sexta-feira, 14 de março de 2014

A máquina estatal de moer reputações

Comprem.
Comprem logo, meus caros.
Comprem e leiam.
Lendo, contenham-se para não se assustar.
Porque é assustador o que se lê em Assassinato de Reputações - Um Crime de Estado (Editora Topbooks, 560 páginas).
É assustador ver o aparato estatal servir de instrumento para saciar insaciáveis pretensões de moer a honra de personagens escolhidos a dedos.
É assustador ler o que não é propriamente um relato, mas um depoimento, um testemunho de quem, tendo feito parte das engrenagens do poder, acabou tendo a sua reputação moída, por força não apenas de circunstâncias, mas em decorrência de deliberados posicionamentos colidentes com o sentido com que se movimentavam os trituradores do Planalto.
O depoimento, o testemunho é de Romeu Tuma Junior, que conta histórias de assustar.
Com uma longa trajetória na polícia e com passagem pela política, ele foi parar na Secretaria Nacional de Justiça.
Ali, na condição de policial de carreira, de político e de gestor ocupando episodicamente uma função de relevância no coração do poder do governo Lula, ele viu - e conta em detalhes - como os dossiês são formados.
Relata, fartando-se de expor fatos, o modus operandi de uma polícia que frequentemente se subordinou aos interesses não do Estado, mas de um governo, de um partido e de poucas pessoas, todas elas expressando as preferências e deliberação da cúpula.
Tuma Junior fala de Lula, o Barba, codinome pelo qual era conhecido o então sindicalista Lula, depois presidente Luís Inácio Lula da Silva, informante e camarada de Romeu Tuma, o falecido senador que antes de despontar na política fez-se nacionalmente conhecido como o xerife da Polícia Federal.
"Na ditadura, Lula foi um dos mais importantes informantes do Dops capitaneado pelo meu pai", diz Tuma Junior sem rebuços. "Lula combinava as greves com empresários e avisava o Dops", reforça. "Alguém há de perguntar: Lula recebia dinheiro por essa colaboração com meu pai? Não. Contudo, até as crianças sabem que informação é poder, e ele era o mestre no escambo de informação em troca de poder, sob os militares. Mas regalias e deferências que dinheiro nenhum compra, isso nunca lhe faltou", revela o autor.
Tem muito mais.
Tuma Júnior diz que caiu em desgraça e acabou sendo fisgado pela Operação Trovão e suas ilegalidades porque, entre coisas, arrostou as tentativas de tornar a SNJ parte da engrenagem que, conforme ilustrou em várias passagens do livro, tinha como objeto da investigação não o crime, mas o criminoso.
Mesmo sem ter sido indiciado e ainda que não tenham sido coletadas provas capazes de incriminá-lo ou enredá-lo por suposto envolvimento com aquilo a que chamaram de máfia chinesa do contrabando, Tuma Junior viu-se alcançado pelos tentáculos da máquina de moer reputações porque deu seguimento a providências que, se concluídas, poderiam esclarecer se uma conta numerada no exterior pertencia ao ex-ministro José Dirceu e, em consequência, seria a conta-mãe do mensalão.
Também atribui a perseguição e as perfídias de que foi alvo a uma deliberação indeclinável sua de atuar para que fossem bloqueados, no exterior, recursos do Opportunity, banco do empresário Daniel Dantas, que logo depois, "generosamente, doou ou foi instado a doar, nas eleições daquele ano, um milhão e meio de reais para o diretório nacional do PT".
"Não era e não sou ladrão: nunca fui indiciado, denunciado ou, obviamente, condenado. Meu nome e tradição, herdados do meu pai, seguem maciçamente incólumes", arremata Tuma Junior.
Comprem.
Comprem e leiam.
E contenham-se para não se assustar.
Ah, sim.
Com esse tsunami investigatório que toma conta da Câmara dos Deputados, após o deflagrar da crise entre PMDB-PT que deve levar dez ministros do governo ao Legislativo para apresentar explicações sobre vários temas, o delegado Romeu Tuma Junior também teve aprovado um convite para que conte um pouco do muito que sabe.
E mesmo se contar um pouquinho do que sabe, estará espalhando no augusto recinto do Congresso nitroglicerina pura.
Das mais puras.

4 comentários:

  1. Comprem, cumpanherus....

    ResponderExcluir
  2. Sobre o livro de Tuma Jr., creio que é relevante informar os leitores desse prestigiado blog sobre o depoimento de Mino Carta, da revista Carta Capital, que conduzia a edição do projeto original do livro de Jr. e diz que foi surpreendido pelo lançamento da publicação que vc resenha: http://robertoalmeidacsc.blogspot.com.br/2013/12/mino-carta-e-o-livro-de-romeu-tuma.html

    ResponderExcluir
  3. Ele tem credibilidade?

    ResponderExcluir
  4. Pra cumpanheru, ninguém tem credibilidade, é simples assim.
    Nem STF, nem ninguém; eles se acham seres superiores, da seita lulopetista.
    Vejam no mensalão: os banqueiros e intermediários levaram o farelo, penas pesadas; para os "heróis presos políticos", regime semi-aberto, nada de formação de quadrilha.
    Minaram até o Supremo.
    Esqueceram que Lula afirmou que fazia o que "todos" faziam: caixa dois.
    Ou melhor: recursos não contabilizados.
    Ô pais sem vergonha.

    ResponderExcluir