quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Olha a Beija-Flor aí, geeeenteeee! E a ditadura também.



Mas que beleza, hein, meus caros?
A Beija-Flor, pela 13ª vez, é a campeã do carnaval carioca.
"Desfile impecável", "desfile perfeito", "uma escola que desfilou correta como sempre", "linda", "exuberante".
É isso que todos disseram da Beija-Flor, inclusive muitos coleguinhas, experts em carnaval e desfiles na Sapucaí.
Exagero?
Adjetivação excessivamente abundante?
Nem tanto.
A escola de Nilópolis foi, sim, impecável, perfeita, correta como sempre, linda e exuberante.
Mereceu, certamente, o título.
Mas, afinal de contas, qual é a ética que orienta este Brasil democrático, quando se orgulha de certas coisas sem atentar para as circunstâncias que as engendraram?
A Beija-Flor recebeu um bufunfa de R$ 10 milhões de uma das ditaduras mais sanguinárias e corruptas do mundo, que dirige os destinos de Guiné Equatorial por cerca de 30 anos.
O ditador-presidente, que atende pelo nome de Teodoro Obiang Nguema, e sua família gastaram, ali por volta de 2011, uma fortuna nos Estados Unidos.
Passaram a mão na bolsinha e compraram de imóveis até roupas em lojas como Dolce & Gabanna e Louis Vuitton, coisa pouca, muito pouca para um governante que já foi apontado pela Forbes como o mais rico do mundo.
Informações do site 100Reporters indicam que Teodorin, filho do ditador e ministro de Florestas do país, usou recursos provenientes de lavagem de dinheiro para comprar uma mansão de US$ 30 milhões em Malibu, em Los Angeles, um jatinho particular e até relíquias que pertenceram a Michael Jackson – como a luva encravada de cristais usada pelo astro pop na turnê do álbum “Bad”.
Na Guiné Equatorial, oposicionistas ao governo de Obiang estão literalmente condenados à morte. O organismo internacional Transparency International, inseriu a Guiné Equatorial na lista dos “Top 12” dos Estados mais corruptos do mundo.
Guiné Equatorial desponta no US Trafficking in Persons Report, de 2012, como fonte e destino para mulheres e crianças vítimas de trabalho forçado e tráfico de sexo.
O mais bacana é esse trecho do samba da escola campeã:

Nego canta, nego clama liberdade
Sinfonia das marés saudade
Um africano rei que não perdeu a fé
Era meu irmão, filho da Guiné

[...]
Eu vi a escravidão erguer nações
Mas a negritude se congraça.
A chama da igualdade não se apaga.

Hehehe.
A negritude se congraça.
Onde? Na Guiné?
A chama da igualdade não se apaga.
Igualdade? Onde? Na Guiné?
Vish!
Beija-Flor: impecável, perfeita, correta como sempre, linda e exuberante.
Mas, afinal de contas, qual é a ética que orienta este Brasil democrático, quando se orgulha de certas coisas sem atentar para as circunstâncias que as engendraram?

3 comentários:

  1. Vivemos uma nova era; ética? moral? respeito? leis? masquandu?!

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  2. Ismael Moraes19/2/15 18:40

    Bemerguy, são sempre imprescindíveis observações como as suas para não perdermos os referenciais éticos que cada vez mais deixamos de ter neste país.

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  3. Enquanto parte do povo pula... os criminosos deitam, rolam e dançam.20/2/15 18:20

    Carnavais de tempos idos, até beijavam a flor - que,
    em retribuição, ficava mais exuberante.
    Tempos de carnavais bancados também com dinheiro
    do Jogo de Bicho, uma contravençãozinha salutar...
    um pecadinho venial, diriam alguns.

    Tempos de competitivos e de grandiosidade na avenida,
    haja dinheiro!
    "Escolas" (?) de Samba transformadas em empresas.
    Haja dinheiro, muitos para mamar nas tetas e,
    durante o ano inteiro, minha gente!
    Pela sobrevivência e vida de eterno carnaval
    vale beijar até dinheiro sujo.
    Não importa se dinheiro de sanguinários ditadores,
    do suor de povo escravos, verdadeiramente.
    Triste fim...
    Muitos dirigentes e puxa-sacos putrefatos,
    se beijarem uma flor, ela morre.

    Agora...
    Pecados graves, mortais.
    Samba traído, coisa tola do passado. Funk é a vez!
    Olha o resultado aí, gente!
    Brasil transformado em uma grande "Escola",
    onde samba e honestidade
    causam sentimento de vergonha?

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