quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O ovo da serpente

Por PAULO CIDMIL, produtor cultural

Há poucos dias, um breve comentário sobre a credibilidade da revista Veja que divulgou matéria sobre Santarém, produziu reações contrariadas e certa incompreensão sobre o que eu estava afirmando. O fato de fazer denúncias, com toda certeza procedentes, não passa atestado de honestidade ao denunciante.
Tenho a convicção que se o Governo Federal investisse 5 milhões mensais em publicidade na Veja, a onda de denúncias cessaria. E lhe garanto que não sobraria um jornalista, desses que ralaram para produzir as matérias e que agora estão super expostos, na redação da revista.
É fato que existe corrupção, já faz parte das entranhas da política nacional, está presente em todos os partidos, de A a Z. Também é fato que existe muito político honesto e que em alguns poucos partidos a corrupção ocorre de forma isolada, um diretório, uma prefeitura, um deputado não contaminando a instituição partidária como um todo.
O exercício da política não é para crédulos, nem tampouco para céticos. E o pragmatismo é o caminho dos oportunistas.
Fazer política é alimentar a esperança em dias melhores, é ter compromisso com os anseios coletivos e a determinação de estar sempre ao lado das demandas de interesse público.
Nosso país pós abertura e democratização viveu a experiência de um processo político rico, cuja maior força motriz foi essa esperança em dias melhores. Foram 21 anos sem a plena liberdade de expressão, e essa conquista foi como a retirada da tampa de uma panela de pressão.
Comparado aos dias de hoje, podemos até considerar um período romântico da política nacional. Época em que foi possível fazer política com idéias e projetos de transformação social, alimentados por ideologia e militância.
O poder do capital estava presente, os interesses econômicos e os setores mais conservadores da sociedade impediram as Diretas Já. Mas não conseguiram impedir que candidaturas sem nenhum apoio econômico saíssem vitoriosas das eleições.
Olívio Dutra e Alceu Colares se elegiam no Rio Grande do Sul, Brizola trazendo com ele uma enxurrada de desconhecidos deputados, se elegia no Rio de Janeiro. Luiza Fontenelle foi prefeita em Fortaleza; Luiza Erundina, prefeita em São Paulo. Assim, muitos deputados senadores e prefeitos se elegeram no país.
Em nossa primeira eleição para presidente foi quando presenciamos todas as forças econômicas, parte da mídia e conservadores de todos os matizes se mobilizarem para impedir a chegada de Leonel Brizola à Presidência. Fizeram o mesmo com Lula posteriormente e também nas duas eleições seguintes.
Mas até meados dos anos 90 ainda foi possível assistir à vitória das idéias com propostas de transformação e o discurso em defesa da ética saírem vitoriosos das urnas. Vimos Cristovam Buarque eleger-se governador em Brasília; Jefferson Peres, fazendo discurso em cima de caixote, eleger-se senador pelo Amazonas. Foi assim com Marina Silva, no Acre, Benedita da Silva no Rio de Janeiro.
Campanhas com pouco dinheiro e que alimentavam a esperança do povo na transformação social e dias melhores saíram vitoriosas. Ainda era a força das idéias, e da esperança que essas idéias injetavam na população, que elegia alguns bons candidatos.
Com o impeachment de Fernando Collor começou-se a construir no Brasil o mito da ingovernabilidade sem a construção da maioria parlamentar. O PSDB, que não tinha militância, mas tinha o poder econômico ao seu lado, iniciou o caminho da construção da aliança com os setores mais atrasados e perversos da política nacional em busca dessa maioria.
O PSDB inaugura o período do pragmatismo político, já praticado pelo PMDB e PFL, mas sem possibilidade de hegemonia na política nacional. O PSDB, sem militância, e com muito apoio financeiro, aliado a PFL e PMDB, começa a injetar rios de dinheiro nas campanhas políticas. Transforma os marketeiros em magos dos resultados.
São encantados com as campanhas americanas e nunca conseguiram realizar um arremedo de Congresso, seja do Partido Democrata ou Republicano. As mentes mais esclarecidas da política nacional são também as mais colonizadas, subservientes e deslumbradas com o dito primeiro mundo.
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