quarta-feira, 26 de abril de 2023

Um mentiroso compulsivo vai à polícia. E mente compulsivamente.

Jair Bolsonaro: em quatro anos, 6.785 declarações falsas ou distorcidas. E crescendo!

Bolsonaro é um mentiroso compulsivo.
Quem o diz são os números.
Números levantados pelo Aos Fatos, um site de checagem de notícias, mostram que esse personagem expeliu 6.875 declarações falsas ou distorcidas, média de 4,6 por dia.
Mentiroso compulsivo, Bolsonaro foi passar um período sabático de ociosidade nos Estados Unidos.
Passou três meses por lá. Sem fazer nada.
Na volta, mostra-se o mesmo mentiroso compulsivo que sempre foi.
O sujeito foi nesta quarta-feira (26) à Polícia Federal, em Brasília, para prestar depoimento no inquérito que apura responsabilidades pelos atos golpistas de 8 de janeiro, planejado, financiado, apoiado e operado por fascistas bolsonaristas.
Durante o depoimento, que durou duas horas, o personagem admitiu que postou um vídeo com ataques ao sistema eleitoral brasileiro, apenas dois dias após os atos terroristas.
Mas disse que postou por engano.
Então, tá: se acreditarmos em Bolsonaro neste episódio específico, precisamos acreditar que ele proferiu, também por engano, 6.785 mentiras durante os quatro anos de seu desgoverno e continuou a proclamá-las, também por engano, depois que fugiu para os Estados Unidos.
Esse é o mito.
Esse é o cultor da verdadade.
Esse é o democrata.
Ele pensa que somos todos imbecis de acreditar em suas mentiras.
Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Uma coisa é Bolsonaro mentir apenas para alimentar sua compulsão.
Outra coisa é uma investigação policial para apurar suas mentiras.
A investigação terá consequências.
Bolsonaro, portanto, que arrume outras mentiras para se dizer inocente dos crimes de que é suspeito de ter cometido.

terça-feira, 25 de abril de 2023

A extrema direita está de luto. O custo é alto: R$ 4 bilhões.

Tucker Carlson: um ícone do jornalismo de direita está fora da Fox News. Tudo porque
o direitismo da Fox não abriu mão da mentira como a sua principa arma dita "jornalística".

A extrema direita está de luto.

Se você deslizar agora os dedos no seu celular e procurar as redes sociais, vai ver nichos - ou seriam covis? - de direitistas e fascistas de todos os naipes inundados de lágrimas.

Os prantos incontroláveis de fascistas fanáticos se disseminam após ser confirmada a informação de que a Fox News - uma espécie de Jovem Pan da direita americana - demitiu ninguém menos do que Tucker Carlson, o jornalista e âncora mais famoso da emissora e um dos mais radicais entre os jornalistas de direita da Imprensa americana.

Carlson, em seus programas, praticamente definia a agenda dos conservadores e, por extensão, do Partido Republicano. Na Fox, seu programa oferecia uma mistura de abordagens conservadoras populistas em questões como imigração, criminalidade, raça, gênero e sexualidade, com a chamada ideologia woke se tornando um alvo frequente dele.

Mas por que um jornalista direitista desse quilate é afastado da emissora mais direita dos EUA?

Não é por ideologia, vamos logo combinar.

Não é porque a Fox News estaria, digamos assim, revisando sua linha editorial.

Nada disso.

O que está por trás da saída de Tucker é dinheiro. É a punição pecuniária imposta pela Justiça à Fox News pela divulgação de mentiras, de fake news, de ficções conspiracionistas intoleráveis e perniciosas à democracia, mas proveitosas ao trumpismo, é claro.

É que a empresa canadense Dominion Voting Systems, que fabrica urnas eletrônicas, ingressou com um processo por difamação a TV Fox News, acusando-a, com abundância de provas, de prejudicar sua reputação ao espalhar a falsa notícia de que suas urnas haviam sido manipuladas para fraudar o resultado da eleição que Trump perdeu em 2020.

