Na entrada do Museu do Holocausto, em Curitiba, a voz de uma de suas vítimas. (Foto: divulgação) |
Após proclamarem barbaridades assustadoras, nada como um dia atrás do outro para que seus autores se mostrem capazes, no mínimo, de refletir seriamente sobre a gravidade de suas condutas.
Há duas semanas, Monark, o youtuber que defendeu a legalização de um partido nazista no Brasil. Quando fez isso, estava bêbado - conforme ele mesmo confessou.
De nada adiantou a desculpa de que os efeitos de uma eventual embriaguez eximiriam suas culpabilidades, porque tal desculpa não é acolhida nem pelo bom senso e nem pelo Código Penal Brasileiro.
Enfim, Monark foi demitido pelo Podcater Flow, banido do YouTube, xingado, linchado moralmente e chegou a proclamar-se um injustiçado, ao julgar que as reações foram desproporcionais à sua conduta.
Mais eis que, nesta terça-feira (22), um seleto grupo de 13 pessoas fez um visita guiada ao Museu do Holocausto, em Curitiba. E lá estava ele - incógnito, discreto, calado, silencioso, recolhido intimamente ao impacto do que via e ouvia. E lá estava ele - desta vez, sóbrio.
Lá estava Monark, que reagiu assim quando lhe foi perguntado sobre a visita ao museu: “Foda demais”.
Tomara que outros como Monark não precisem ser linchados, xingados, banidos e cancelados para só então caírem na real depois da visita a um museu.
Tomara!
Leia, a seguir, a reportagem do jornal Plural, que acompanhou com exclusividade a visita de Monark ao Museu do Holocausto.
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Na tarde do último dia 22 de fevereiro um grupo de 13 pessoas fez uma visita guiada comum ao Museu do Holocausto, em Curitiba. Com exceção da reportagem do Plural e da equipe da instituição, os demais visitantes não notaram que entre eles estava o youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark. O comunicador de 31 anos deixou o podcast Flow depois de dizer que o partido nazista deveria ter o direito de existir.
“Cancelado”, Monark foi convidado pelo Museu a ir visitá-lo. “A gente achou que essa abordagem seria mais construtiva”, explicou ao Plural o coordenador-geral do Museu, Carlos Reiss. O próprio Reiss conduziu a visita, que começou num pátio externo, com a explicação de que a missão do local é desmistificar alguns mitos em torno do nazismo e do holocausto e mostrar os elementos que foram compondo o contexto que permitiu que essa tragédia – e muitas outras – acontecesse.
Logo no início da visita o coordenador de História do museu, Michel Ehrlich, explicou que os nazistas chegaram ao poder pelo voto. “Eleições não são garantia de democracia”, ressaltou. E explicou os riscos de permitir que um grupo que é contrário aos valores democráticos participe do processo eleitoral. Na sala, uma pilha de livros lembra a censura nazista à literatura (e que não se restringiu a ela) e um painel expõe o conteúdo antissemita promovido pelos nazistas.
Entre vários cartazes, Ehrlich destacou um que mostra uma reedição dos Protocolos dos Sábios de Sião, um texto antissemita falso criado no século XIX e que promovia a ideia de que havia um pacto judeu de dominação mundial. Segundo Ehrlich, o texto foi criado pela polícia secreta russa no século XIX, mas foi importante na propaganda antissemita nazista, num contexto de crise econômica e de busca de “culpados”.
“Quem escreveu, desenhou, falou pode não ter colocado ninguém na câmara de gás, mas tem responsabilidade. Palavras têm responsabilidade”, disse diante de um Monark calado, com as mãos nos bolsos do bermudão preto. Ao lado da capa da reedição nazista do Protocolo dos Sábios de Sião, livros infantis e propaganda antissemita. Tudo ajudando a sedimentar a ideia de que os judeus eram um mal.
Em outras salas e durante todo o tour, Reiss e Ehrlich insistiram em como a demonização dos judeus e a liberdade com que o discurso nazista circulava foram construindo condições para quem milhões fossem exterminados. “Não começa com a estrela amarela na roupa, com os trens para campos de concentração”, disse em outro momento Ehrlich. “Começa com a agressão verbal, a desumanização”.
