domingo, 1 de março de 2009

Sobrou para Aécio Neves

SERGIO BARRA

Não é muito comum estarmos ancorados em idéias alheias, o que não significa abandonarmos as nossas - ao contrário. A seleção do que é publicado diariamente pela mídia é qualquer coisa de assustador. É preciso imaginar o que vai ser comentado, lido ou assistido. Também é preciso "raciocinar em bloco" - lembram das sátiras nas páginas d'O Pasquim? Será que Aécio Neves (MG) foi albaroado mais "de caso pensado" do que propriamente "por tabela"? Será que o senador Jarbas Vasconcelos (PE) mirou nos peemedebistas José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), mas acabou acertando no governador das Minas Gerais?
É até provável que nunca antes, na história deste país, o PMDB jamais tenha visto, em toda sua existência, um peemedebista falar tão mal da própria legenda. Há os que acreditam ou suspeitam que o senador possa ter agido para beneficiar o governador paulista José Serra (SP), concorrente de Aécio na disputa pela vaga de candidato a presidência do PSDB. Trata-se, por exemplo, do caso do líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que vem acalentando o sonho de filiar Aécio ao PMDB para transformá-lo em candidato em 2010.
O encadeamento de argumentos neste caso é que, uma vez fora do tucanato, a alternativa que oferece a maior estrutura a Aécio para enfrentar o próprio Serra na corrida sucessória é o PMDB. Enodoado nacionalmente pelos ataques de Jarbas, no entanto, o partido deixa de ser opção e Aécio passa a representar menos risco ao projeto de Serra de poder.

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“As denúncias públicas de Jarbas Vasconcelos tachando o partido de "corrupto" fez baixar a apreensão e acendeu a desconfiança. Analisadas as perdas e os ganhos, decidiu-se tentar não provocar, trabalhar em silêncio para a poeira baixar.”
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Dia desses, o xadrez de José Serra isola Aécio pela segunda vez: a primeira rasteira foi quando conseguiu o apoio de Orestes Quércia, o grande cacique paulista do PMDB, para as eleições de 2010. A segunda, com fama de belicoso e desagregador, o governador paulista deu uma aula de habilidade política ao nomear o ex-governador Geraldo Alckmin seu secretário de Desenvolvimento. Numa tacada de mestre, Serra conseguiu alguns feitos. Atentem:
* Neutralizou um adversário incômodo dentro do tucanato paulista, o próprio Alckmin, desafeto antigo e ainda mais melindrado depois que Serra, nos bastidores, ajudou a eleger Gilberto Kassab (SP) prefeito de São Paulo. Alckmin, à época, já cogitava bater asas do PSDB, levando seu grupo político - o que seria mau negócio para o partido.
* Apropriou-se de um aliado importante do governador mineiro Aécio Neves, pré-candidato do PSDB, como Serra, a sucessão do Nosso Guia, em 2010. Aécio contava com a simpatia de Alckmin para seu projeto presidencial e digeriu mal o lance de Serra. Estimou que o adversário tenta criar um fato consumado para impedir prévias no PSDB e obter a indicação do partido por acordo político.
* Ofertou ao carente PSDB um nome forte para disputar a eleição de governador em 2010. Alckmin assume uma secretaria de visibilidade, com cofres cheios depois da venda da Nossa Caixa ao Banco do Brasil, e comandará em São Paulo a luta contra a crise econômica. Se tiver êxito terá percorrido boa parte do caminho para viabilizar sua volta ao Palácio dos Bandeirantes.
A turma que se angustia com pruridos se manifesta afirmando que quem trata Aécio como um trunfo do PMDB na sucessão se esquece de dizer que este trunfo está descartado há muito tempo e se deve ao fato da dificuldade de colocar todos os caciques regionais do partido em um único projeto de poder. O entendimento geral é o de que nenhum cacique leva o partido inteiro para nenhuma candidatura.
Vasconcelos afirma: "O Aécio é inteligente; sabe que o PMDB jamais poderia entregar a ele uma candidatura homologada em convenção". Ricardo Noblat, a propósito, escreveu que o desabafo de Jarbas tem uma pitada de cálculo político, pois "José Serra - governador de São Paulo e possível candidato do PSDB à sucessão do Nosso Guia - gostaria de ter Jarbas como seu vice". Jarbas considera "absurda e burra" qualquer especulação em ser vice na chapa presidencial se Serra - convite que, aliás, lhe foi feito em 2002 e ele recusou.
As denúncias públicas de Jarbas Vasconcelos tachando o partido de "corrupto" fez baixar a apreensão e acendeu a desconfiança. Analisadas as perdas e os ganhos, decidiu-se tentar não provocar, trabalhar em silêncio para a poeira baixar. Para o bem de todos e felicidade geral...
Sobrou para Aécio Neves.

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SERGIO BARRA é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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