Na fase final do processo, quando os integrantes de um Grande Júri já estavam até escolhidos para apreciar o caso, as duas partes anunciaram um acordo na terça-feira passada: a Dominion embolsou nada menos de US$ 787,5 milhões (cerca de R$ 4 bilhões), metade do que reivindicava a título de indenização, e retirou a denúncia, encerrando o processo, portanto.

No curso do processo, vieram à tona mensagens de texto privadas de produtores. Algumas criticavam o ex-presidente Donald Trump e seus e seus assessores jurídicos após a eleição de 2020 em termos vulgares e sexistas. E-mails de Tucker Carlson, com críticas aos jornalistas da Fox, também foram divulgados e causaram grande constrangimento à emissora.

E assim temos o seguinte: o luto da extrema direita tem um custo alto, para não dizer altíssimo, mesmo para os padrões da Fox.

Está custando US$ 787,5 milhões (cerca de R$ 4 bilhões).

Avante!

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Onde se encontra o estadista Bolsonaro? O que tem feito?

A "apoteose" na recepção a Bolsonaro, no retorno dele ao Brasil: 20 gatos pingados

Após passar três meses nos Estados Unidos sem fazer absolutamente nada, Bolsonaro voltou ao Brasil no dia 30 de março passado. Há quase 30 dias, portanto.
Quando se confirmou o retorno desse personagem, bolsonaristas foram ao êxtase.
"Agora vai", era o que se ouvia entre os direitos - fanáticos ou não.
Esperava-se que o retorno fosse apoteótico.
Esperava-se que o Brasil inteiro fosse ingressar na vibe do "ele voltou pra liderar a oposição ao governo Lula".
Esperava-se, enfim, que teríamos um estadista de direita organizando a tropa para a retomada do poder. Não através de um golpe, mas no voto, porque, como vocês sabem, bolsonaristas odeiam fascistas terroristas.
Pois é.
E o que temos, após a volta de Bolsonaro?
Nada. Nada vezes nada.
E nada vezes nada resulta em nada.
O sujeito voltou sem apoteose alguma. Foi recebido por uns 20 gatos pingados, se muito.
Feito isso, passou rapidinho na sede do PL, em Brasília, contou umas quatro ou cinco mentiras e foi pra casa, num condomínio perto do Jardim Botânico.
E de lá não saiu mais.
E de lá não falou mais nada.
E de lá tem se ocupado de nada fazer, no ócio improdutivo - porque dizem que tem o ócio produtivo, vocês sabem - que sempre marcou sua bisonha carreira política. Por ócio improdutivo, leia-se também vagabundagem. Dá no mesmo.
E de lá já mandou dizer a aliados que de forma alguma vai liderar a oposição, o que demonstra a sua notável e inegável covardia, ao rejeitar a possibilidade de partir para o confronto político democrático, transparente e saudável.
Sua diversão, no momento, é agendar depoimentos sobre sua participação nos atos golpistas de 8 de janeiro e no episódio das joias que a ditadura saudita lhe ofertou e que ele, na caradura, incorporou ao próprio patrimônio.
Esse é o fascista, que muitos têm como um Mito.
Então, tá!

quinta-feira, 20 de abril de 2023

Os golpistas podem estar ao lado, bem ao lado, do presidente Lula


O que já estava envolto em mistério pode estar envolvo em mistérios maiores ainda do que imaginamos.
Há pouco, o Espaço Aberto mencionou parecer implausível que o Palácio do Planalto não tivesse conhecimento, há mais tempo, das imagens divulgadas nesta quarta-feira (19), mostrando uma atuação suspeita do então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, durante os atos terroristas de 8 de janeiro.
Pois agora o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, afirmou que o presidente Lula não tinha conhecimento das imagens em que GDias aparece nas dependências do Palácio do Planalto, em atitudes que deixariam transparecer, no mínimo, uma certa complacência com terroristas que haviam acabado de invadir o prédio.
Não tinha conhecimento?
Então, agora mesmo é que o presidente Lula precisa apoiar a instalação da CPI do Golpe.
Porque, certamente, há golpistas que estavam, ou ainda estão, bem ao seu lado. E ele é bem capaz de nem saber disso.

