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Placa pichada por ativista, que invocou, para seu ato, lei em vigor desde 1977, dez anos antes da inauguração do estádio Colosso do Tapajós, vulgo Barbalhão. |
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Na placa pichada, o Barbalhão está de volta após, digamos assim, uma caprichada restauração. (A foto é desta quinta (4) e foi mandada ao Espaço Aberto por leitor que prefere não se identificar) |
O pouco apreço - ou o colossal desapreço, como queiram - com que se trata o patrimônio público no estado do Pará, de um banco de praça a um estádio de futebol com potencial para abrigar mais de 20 mil pessoas, acaba resvalando para deploráveis situações em que a impessoalidade que deve presidir atos e condutas na gestão publica é atropelada letalmente por interesses políticos episódicos, fortuitos, fugazes e, por último mas não menos importante, eleitoreiros.
Uma comprovação colossal do que se acaba de dizer está na reforma do estádio de Santarém, que uns chamam de Colosso do Tapajós, outros de Jader Barbalho, outros mais de Barbalhão. E quem chamá-lo de coisa nenhuma também não estará errado, porque até agora não se sabe ao certo qual a denominação oficial da praça de esportes santarena, a maior do estado, depois do Mangueirão, de Belém.
O estádio voltou ao centro das atenções, nos últimos dias, por duas razões. Primeiro, porque o governo Helder Barbalho anunciou uma reforma que vai custar R$ 94 milhões e deve aumentar sua capacidade dos atuais 8.500 para 23 mil espectadores. Segundo, porque a afixação da placa que anuncia as obras, nominando-as como Reforma e ampliação do Estádio Colosso do Tapajós/Barbalhão, acabou ensejando ocorrências que, literalmente, foram desaguar na esfera policial.
Caso de polícia - É que, no início desta semana, o cidadão João Batista, apontado como ativista político, foi ao local e, munido de spray, pichou o termo Barbalhão que constava da placa. Para isso, invocou corretamente lei em vigor desde 1977, que proíbe atribuir-se nome de pessoa viva a bens que integram o patrimônio público. Na quarta-feira (3), Batista foi à 16ª Seccional de Polícia Civil registrar um boletim de ocorrência, alegando que sua casa fora invadida por policiais sem mandado judicial (a versão da Polícia é de que a mãe dele, dona da casa, permitiu a entrada dos agentes para intimar o filho). Na seccional, o ativista envolveu-se num bate-boca com policiais e acabou preso na Penitenciária de Cucurunã. Ele foi solto no início desta tarde.
Batista é figura polêmica na cidade. Em agosto deste ano, ele foi até o Sistema Tapajós de Comunicação (STC), afiliada à Globo, para exigir da emissora direito de resposta por não concordar com um termo utilizado em reportagem sobre um lixão. Nos atos de 7 de Setembro deste ano, em que bolsonaristas foram às ruas para pregar, entre outras coisas, um golpe de estado e a invasão de prédios como o do Supremo Tribunal Federal, ele gravou um vídeo em que aparece em frente ao STF fazendo duros ataques à Corte.
Disputas políticas - Excentricidades ou polêmicas à parte, a questão central neste debate é que a simples denominação de um estádio de futebol é um combustível que alimenta disputas políticas intermináveis - e às vezes fúteis. No caso do Colosso do Tapajós, por exemplo, o estádio passou a ser chamado de Barbalhão desde que foi inaugurado, em março de 1987, pelo hoje senador Jader Barbalho (MDB), que então estava no fim de seu primeiro mandato como governador do estado.
Não há qualquer informação oficial e comprovadamente confirmada de que o estádio, em algum momento ao longo de seus 34 anos, recebeu formalmente, através de um ato oficial qualquer, a denominação de Estádio Jader Barbalho, ou mesmo, vejam só, de Estádio Municipal Jader Fontenelle Barbalho, grafia que se encontra inclusive na Agência Pará (veja aqui). A praça esportiva não é do município. Nunca foi. É do estado. Tanto é que as obras de reforma serão realizadas diretamente pelo governo do estado, através da Sedop.
Quando é que o Estádio Jader Barbalho ou Estádio Municipal Jader Fontenelle Barbalho (hehe) passou a ser chamado mais corriqueiramente de Colosso do Tapajós? Foi mais ou menos a partir de 2005, em parte porque boa parte da população de Santarém se agastava com a menção a Jader. A partir de 2011, quando o tucano Simão Jatene começou a governar o estado pela segunda vez, a denominação Colosso do Tapajós passou a ser usada mais intensamente, inclusive nas matérias oficiais (a Agência Pará está cheia. Procurem lá).
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Diário do Pará de hoje: Colosso do Tapajós |
Projeto de Nélio Aguiar e ação do MP - Em 27 de fevereiro de 2013, tentou-se colocar, como se diz, o preto no branco através de um projeto de lei apresentado na Assembleia Legislativa. A proposição era singela. Tinha apenas dois artigos. O primeiro dizia assim: "Passa a denominar-se Estádio Colosso Tapajós o atual Estádio de Futebol Jader Barbalho, localizado na cidade de Santarém-Pará, Oeste Paraense." Pronto. Só isso. Autor? Nélio Aguiar, então deputado, hoje prefeito de Santarém e aliado de Helder Barbalho. Não há informação de que o projeto tenha sido votado, aprovado e virado lei.
Quatro anos antes de o projeto de Aguiar ser apresentado, ou seja, em 2009, o Ministério Público do Estado, por meio dos promotores de justiça Hélio Rubens Pinho Pereira e Danyllo Pompeu Colares, ingressou com Ação Civil pública contra o Estado e a Prefeitura de Santarém para obrigar a mudança de denominação do estádio Estadual de Futebol Jader Fontenelle Barbalho, conhecido como Barbalhão.
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Diário do Pará de segunda-feira: Estádio Municipal "Jader Fontenelle Barbalho". |
"O desvio de finalidade também é citado na ACP, uma vez que o político que iniciou a construção do estádio resolveu, humilde e republicanamente, conferir-lhe seu próprio nome, como se bem privado fosse. E destaca que a finalidade nefasta de autopromoção é evidente, o que impõe a anulação do ato que atribuiu nome ao estádio, devendo o Estado do Pará promover a renomeação do Estádio de Futebol localizado em Santarém", diz trecho da matéria divulgada pelo próprio MP.
Pelo sim, pelo não, e talvez para evitar que as repercussões da polêmica decorrente do nome oficial e da destruição da placa pelo ativista santareno suplantem os efeitos políticos do anúncio das reformas pelo governo do estado, o Diário do Pará, da família Barbalho, estampa em sua edição desta quinta-feira (31) uma surpresa: contrariando grafia que usa em suas páginas desde que o estádio foi inaugurado, há mais de 30 anos, o jornal usa em manchete, na matéria de abertura da página B3, a expressão Colosso do Tapajós para referir-se ao ex-Barbalhão.
A nova grafia chama ainda mais atenção porque na última segunda-feira, 1º de novembro, ao anunciar as reformas, o Repórter Diário, principal coluna do jornal, ainda usa Estádio Jader Fontenelle Barbalho para referir-se ao Barbalhão; ou melhor, ao Colosso do Tapajós.
Mas até quando o Colosso do Tapajós continuará sendo Colosso, e não Estádio Municipal Jader Fotenelle Barbalho (hehe)? Aguardemos ansiosamente.