Diferente de outros museus do Holocausto, o de Curitiba não apresenta instalações destinadas a sublinhar a enorme dimensão do massacre perpetuado pelos nazistas (no museu do Holocausto em Washington, um corredor de milhares de sapatos de pessoas mortas nas câmaras de gás impacta o visitante logo na entrada). O foco aqui é em histórias individuais, de quem morreu e de quem sobreviveu.
A exposição acaba num painel que aponta outros genocídios da história recente e episódios de alerta. Antes de agradecer a todos pela visita Reiss disse que “se vocês saírem achando que isso não ter nada a ver com vocês, a gente falhou”. E resumiu que o objetivo é que as pessoas entendam que “têm responsabilidade por aqueles que estão em volta”.
Sem ser reconhecido pelos demais visitantes, Monark ouviu em silêncio as apresentações, interagiu com alguns itens e não fez nenhuma pergunta. Ao lado dele, um motorista de aplicativo disse querer saber mais sobre a história para “entender o momento que estamos vivendo”.
O casal Raquel Pereira dos Santos e Francisco Santos Lima só soube do colega de tour célebre quando a reportagem do Plural os abordou na saída. Para Raquel, a reação ao comentário de Monark é justificada. “Tem que cancelar mesmo, é um absurdo”. A advogada explicou que foi fazer a visita “para entender o momento político”. “É um tema muito latente”, completou.
Ao fim da visita, a reportagem do Plural perguntou a Monark o que ele tinha achado. “Foda demais”, respondeu e explicou estar num período de silêncio. O youtuber, que no Instagram disse estar curtindo “férias forçadas de cancelamento”, agradeceu a recepção e os livros que ganhou de presente da instituição (um deles, com respostas a dúvidas frequentes sobre o Holocausto). “Sinto que eu precisava”, concluiu antes de ir embora.
Serviço: Para visitar o Museu do Holocausto é preciso fazer cadastro e agendamento aqui.
Bem, museus são mesmo fonte de conhecimento, da história dos povos, da civilização. Importante as colocações do motorista de aplicativo e da advogada, de que ali estavam para saber mais sobre a história, para entender o momento que estamos vivendo.
ResponderExcluirAqui chego ao que quero expressar : quer aprender sobre história, quer saber sobre personalidade X ou Y, quer saber como aquela bandeira na lua aparece tremulando quando lá não há ar/vento? Vá a um museu, leia bons livros, assista a bons filmes/documentários, CONVERSE com pessoas cultas, que têm o que te dizer e informar, consulte bons sites , leia bons jornais, leia bons blogs.
Infelizmente, hoje a maioria dos brasileiros é formada na Universidade WhatsApp ou na Faculdade Facebook, duas instituições de ensino classificadas com a letra E pelo MEC e que formam milhares de "Tudólogos" a cada dia. Qualquer merda que ali postem, é considerada a mais pura verdade. É um tal de "recebi de um médico da minha mãe", ou "professor universitário", etc.
Vejam os "influencers" que pululam na internet. A grande maioria não tem qualquer preparo intelectual sobre os assuntos que opinam, arrostando um pseudo conhecimento que levam seus incautos seguidores a somar, a cada dia, mais um grau em sua burrice auto-alimentada.
Ainda que esse imbecil do Monark, sujeito iletrado, despreparado, dinheirista, carreirista e oportunista , além de desrespeitoso com seus ignorantes "seguidores", ao fazer um programa bêbado, queira demonstrar que "quer aprender", não acredito nele, pela índole, ou quiçá, pela falta de indole.
Quando a coisa pega no bolso, é batata : na mesma hora a pessoa pede desculpas, diz que se expressou mal ou os repórteres distorceram suas palavras, etc, etc. É o bolso vazio que os faz ficar arrependidos rapidinho. A mim não enganam.
Importante o que o guia do Museu disse : o nazismo chegou ao poder pelo VOTO, ou seja, a democracia também pode empoderar nazistas e fascistas. Sei bem , de família, o que foi o nazismo. Meu bisavô morreu nas mãos deles, e minha avó teve uma biblioteca com mais de 20 mil livros sumariamente queimados.
Livros esses que, talvez, pudessem clarear e educar a mente de imbecis como esse tal de Monark e milhares de fascistas e nazistas que perambulam por aí. Aí incluído um tenentinho golpista com pendores a ditador.