O governo Lula tomou conhecimento da atuação suspeita do general Gonçalves Dias somente agora? Por que não o demitiu há mais tempo?

O general Gonçalves Dias, que pediu demissão do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) após a revelação de imagens que mostram sua atuação durante os atos terroristas de 8 de janeiro, vai precisar de muito português e muito latim para convencer o distinto público de que não foi conivente com golpistas.

Agora, em relação ao vídeo revelado pela CNN (confiram acima), não é preciso ser perito nem nada para que sejam tiradas pelo menos duas conclusões objetivas.

A primeira: as imagens, evidentemente, foram editadas. Com isso, fica prejudicada uma avaliação precisa sobre responsabilidades - inclusive por omissão - de vários envolvidos.

A segunda: a porta que se abre para os golpistas, sob as vistas de Gonçalves Dias e outros integrantes do GSI, não é a porta de saída do Palácio do Planalto, com estão dizendo erroneamente, inclusive, vários jornalistas, entre os quais o repórter da CNN, ao relatar que os invasores "caminham em direção a uma escada, local de saída do prédio". Os golpistas estavam no terceiro andar do palácio. E a porta por onde saem leva ao segundo andar, onde, segundo se informa, vários outros golpistas já estariam detidos. É mais do que crível, nessas circunstâncias, supor-se que os terroristas retirados do terceiro andar também seriam detidos. 

Essas duas certezas, por outro lado, não eximem o governo Lula de explicar duas questões fundamentais.

A primeira: essas imagens - editadas ou não - estão em poder do Palácio do Planalto desde 8 de janeiro. Somente agora é que a atuação do general GDias foi notada? Se foi notada há mais tempo, por que só agora o general foi afastado na condição de ter agido suspeitamente em conivência com os invasores do prédio?

A segunda: por que o governo, até aqui declaradamente, enfaticamente e notoriamente resistente à instalação da CPI do Golpe, passou a orientar seus próprios líderes a apoiá-la? Se tinha, como se imagina que ainda tem, certeza da participação direta até mesmo de remanescentes bolsonaristas nos setores de segurança institucional, por que não apoiou a investigação desde o início para provar justamente isso?

Fatos e versões, quaisquer que sejam, não serão suficientes para afastar a certeza de que os atos terroristas de 8 de janeiro foram promovidos por bolsonaristas fascistas e imbecis.

Mas responder e esclarecer devidamente certas questões essenciais é indispensável, para evitar que prevaleça a mentira criminosa difundida por fascistas, de que o governo Lula é que teria armado os atos terroristas para depois culpar os bolsonaristas.

A FPF libera um charco, um lamaçal para o jogo Cametá x Remo. Mesquita, que produziu o relatório "técnico", jogaria lá?



O Remo está ameaçando não entrar em campo, nesta sexta-feira (20), para enfrentar o Cametá no jogo de ida pelas semifinais do Parazão.
O clube alega que o estádio Parque do Bacurau, local do jogo, não apresenta a menor condição para a prática do futebol.
Por quê?
Porque o gramado do estádio é o que você vê aí, nessas imagens de apenas dez dias atrás, na partida em que o Cametá venceu o São Francisco, de Santarém, ganhou de 5 a 2 e passou às semifinais.
As imagens foram capturadas pelo blog da transmissão ao vivo feita no YouTube pela própria TV Mapará, do Cametá. Se quiserem, vejam as imagens aqui.
Em vez de um gramado, o que temos é um lamaçal, um charco, um lodaçal quando chove. Nenhum jogador profissional, do Pará e d'além fronteiras, pode submeter-se ao risco do jogar num campo como esse. Nem os profissionais de várzea aceitariam jogar aí.
Mas eis que surge no cenário a nossa Federação Paraense de Futebol (FPF), com toda a sua excelência, eficiência, apuro técnico e imparcialidade inigualáveis e inconstrastáveis.
Matéria publicada em O LIBERAL de hoje informa que a FPF liberou o estádio para o jogo de amanhã com amparo em relatório técnico produzido pelo engenheiro agrônomo Raimundo Mesquita.
Mesquita, para quem não sabe, jogou no Remo, onde foi ídolo, e inclui-se entre os maiores jogadores da história do futebol paraense. Magrinho, franzino, de reduzida compleição física, superava o que seria essa desvantagem com uma maestria técnica de fazer inveja.
Foi um craque, em resumo.
A ser verdade a informação da FPF, era o caso de alguém perguntar ao próprio Mesquita se ele, que foi um profissional refinado e de requinte na execução dos fundamentos do futebol, teria coragem de jogar num charco, num lodaçal, num lamaçal como o do Parque do Bacurau.
O presidente do Cametá, Jailson Freitas, por sua vez, faz pouco do que considera mimimi do Remo e diz que, após o último jogo, foram feitas "reformas" que, presume-se, impedirão o charco do Parque do Bacurau de continuar sendo o que é: um charco, um lodaçal, um lamaçal.
Então, pronto.
Tranquilizemo-nos todos.
Amanhã, teremos um gramado compatível com o de Wembley.
Segue o jogo!

