quinta-feira, 11 de setembro de 2008

“Bancadinha” adia votação de relatório sobre Santa Casa

Ninguém deve brigar com fatos.
Em sã consciência, ninguém deve fazer isso.
Ninguém.
Mas o governo do Estado briga. E como!
No início de julho passado, tão logo revelaram-se as mortes em série de bebês na UTI neonatal da Santa Casa de Misericórdia do Pará, uma comissão de senadores aportou por aqui, em atendimento a uma proposta do senador Flexa Ribeiro (PSDB).
Além de Flexa, vieram a Belém o vice-presidente da Subcomissão de Saúde, Papaléo Paes (PSDB-AP), e os senadores Augusto Botelho (PT-RR), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) e José Nery (PSOL-PA).
Todos viram com os próprios olhos as carências do hospital. Encontraram-se com servidores e médicos. Levantaram carências. Constataram a deterioração física das instalações da Santa Casa. São deteriorações tão vistosas – tragicamente, deploravelmente vistosas – que o governo do Estado, por anúncio da própria governadora Ana Júlia Júlia, não vai nem reformar a Santa Casa. Vai construir outra. Com ou sem hospitalocentria, será construída outra. Novinha em folha. E tomara que isso seja verdade.
A Subcomissão Permanente de Acompanhamento, Prevenção e Defesa da Saúde, da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado Federal, já constatou que “houve omissão das autoridades estaduais responsáveis pela Santa Casa de Misericórdia do Pará, que mesmo alertadas por profissionais do quadro, não tomaram providências em tempo hábil para prevenir os óbitos.”
Um relatório do Tribunal de Contas do Estado (TCE) confirmou isso, após auditoria que durou 45 dias. Chegou-se à conclusão que o maior problema na Santa Casa, e que contribuiu para a morte em série dos bebês no mês de julho, foi a má gestão no hospital. “Foi má administração. Faltou diligência. Quem não é diligente não pode administrar bem”, confirmou o conselheiro relator da auditoria, Ivan Barbosa da Cunha,
Houve falhas deficiências de gestão, portanto.
Fatos fartos e fartos fatos demonstram que houve problemas dessa ordem.
Até que chega a hora de votar o relatório.
Quem se fazia presente durante a sessão de votação? Três representantes do governo do Pará. Seria, digamos, a “bancada do Pará” informal: Laura Rossetti, a secretária de Saúde; o subchefe da Casa Civil, Jorge Panzera, e Karina Bordalo, da representação do governo do Pará em Brasília. Os três, certamente e desconsiderando que fatos são fatos – e contra fatos ninguém deveria brigar – inspiraram os quatro senadores da base governista – três deles do PT - a mobilizarem-se contra o relatório. E tanto se mobilizaram que, para evitar que o relatório fosse vetado, o relator da matéria, senador Papaléo Paes, pediu que fosse retirado de pauta para fazer os ajustes necessários que a bancada petista quer.
Sabe-se lá que ajustes serão esses.
Mas uma coisa é certa: nenhum ajuste no relatório será capaz de contrariar o fato de que bebês morreram. E nenhum ajuste será capaz de mascarar os graves problemas de gestão que levaram a Santa Casa a parecer-se com um matadouro.
Porque fatos são fatos, vale repetir.
E contra fatos ninguém deveria brigar.
Mas há gente que briga.
O que fazer?

4 comentários:

  1. Essa é a tal "Terra de Direitos...
    Direito de escamotear a verdade;
    Direito de sobrepor interesses político-eleitoreiros a interesses da população;
    Direito de tentar esconder com out-doors coloridos a verdade da incompetência na gestão da Sta. Casa;
    Direito de priorizar propaganda enganosa para desviar a realidade do caos na segurança, saúde e educação.
    Tudo que se refere a Santa Casa parece que foi resolvido com os outdoors mostrando a fachada intensamente colorida da denominada "Nova Santa Casa".
    Dane-se o resto!
    Já se vai metade desse governo e , até agora, nada de mudança, nada de concreto, só promessas e intermináveis reuniões.
    Mas as nomeações de aspones continua.Intensa.
    Será essa a nossa sina?

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  2. Esta não é uma terra de direitos. É uma terra de escamoteações (rsssss).
    Vou levá-lo à ribalta daqui a pouco.
    Abs.

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  3. O que Raimundo Ribeiro e a governadora Ana Júlia tem em comum?
    Fazer de conta que a culpa é dos outros e chorar a "herança maldita"!
    Já repararam?

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  4. Anônimo,
    Pensando bem, você tem inteira razão.
    Abs.

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