Da jornalista Ana Diniz, em seu blog Na Rede, num artigo que dá seguimento ao primeiro, sobre a proposta de divisão do Pará.
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Entro de novo na discussão para comentar alguns e-mails que tenho recebido sobre este assunto. Vou colocar em itens, para ficar mais fácil.
Ficaríamos mais fortes?
Participo de ações políticas há mais de quarenta anos. Participei de eleições nacionais em vários níveis, desde a extinta UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), na remota década de 1960, até à última para Presidente da República. Todas as campanhas, realizadas nas mais diferentes condições e com os mais diferentes articuladores, tiveram um ponto em comum: começa-se pelo Norte, “para liquidar logo esse assunto”. Várias dessas campanhas foram para eleições indiretas, com as da UNE, em que os eleitores eram os Estados, ou a eleição de Tancredo/Sarney. O Norte não é mais longínquo que o extremo Sul. Ocorre que na democracia de multidões são estas que conferem poder às representações, sejam federativas ou não. A pressão da base – como se dizia nas campanhas estudantis – ou das “minhas bases”, como dizem os deputados – faz diferença.
Descobri desde cedo que a única forma de enfrentar “a pressão da base” era tirar vantagem da posição estratégica do Pará, tanto geográfica como econômica. A histórica insubmissão paraense, que se expressa até em campos de futebol, quando o povo se recusa a interromper o hino nacional, é um sinal amarelo permanente em Brasília, nunca expresso claramente, mas demonstrado em centenas de episódios: a criação do GETAT (Grupo Executivo de Terras do Araguaia-Tocantins), a desvalorização da Cabanagem, enquanto episódio histórico, a criação do Parque do Tumucumaque, e, mais recentemente, a criação de um grupo estratégico sobre o Marajó, sem participação do governo do Pará, e a ponte inconclusa sobre o Oiapoque. Divide et impera, disse Júlio César, repetido, ao longo do tempo, por, entre outros, Maquiavel, Luiz XI, Kant e Napoleão.
Constatei também que somente uma vez a cada legislatura (ou seja, a cada quatro anos) a bancada da Amazônia no Congresso consegue reunir seu peso e investir em alguma causa. Mais dois Estados não mudarão o compasso da valsa.
Não, não ficaremos mais fortes, pelo contrário. Passaremos alguns anos vitais repartindo o pouco que temos, enquanto o cavalo selado do bom momento econômico galopa em todo o Brasil.
O Tapajós pode ir...
Tenho ouvido, e lido alguns números, sobre uma predisposição da população de Belém em se recusar a entregar o Carajás e deixar partir do Tapajós.
Talvez que essa posição decorra de estar o Tapajós mais distante. Mas penso eu que é porque, na imagem publicitária que se criou, ao longo do tempo, para as duas regiões, o Baixo Amazonas e o Oeste do Pará ficaram como regiões selvagens, vazios custosos de manter.
O que a maioria da população ignora, entretanto, é que são as regiões selvagens do Pará o maior patrimônio realmente nosso. Pela Constituição, todo o subsolo brasileiro é da União Federal, bem como os recursos hídricos. O solo e tudo o que está em cima dele é dos Estados. Os parques e reservas federais são apenas uma pequena parte do patrimônio florestal do Pará. Floresta e água são os recursos estratégicos deste século globalizado, em que o controle da foz de um rio como o Amazonas perde importância. Por isso, a região projetada para o Tapajós é tão importante quanto a projetada para o Carajás. O Sudeste do Pará é o hoje; o Oeste e o Baixo Amazonas é que nos permitirão negociar vantagens nas próximas décadas.
O Pará é grande demais!
O Brasil é maior ainda – e ninguém pensa em dividi-lo só por isso. O tamanho do território não importa, quando a administração é adequada. E, para isso, é preciso, principalmente, dinheiro.
Conterrâneos do Sudeste e do Sudoste do Estado se queixam de falta de acesso a isso ou aquilo. Vou transcrever, aqui, um pequeno trecho de uma dissertação de mestrado realizada em 2010 na ilha do Combu, que é parte de Belém, capital do Pará:
Em termos educacionais, o índice de analfabetismo é muito alto, as escolas das comunidades funcionam apenas até a 4ª série do Ensino Fundamental. Os ribeirinhos enfrentam sérios problemas de saneamento básico e, no geral, não há programas de saúde dirigidos a essa população. Economicamente, a possibilidade de ascensão social é pequena, considerando-se o pouco domínio tecnológico embutido nos produtos que comercializam. Relegados ao abandono, algumas comunidades apresentam Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixíssimo, todos esses fatores contribuem para uma condição de vulnerabilidade social (Scherer, 2004), o que implica em uma invisibilidade política deste segmento da população.
A questão, pois, não é de distância ou de grandeza. É de administração e recursos.
Maravilha de análise, assino embaixo.
ResponderExcluirCara Ana,
ResponderExcluirEu pergunto vc conhece as regiões separatistas?
Mas é CONHECER!!! Não é falar aí dos escritorios como tem feito a maioria.
Até agora os maiores defensores só tem se utilizado do romantismo como argumentação, pois eles proprios sequer vieram por estas bandas, (Principalmente o DEp Zenaldo, que só quer se promover a prefeito de Belem.)
PRECISAMOS de argumentos mais sólidos tambem. Mas não me venham com "gestão" ou descentralização, porque nisso não cremos mais.
A divisão já existe de fato venha conhece-la no sul e sudeste deste Estado continental.
Meu amigo anônimo, eu nasci em Oriximiná!
ResponderExcluirJá estive em Santa Maria das Barreiras e em Novo Progresso, em São João do Araguaia e em Castelo dos Sonhos, em Laranjal do Jari e nos lindos rios São Benedito e Curuá. E você, conhece todos esses lugares? Já viu as águas azuis do Araguaia e o por-de-sol verde no Trombetas? A pista de pouso de Castelo dos Sonhos? As cicatrizes garimpeiras nas nascentes do Tapajós? O brilho de aço da volta grande do Xingu? O platô vermelho da serra dos Carajás?
Eu não sei qual é a sua "banda", mas depois de avaliar o poder de fogo expresso nas crateras da Serra do Cachimbo e na torre natural da Casa da Vale, eu sei a minha: é a do Pará. Inteiro.
Ana Diniz