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Um general cara a cara com pitbulls fascistas: comissão da Câmara tem tudo para nos oferecer diversão da melhor qualidade

Tem tudo para ser divertidíssima - e botem divertidíssima nisso - a sessão de logo mais, prevista para as 14h, da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados.

Esse colegiado é integrado pelos pitbulls mais enfurecidos que integram a tropa bolsonarista, formada basicamente por deputados egressos dos meios policiais e militares. É o que vulgamente, mas sabiamente, conhecemos como bancada da bala.

As últimas sessões da comissão nos ofereceram um espetáculo impagável de intolerência e radicalismo, em que tanto bolsonaristas como governistas exibiram absoluta incapacidade de seguir as regras do regimento. O resultado é que o ministro da Justiça, Flávio Dino, por exemplo, teve que abandonar uma sessão porque não conseguiu articular respostas às provocações e ofensas com que foi brindado.

Pois esse é o palco em que estará, logo mais, ninguém menos que o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Marco Edson Gonçalves Dias.

Ele terá que explicar sobre sua atuação específica no dia de 8 de janeiro, quando terroristas bolsonaristas deram uma geral na Praça dos Três Poderes e depredaram parcialmente as instalação do Planalto, Supremo e Congresso.

A presença de Gonçalves Dias coincide com um vídeo revelado nesta quarta (19) pela CNN. As gravações mostram  que o general acessou a antessala da Presidência da República às 16h29, no auge da invasão (vejam na imagem). Pouco depois, ele parece se encontrar com manifestantes e os convence a ir embora. As imagens sugerem que o ministro não atuou para deter os manifestantes.

As cenas mostram ainda membros do GSI, responsáveis pela segurança dos equipamentos públicos, acompanhando a destruição de itens históricos e até um capitão do Exército, que integrava a Segurança Institucional, sendo conivente com os invasores, oferecendo água a alguns deles.

Generais, vocês sabem, não são muito dados a debates ditos democráticos. E, na Comissão em que a bancada da bala impera, até um simples bom dia ou boa tarde deflagram um bate-boca danado.

Acompanhemos, pois, o general.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Quem mandou fechar os portões do Mangueirão? Tudo ficará igual ao caso da ponte de Outeiro?


