segunda-feira, 12 de setembro de 2011

"Ele apalpou analisou cada detalhe, cheirou, lambeu..."


Um Anônimo passou por aqui.
Passando, fez um comentário sobre a postagem Livro cheio de palavrões assusta alunos do Cesep Belém.
Diz lá o leitor - ou leitora, não se sabe:

Eu acho que existem mil e uma formas de trabalhar o livro e o tema. Caso as crianças já possuíssem o hábito de falar estes palavrões , acredito que a professora acertou em indicar a obra, se o intuito era depois trabalhar a questão de maneira que as crianças entendam que, apesar de ser comum muitas pessoas falarem esta linguagem, a mesma não é elegante. Os pais geralmente se enganam sobre o comportamento dos filhos principalmente no ambiente escolar.

Anônimo, fique certo: ainda que a intenção das professoras fosse a de trabalhar, digamos assim, o tema relacionado ao uso de palavrões por adolescentes, não haveria o menor cabimento de indicar esse livro como leitura.
Porque o palavrão é apenas um detalhe da obra.
Apenas um detalhe - mas nada desprezível, reconheça-se.
Se os palavrões estivessem soltos na história, vá lá que escape.
Mas não estão, Anônimo.
O livro, a título de trabalhar - usando a sua expressão - a questão do preconceito e da discriminação entre pessoas portadoras de deficiência, no caso, um deficiente visual, vai muito além dos palavrões.
Descreve situações explícitas que justificam um debate sobre a pertinência de uma obra como essa para alunos como os da 6ª Série de Língua Portuguesa do Cesep Belém.
Você quer um exemplo, Anônimo?
Você e os demais leitores do blog deem uma olhada nas imagens acima.
Cliquem nelas para que, ampliando-as, possam ler melhor.
Observem o trecho indicado a partir da seta vermelha, na imagem lá do alto.
Depois, passem para a parte de baixo, continuação da que está acima.
Esses trechos, vocês podem perceber, não tratam de palavrões.
Tratam da descoberta do órgão genital feminino, referido na obra como periquita.
Confiram ao final da segunda imagem o trecho em que o garoto, curioso por conhecer uma periquita, vê-se expectante (na expressão do autor) ao tomar contato com uma feita de barro.
Diz o trecho, grifado em vermelho:

Ele apalpou cuidadosamente, analisou cada detalhe, cheirou, lambeu...
- É assim?
- É.
- É isso que os homens gostam de comer?!

Fora de brincadeira: leitura assim, que relate a apresentação de uma periquita a garotos de 11, 12 anos, é leitura indicada para garotos de 11, 12 anos?
Como o blog já disse em comentário na postagem anterior sobre este assunto, não se venha dizer que leituras como essa são indicadas, sim, porque crianças de 11, 12 anos precisam ambientar-se à realidade, precisam tomar conhecimento das coisas do dia a dia.
É?
Então, vamos nos entender. Vamos, pelo menos, tentar nos entender.
Olhem, é verdade que muitos adolescentes de 11, 12 anos já têm até experiências sexuais.
Essa é a realidade.
É verdade ainda que adolescentes de 11, 12 anos sabem e chamam os palavrões contidos na obra. Uns mais, outros menos, todos chamam.
Essa é a realidade.
Mas se o objetivo mesmo é colocar esses jovens em contato com a realidade por meio de obras como essa, então por que também não colocá-lo em contato com as drogas?
Porque é uma realidade - triste realidade - adolescentes se drogarem.
E por que não colocá-los em contato com os motéis?
Eles, os motéis, existem. Lá, se passa uma parte da realidade do mundo.
Vejam, caros: uma coisa é debater os assuntos; todos os assuntos que vocês imaginarem - inclusive os delicados, os que se relacionam à formação sexual dos jovens, ao preconceito, aos palavrões, às drogas etc.
Outra coisa é a forma eleita, escolhida para fazer isso.
Esse debate aqui não tem fundo moral, compreenderam bem?
Não tem.
Até porque o blog entende o seguinte: cada um faz da sua vida o que bem entender.
A vida de cada um, do garoto de 10 anos ao adulto de 100 anos, é de cada um deles. Façam o que bem entenderem.
Aqui discute-se o caráter pedagógico dessas questões.
E o papel da escola em abordá-las.
Então, os escolados em atividades pedagógicas, inclusive as voltadas a adolescentes, é que precisam atentar para isto: a forma, a maneira de abordar essas questões.

