domingo, 1 de junho de 2008

Péssimo exemplo



Os Estados Unidos, mesmo sendo um país de primeiro mundo, vêem-se vez por outra surpreendidos por elementos que se apresentam como indivíduos normais perante a sociedade, mas que na realidade são portadores de alguma insanidade. E o raciocínio aqui não tem apelo de relato ficcional. São fatos que acontecem infelizmente nos chamados países desenvolvidos. Os densos perfis psicológicos dos envolvidos, sejam de que nacionalidades forem, nos levam a fazer reflexões sobre a violência.
Um dos fatores que se deve levar em consideração é os que levam o público infantil a se tornar crianças violentas: são os jogos violentos. O lançamento mundial do polêmico Grand Theft Auto IV (Grande Roubo de Carro) repõe um tema: o dos efeitos dos videogames violentos na formação das crianças. Trata-se de medir o alcance educacional do acesso de menores de idade a um universo que mistura o lúdico com o bê-á-bá do crime.
Esse badalado e discutível videogame conta a história de Nikos Bellic, imigrante sérvio que chega ilegalmente a Liberty City, recriação de Nova York, e se envolve com o mundo do crime. Para ganhar a vida, rouba carros, briga nas ruas e mata pessoas. Esses jogos podem ser perigosos se não forem manejados com responsabilidade. Jogos violentos são apontados como os grandes motivadores para massacres em escolas nos Estados Unidos. Mas os defensores desse tipo de jogos afirmam que não há ilação possível entre o crescimento de crimes e a compra de games fortes; portanto, esgrimem estatísticas.
Quem não recorda do massacre no interior da Universidade Virginia Tech, em abril de 2007, quando o estudante sul-coreano Cho Seung-hui matou 32 pessoas antes de suicidar? O estudante era frustrado porque seus colegas não lhe levavam a sério e ele percebia algo parecido como xenofobia no que diz respeito à sua origem; e deixou essa mágoa por escrito.
Será que caiu no esquecimento que em novembro de 2007, na Finlândia, um jovem estudante de 18 anos matou oito pessoas a tiros e cometeu suicídio numa escola do país? Provavelmente aconteceu esta tragédia porque, na Finlândia, jovens de 15 anos, portanto menores de idade, podem comprar armas desde que tenham a permissão dos pais. O país tem resistido a aproximar suas leis de porte e uso de armas da legislação mais rígida que vigora no resto da Europa.
Em Las Vegas, em dezembro de 2007, seis estudantes ficaram feridos ao serem atingidos por disparos no momento em que desciam do ônibus escolar que os transportava. A polícia não revelou detalhes do ataque, mas disse acreditar que pelo menos dois atiradores estariam envolvidos. Ainda, nessa mesma semana, um jovem de 19 anos abriu fogo em um shopping center no Estado de Nebraska, matando oito pessoas antes de suicidar.
Depois dessas e de outras tragédias, o Congresso americano aprovou a principal mudança nas leis de controle de armas do país desde 1994. A reforma impõe um controle mais rigoroso dos compradores de armas. A nova legislação também esclarece que os registros de saúde mental devem ser incluídos na verificação do comprador para restringir a compra de armas por pessoas que apresentem transtornos mentais.
Agora, observem que péssimo exemplo depois de muitos cuidados do Parlamento americano. Uma revendedora de carros em Butler, no Estado do Missouri, nos Estados Unidos, está oferecendo uma arma de fogo para cada cliente que comprar um automóvel. A promoção "Guns and Gas" (Armas e Gasolina), da revendedora de veículos Max Motors, dá ao cliente que comprar um carro a chance de escolher entre um revólver ou um cupom de gasolina no valor de U$250 (R$ 415,00).
"Até agora, 80% dos clientes optaram pelo revólver", disse Walter Moore, um dos gerentes da loja, à rede de televisão KMBC. Imagina-se que este porcentual altíssimo só faz aumentar com certeza o índice da criminalidade. Esse filme, eu já vi. A construção do cenário é o mesmo. Parece que estamos vendo as cenas da tragédia, com muito sangue e um monte de mortos espalhados por todos os lados e isolados com aquela indefectível fita amarela e preta, o criminoso algemado sendo encaminhando para uma viatura policial, escoltado pelo obeso e vermelhão xerife dizendo: "Procure se comunicar com seu advogado, pois tudo o que falar pode se voltar contra você...”

Sergio Barra é médico e professor
sergiobarra9@gmail.com

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