O Remo anunciou nesta sexta (14), em suas redes sociais, os procedimentos que deverão adotar, para fins de ressarcimento, os torcedores que compraram ingressos para o jogo contra o Corinthians, na última quarta-feira, mas não puderaram entrar no Mangueirão porque, antes mesmo de o jogo começar, os portões foram fechados sob a alegação de que a lotação do estádio já havia se esgotado. Um caso de típico de desrespeito e humilhação aos torcedores.
Boa!
O anúncio do Remo já é, pelo menos, um bom começo. Primeiro, porque o clube tenta desincumbir-se de obrigações legais que lhe foram conferidas na relação estabelecida com os consumidores, um vez que o clube foi o promotor do evento. Segundo, porque o Remo implicitamente reconhece que os torcedores foram, sim, lesados, porque foram impedidos de usufruir do produto/serviço que adquiriram.
Mas este bom início não pode ficar por aí. É preciso que tenha uma consequência.
E a consequência está na eludicação de um mistério, no deslinde da questão essencial que provovou a violação dos direitos dos consumidores/torcedores: quem, afinal de contas, deu a ordem, explícita ou implícita, para que os portões do Mangueirão fossem fechados antes do início da partida?
O Remo, por todos os meios possíveis - vídeos, áudios e textos veiculados em suas redes sociais -, já disse que não não mandou fechar os portões. E, para reforçar tal afirmação, informou ter registrado um boletim de ocorrência na polícia para salvaguardar seus direitos.
Outros órgãos, como a FPF e a Seel, também já informaram que nada têm a ver com isso e chegaram até a cobrar o Remo publicamente pela barração de milhares de torcedores.
Afinal de contas, quem foi, então, que mandou fechar os portões?

Silêncios convenientes
Esse fato precisa ser investigado e respondido amplamente à sociedade, de forma pública, para demonstrar a transparência de todos os envolvidos e para prevenir futuras ocorrências em jogos que atraem grandes públicos, como o da última quarta-feira.
A exigência para que se descubra quem deu a ordem para o fechamento dos portões se justifica, ademais, porque esta terra de lindas florestas, fecundadas ao sol do Equador (versos do nosso hino), no caso o Pará, é uma terra de silêncios - quase sempre convenientes para manter nas sombras os que agem com segundas, terceiras, quartas e quintas intenções.
Vocês querem um dos últimos e mais contundentes exemplos desses silêncios ensurdecedores? O desabamento do pilar central da ponte de Outeiro, em 17 de janeiro do ano passado.
Logo após a ocorrência, chegou-se a informar que não houve colisão alguma, e o pilar simplesmente teria desmoronado logo após a passagem de um ônibus pela ponte. Depois, disseram que o desmoronamento ocorreu porque uma balsa teria batido na estrutura.
Instaurou-se o velho e implacável rigoroso inquérito. E aí? Qual o resultado do inquérito?
Uma nova ponte já foi até inaugurada com pompa e circunstância, em fevereiro deste ano. Mas até agora não se sabe qual o resultado a que chegou o velho e implacável rigoroso inquérito.
E no caso dos portões do Mangueirão? Tudo será como no caso da ponte de Outeiro?

quinta-feira, 13 de abril de 2023

Uma vitória épica do Remo. Uma derrota humilhante do torcedor paraense.


Escrevi isso aqui em 2011. Faz 12 anos, portanto. Doze!
Mas escrevi a mesmíssima coisa outras tantas vezes, antes mesmo de 2011.
Nesta quarta-feira (12) à noite, fui ao Mangueirão ver o Remo, uma de minhas paixões, jogar.
Vivi uma noite épica, extasiante, com a vitória remista por 2 a 0 sobre o Corinthians pela Copa do Brasil, o primeiro gol marcado por Richard Franco e o segundo, por Muriqui, que aparece na foto (Ascom/Remo).
O Leão excedeu-se em suas próprias forças e ganhou. Viva!
Nós - e eu mais 39.999 torcedores -, que comparecemos ao Mangueirão, perdemos. Fomos derrotados. Humilhados. Desprezados. Maltratados.
E sempre somos - derrotados, humilhados, desprezados e maltratados. Só não desistimos porque, ao contrário da sentença euclidiana de que o sertanejo é, antes de tudo, um forte, o torcedor paraense, também ele, é um forte. Fortíssimo.
Segue o fio.

Torcedor castigado no trânsito
O trânsito estava um caos. O caos normal, da hora do rush, foi quadruplicado. Saí de casa, em Nazaré, às 18h10, três horas e meia antes de a partida começar. Ingressei no estacionamento do Mangueirão duas horas e dez minutos depois, às 20h20. No percurso de 14 quilômetros (medidos no Google Maps) entre minha casa e o estádio, não vi um, um sequer, agente de trânsito. Para dizer que não vi nenhum, estavam uns três ou quatro no Elevado Daniel Berg, onde estreitaram uma via para facilitar o trânsito de quem vinha pela Pedro Álvares Cabral para chegar à Júlio César e depois à Centenário.

