com a jornada dos americanos Armstrong, Collins e Aldrin, que estiveram na Lua, em 1969, na Missão Apollo 11.
Quando os três visitaram o Palácio de Buckingham, pouco depois de retornarem da aventura espacial, Philip exigiu uma audiência privada dele com os três.
O príncipe esperava-se que fosse ouvir dos astronautas narrações grandiloquentes, fantásticas, heroicas, dignas das aventuras mais fascinantes, sobre a experiência que tiveram no espaço.
E pediu para falarem das "perspectivas", para descreverem as observações que fizeram do "nosso lugar", como disse Philip, referindo-se à Terra.
"Bam, bam, bam, bam" - Eis que Armstrong narra singelamente sua experiência.Em The Crown, astronautas no palácio: foi apenas o refrigerador de água
- Bem, depois de terminar a caminhada [na Lua], voltei para o módulo e sabia que tínhamos poucas horas para descansar antes de decolarmos de novo. Então abaixei a cabeça, fechei os olhos, mas só ouvi um barulho; bam, bam, bam, bam.
- O quê? De fora do módulo? - pergunta o príncipe, olhos arregalados, à espera de uma revelação fenomenal.
- Era o refrigerador de água. Fazia esse barulho; bam, bam, bam - completa Armstrong.
Phillip, totalmente desconcertado, dá uma risadinha, frustrado com aquela experiência tão sem graça, tão pequena, tão banal, tão destituída de qualquer traço de heroísmo.
E aí?
E aí que, terminada a audiência, Armstrong, Collins e Aldrin saíram em disparada para fazer fotos no Palácio, perfeitos tietes, animados, encantados e hipnotizados com toda a opulência, a riqueza e a majestade expressas na residência da família real britânica.
O Palácio de Buckingham era, aquele assim, um mundo totalmente estranho para os astronautas. Mais mágico, mais encantador, mais deslumbrante do que a Lua, que eles haviam acabado de visitar em carne e osso.
A mesma coisa o Ver-o-Peso para o candidato do Patriota.
Eguchi, com Rita e Flexa: o Ver-o-Peso é um mundo que lhe é estranho |
- Eu estou vendo aí o senhor falar só de patrão. Fecomércio, Fiepa... - provocou Rita.
-... Que são geradores de riqueza e de empregos - emenda Eguchi, triunfante.
E ainda continou, impávido no seu colossal raciocínio: "Quem vai transformar Belém não é o trabalhador, é o empresário. O trabalhador vai entrar com o serviço ou o emprego dele. Mas o patrão é que vai gerar riqueza.
- Há divergências. Pode ser o trabalhador que gera riqueza - Rita ainda divergiu.
Mas não teve jeito. A formulação, a tese, a concepção, a elucubração - sabe-se lá o que foi aquilo - de Eguchi já estava consumada.
E daí ele foi ao Veropa.
Aquilo ali, para Eguchi, deve ser o microcosmo do negacionismo econômico.
O Ver-o-Peso, um ambiente essencialmente de trabalhadores, muitos batalhando bravamente, diariamente e honradamente para manter o seu sustento e de suas famílias, o Veropa, enfim, é um nicho menor, é um teatro de coadjuvantes, é um centro que não gera riqueza.
Porque riqueza, para Eguchi, deve ser apenas a riqueza de bilionários, e não a riqueza vista como a aferição de renda que o trabalho gera em todos os segmentos sociais, favorecendo tanto os que, como Eguchi, têm um salário muito bom, compatível com suas funções de policial federal, como favorecendo também os feirantes, que dão um murro danado para conquistar o mínimo que lhes permita viver com pouco, mas dignamente.
O Ver-o-Peso, nesse contexto, é um mundo desconhecido para Eguchi, porque povoado de trabalhadores. Talvez o delegado tenha ido à feira para submeter suas teses a uma experimentação prática. Mas deu no que deu.
E Eguchi deve ter ido embora do pedaço confirmando que o seu mundo é o dos empresários.
Para Eguchi, o mundo deslumbrante, encantador, quase hipnótico é o mundo de empresário gerando riqueza, e não de trabalhador, que também gera riqueza, ora. Mas não a riqueza no sentido como a entende o delegado.
O Ver-o-Peso é um mundo estranho para o Delegado Federal Eguchi.
Da mesma forma como o Palácio de Buckingham foi um mundo estranhíssimo, ainda que fantástico, para Armstrong, Collins e Aldrin.
Mais fantástico que a Lua.
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ResponderExcluirA bolsoberania praticada em redes sociais e o mundo real
Os EUA e a Europa conseguiriam enquadrar a China? Na realidade atual, os EUA e Europa têm que conviver em constante estado de atenção, negociar e manter as relações comerciais e tecnológicas com a China?
No entanto, julgando-se sábios e estrategistas “padrão Trump”, os Bolsonaros insistem em provocar o gigante asiático. A China, instigada, reage imediatamente. Os chineses murmuram um “tsc tsc...” e, segurando o sorrisinho “padrão chinês“, aproveitam mais uma oportunidade para enquadrar os Bolsonaros e por tabela o Brasil, ao reafirmarem com todo palavreado e entrelinhas diplomáticas, que estão no controle da situação, com o dinheiro, com a faca e o queijo na mão.
Os Bolsonaros agem como se fossem uma só pessoa portando a faixa presidencial. Ousados e confiantes, imaginam que estão no comando de um poderoso exército virtual estruturado em redes sociais, escudados por blogueiros e jornalistas da imprensa amiga, e partem para o confronto com a China. Piada, ou bem preparados praticantes da idiotia como método?
Despreparados, não aprendem que ao cutucar a China com vara curta sempre terão que pôr o rabo entre as pernas e deletar rapidinho o que escreveram ou disseram em lives. Em seguida, com caras que nada fizeram de errado, torcem para que o time de ministros e assessores “se virem nos 30” e coloquem panos quentes, diplomaticamente remendem e, importante, sem se descurar da honra e soberania nacional.
Situações vexatórias e perfeitamente evitáveis. À cada episódio dessa natureza envolvendo a China, ou outros países e órgãos da ONU, o Brasil vai colecionando descréditos e desconstruindo sua histórica e conceituada representatividade diplomática. Entretanto, para a tranquilidade momentânea da nação, o Brasil tem consciência que é um respeitável expoente mundial no fornecimento de commodities – mas, tem alguns poréns e logo se dá conta que, sistematicamente, é obrigado a procurar e aceitar investimentos e participações societárias de poderosos grupos estrangeiros, principalmente chineses.
Qual seria o resultado a médio e longo prazos para o Brasil, após forçadas ”parcerias internacionais” para a infraestrutura, explorações de recursos naturais e do fabuloso potencial agrícola? Os pensantes que assessorarão um possível governo adaptado à realidade imposta pela dependência a uma ou outra potência mundial, teriam que procurar interessantes variações para o atual significado da palavra SOBERANIA?
O Bolsonaro e filhos ajudantes de presidência não foram eleitos para, em nome do Brasil, praticarem marotices e ofensas a outras nações, instituições e seus representantes. Eles foram eleitos para servir ao Brasil. Ou, seriam movidos por inconfessáveis desejos metodicamente idioritários?
AHT
26/11/2020