7 comentários:

  1. Esse livro ensina até como pegar AIDS. Quanta estultice!

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  2. Pelo pouco que deu pra ler desses parágrafos o livro é ruinzinho e deve fazer um mal enorme a formação intelectual desses jovens...quanto a formação sexual....dá pra ver que as escolas ainda não estão preparadas pra isso.

    Cláudio Teixeira

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  3. Bom dia, caro Paulo:

    é o típico exemplo da nossa sociedade - entre o cinismo, a hipocrisia, a omissão e a conivência - de trabalhar "em cima do fato consumado". Ou seja, se os meninos falam palaavrões, vamos a eles! Se a sexualidade precoce é uma realidade, olé, viva a distorção!

    Parecido com a "nova classe média" da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Já que eu não posso melhorar as condições de plena cidadania, confundo-a com o acesso ao consumo e digo que a partir de agora, todos os brasileiros que recebem acima de mil reais chegaram à classe média, ou seja, ao paraíso.

    Pra tudo isso só o velho Brecht :"O que não sabe é um imbecil. O que sabe e cala é um criminoso"

    Abração

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  4. Cássio de Andrade12/9/11 15:29

    Faltava o anacronismo anti-petista recorrente da Bia para relacionar alhos com bugalhos. Isso já está virando neurose. Rs. Bom, Paulo, sua reflexão apresenta pertinência quanto ao uso didático da referida obra. Alguns elementos, porém não se sustentam. É fato que drogas e moteis são realidades, assim como o uso de palavrões e a manifestação precoce da sexualidade. Entretanto, amigos, até mudar a lei, drogas e frequentar moteis não são permitidos por lei ao universo da puberdade e da adolescência. Assim, incentivar o seu uso, seria incentivar o crime e a contravenção penal em desacordo com o ECA. Penso que a crítica à obra e seu uso pedagógico optou por um caminho marcado por trilhas superficiais. Precisamos sair da época da inocência, amigo Paulo, e perceber que a atual geração está ano-luz a nossa experiência quanto ao temário sexual em tela. Cuidado para que sua preocupação não se transforme em histérica manifestação de uma cruzada moral semelhante a que enfrentamos ano passado nesse país. O que fazem as crianças de nossa classe média (a real, não a produzida pela esquizofrenia ideológica da Bia) na escolas, em sala e fora, ruborizam nossos sentimentos mais cândidos. Devagar, amigo, devagar... (sem interpretações libidinosas! Rs.)

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  5. Boa noite, caro Paulo:
    Boa noite, Cassio:

    Cássio, não nos percamos entre alhos e bugalhos e nomeemos os bois claramente. Ser anti-petista é criticar a posição da SAE, que nem o IPEA não referenda? Céus! Sou anti-dessesista e não anti-petista por princípio. E esse é o laço que nos desune...rsrs..

    Meu comentário destacou aquilo que reforço: useira e vezeiramente(gostou, Paulo?) alarga-se, ajusta-se, "moderniza-se" o discurso para que ele contemple nossa vil realidade educacional e estatística. Quem não faz isto corre o risco de - Oh!!! - alimentar "... histérica manifestação de uma cruzada moral."

    Reitero meu comentário. Não sou "pós moderna". Fico com o velho Brecht. Convictamente.

    Abração, Paulo.

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  6. Na verdade, tudo isso é um reflexo da corrosão da nossa sociedade. No colégio da mi nha filha, tem uma coleguinha que dança o Rebolation, porque o pai ensinou e incentiva, porque acha engraçadinho. Se isso é normal, caro poster, esse livro e qualquer outra coisa também é. Daqui a pouco filmes pornôs serão normais no maternal, é assim que começa, porque a nossa sociedade não se indigna mais (por isso a corrupção e a impunidade são normais, pois a corrosão social é ampla).

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  7. Pela última avaliação do ENEN, dá para inferir que esse Livro, a liberdade excessiva e a maneira xula de ensinar estão contribuindo para a depreciação do ensino no Brasil. Quem são os colégios que se destacaram? Os particulares, sendo os religiosos os de melhor índice. Nos públicos, foram os militares.Acho que lá, além de outros fatores, eles não usam livros como esse.

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