Torcedor desorientado pela desinformação
Para ingressar no estádio, levei meia hora. Comprei uma cadeia no Setor A. Ninguém sabia me informar qual o portão a que deveriam se dirigir os portadores de ingressos no Setor A.
Depois de ir a quatro portões e me dizerem que não era ali que eu deveria entrar, travei um diálogo excitante, quase orgásmico, com um cidadão que estava entre os 400 mil escalados para orientar, para ensinar aos torcedores o rumo que deveriam tomar para entrarem no estádio.
- Amigo, por onde eu entro? - perguntei-lhe, mostrando o ingresso no celular.
- Não é aqui. Aqui é só quem vai pra arquibancada.
- Então, onde é o meu portão?
- Não sei.
- Mas tu não não estás aqui pra orientar?
- Estou. Mas só oriento este espaço aqui - respondeu, indicando com os dedos para o chão.
Olhem, já assisti a jogos no Parc des Princes, no Maracanã, Morumbi, Itaquerão, Allianz Parque, Vila Belmiro e Brinco de Ouro, entre outros. No Planeta Pará, já estive até no Diogão, em Bragança, sob um sol de 400 graus.
Em qualquer um desses templos do futebol, as pessoas que orientam torcedores sabem tudo. No Parc des Princes, em Paris, se você perguntar - até mesmo em português - onde fica o Diogão, eles vão te dizer. E no Diogão, se você perguntar - até mesmo em francês - como se chega ao Parc des Princes, eles também vão te dizer.
No Mangueirão, neste não.
No Mangueirão, ninguém sabe dizer, ao que parece, nem mesmo onde fica o Mangueirão.

Torcedor barrado nos portões
Felizmente, não passei por esta situação, mas há evidências concretas de que milhares de torcedores, com ingressos na mão, não puderam entrar no Mangueirão porque os portões foram fechados alguns minutos antes de a partida começar. A alegação: o estádio já estaria lotado.
A direção do Remo garante que não vendeu ingressos a mais e que não mandou fechar o portão. Quem mandou, então? A Seel? A PM? Quem? O Remo, a Seel e a PM precisam acertar esse discurso.
E quem vai ressarcir os torcedores lesados? O Remo? A Seel? A PM? Quem, afinal?

Torcedor exposto a violências
Às proximidades, vândalos organizados (que alguns insistem em chamar de torcidas organizadas) se engalfinharam-se às proximidades do Mangueirão. Civilizados, não usaram os punhos, mas bombas e outros objetos contundentes. Um horror! Saldo, segundo se sabe até agora. Pelo menos uma pessoa ferida e um torcedor morto, após ser atingido por um rojão.

Estão aí os troféus ofertados ao torcedor paraense conjuntamente - pelo Remo, pela Segurança Pública, pela Semob e pela Seel -não necessariamente nessa ordem.
Nós, torcedores, merecemos isso?
É claro que merecemos. Se não merecêssemos, não seríamos paraenses. Ou melhor, torcedores paraenses.
Ah, sim. Apenas mais uma coisa.
Sabem aquela música inebriante que a galera remista canta? Aquela: Uma coisa te peço / joga com raça e paixão / honra essa camisa / meu poderoso Leão / ôôôôôôôôôôôôôôôôôô
Pois é.
O Leão honrou a camisa.
E nós, honramos a nossa: a de fortes torcedores paraenses.
Viva nóis!

terça-feira, 11 de abril de 2023

Terrorismo digital gera pânico e milhares de famílias se recusam a mandar crianças para as escolas em vários municípios do Pará

O terrorismo digital, que se vale criminosamente da mentira como sua arma mais perigosa e letal, disseminou o pânico entre milhares de famílias que se recusaram, nesta terça-feira (11), a mandar suas crianças para as escolas em Belém e vários municípios do Pará, sobretudo Ananindeua, Santarém e Marabá (os três maiores do estado, após a Capital), além de Monte Alegre e Castanhal.

Fontes da polícia civil monitoram a disseminação criminosa, em grupos de WhatsApp e redes sociais, de mensagens indicando que facções criminosas estariam preparando, de forma simultânea, ataques a escolas em dezenas de cidades do País, várias delas no Pará.

Algumas mensagens, acompanhadas de áudios, indicam claramente que os mencionados ataques não passam de uma ação combinada de criminosos digitais para criar o pânico em escolas, aproveitando-se de ocorrências recentes em que ataques a estabelecimentos escolares resultaram em mortes de crianças e professores.

Fontes da polícia civil não conseguem precisar o número de crianças que deixaram de frequentar escolas em Belém e outros municípios paraenses, nesta terça-feira, mas garantem que os serviços de inteligência estão acompanhando atentamente a propagação de mensagens nas redes sociais. O objetivo do monitoramente, entre outros, é o de descobrir os autores das mensagens falsas para responsabilizá-los criminalmente.

É melhor continuarem falando mal do Fluminense. O enorme!



Quarenta e oito horas depois de o Fluminense ter conquistado o bicampeonato carioca de forma épica, de virada e com direito a chocolate sobre o maior time do mundo, ainda estou, sinceramente, ressaqueado.

A vitória, redigo, foi épica, histórica, heroica.

Mas faço essa postagem não para marcar a conquista antológica do Tricolor, e sim para confessar minha surpresa, minha estupefação e meu espanto pela forma como o Fluminense vem sendo tratado pela mídia esportiva do País inteiro desde domingo à noite, tão logo encerrou-se o Fla x Flu no Maracanã.

Até então, todos só falavam no outro.

O outro, até então, já tinha perdido, apenas neste ano, quatro títulos: Mundial de Clubes (em que não foi nem para a final), Supercopa do Brasil, Recopa e Sul-Americana. Na estreia pela Libertadores, perdeu de virada para o Aucas, um time do Equador, que pela primeira vez está participando da competição.

Mesmo com esse cartel magistral de triunfos, só se falava no outro: que é o melhor do mundo, que tem um elenco estelar e que iria para a final do Carioca com 40 mãos postas na taça, já que tinha a vantagem alcançada pela vitória por 2 a 0 na primeira partida.

E do Fluminense, o que se dizia? Nada. No máximo, que poderia protagonizar uma, digamos assim, virada impossível.

Mas, afinal, veio a final e o impossível aconteceu: virada, chocolate e título. E o quinto título do ano perdido em sequência pelo outro, o maior do mundo.

Pronto.

Agora, coleguinhas da mídia esportiva vão para as mesas de debate com 40 dicionários em mãos, para buscar adjetivos que possam, na visão deles, definir o Fluminense.

E haja elogios: ao dinizismo (hahaha), ao espírito de equipe, à aplicação tática, aos talentos da garotada de Xerem, enfim, ao momento impecável que o Fluminense vive.

Olhem só.

Sou torcedor. E torcedor supersticioso.

Ouvir elogios de gente que antes tinha pirrique só de falar no Fluminense é algo preocupante. Estou consultando até bolsonaristas fascistas pra me dizerem se isso não é uma conspiração de secadores.

Prefiro mesmo que o meu time seja mantido no esquecimento. E que as exaltações fiquem sempre para o outro. Ou para os outros, se quiserem.

Quando eu quiser exaltação para o Fluminense, recorro ao velho Nelson: "Grandes são os outros, o Fluminense é enorme".

Né?

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Um homem matou uma pessoa numa cidade de uma região. Isso é mesmo jornalismo? Falem sério.


Thiago Brennand e, na foto do alto, Maurício César Filho, o "Hétero Top": alguém
acharia razoável matérias jornalísticas não citarem seus nomes e nem mostrarem seus rostos?

O País inteiro ainda está aturdido com mais um ato de violência - hediondo, cruel, desumano: o massacre de crianças em Blumenau (SC), quatro delas trucidadas com machadinhas e facas, outras quatro gravemente feridas. O assassino é um monstro chamado Luiz Henrique de Lima, 25 anos, com quatro ocorrências policiais anteriores.
Em meio à estupefação, alguns veículos de Imprensa do País anunciaram um ajuste em seus, como dizem, protocolos de divulgação de informações. A partir de agora, em casos semelhantes, passarão a não mais divulgar o nome dos autores dessas mortandades, como também não mais exibirão cenas dos massacres, sejam fotos, sejam vídeos.
A justificativa para a adoção do novo procedimento é o de evitar que assassinos ganhem notoriedade através da intensa exposição midiática a que são submetidos. Com isso, procura-se evitar o que especialistas definem como "efeito contágio", ou seja, o estímulo à repetição de condutas criminosas decorrentes da exaustiva divulgação na mídia.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
É razoável, é mais do que recomendável que veículos de Imprensa restrinjam, nos limites do bom senso, a disseminação de informações capazes de tornar assassinos verdadeiras celebridades. Como é recomendável que não se divulguem imagens de vítimas de violência, sobretudo quando são menores de idade.
Deparar-se, qualquer cidadão, com fotos ou vídeos de pessoas mutiladas, dilaceradas e ensanguentadas é alguma incompreensível, para não dizer que é uma violencia se comete contra o leitor.
O difícil, nesses casos, é encontrar a dose certa da prudência, da moderação e do comedimento, para que a supressão de informações, a título de evitar consequêndias como o "efeito contágio", não venha a prejudicar a completude do fato jornalístico reportado.
Não vejo como razoável, no caso, suprimir-se, em casos como o de Blumenau, nem o nome, nem a foto do maluco que cometeu o ato hedindo. Aceitar as justificativas apontadas pelos veículos que passarão a suprimir o nome de assassinos justifica que se questione: deve-se, então, suprimir os nomes de criminosos envolvidos outros eventos em que seus autores também podem estar buscando a notoriedade e a celebrização de suas imagens?
Vamos a casos recentes, para não dizer recentíssimos.

Atos terroristas de 8 de janeiro, em Brasília
Até agora, são exibidas à farta imagens de bolsonaristas terroristas depredando prédios públicos, defecando em suas dependências, destruindo obras de arte e debochando e insultando autoridades. Seria admissível não mencionar-lhes os nomes, sob o argumento de quem esse ato contagiaria outros fascitas a fazerem o mesmo? Não. Não é admissível.

Thiago Brennand
Ele é empresário, investigado em pelo menos oito crimes, sendo réu em seis deles. É acusado de agredir uma modelo, tatuar e sequestrar uma segunda mulher, estuprar uma jovem e uma miss. Em quatro desses seis casos, a Justiça decretou prisão preventiva. No momento, está nos Emirados Árabes. Só a Globo, o veículo de maior audiência do País, já fez sobre várias reportagens, algumas exibida no "Fantástico", mostrando-o fartamente. Seria admissível que a postura do jornalística fosse outra, que não a de mostrá-lo, a de exibi-lo exaustivamente, para que todos saibem quem ele é e os crimes que cometeu? Não. Não seria admissível. Alguém acharia razoável que não lhe citassem mais o nome, porque isso poderia estimular outras condutas misóginas e racistas? Acho que ninguém acharia razoável.

Hétero top
Assim é - ou era, sei lá - conhecido Maurício César Mendes Rocha Filho, de 25 anos. Ele está preso. Já foi denunciado como o responsável pela morte, em Belém, de uma modelo que teve fotos íntimas expostas pelo criminoso e, abalada emocionalmente por isso, jogou-se de um prédio. O denunciado responde por várias outras ocorrências. É um delinquente. Alguém acharia razoável que seu nome não fosse mais citado em jornais e mencionado em jornalísticos de TV, para evitar que outros jovens que nem ele venham a cometer crimes idênticos? Acho que ninguém acharia isso razoável.

Valmir Maurici Júnior
É um juiz com jurisdição em Guarulhos. Nos últimos dias, todo dia, o dia todo, são exibidas imagens dele batendo na esposa e ameçando-a até de morte. A Corregedoria de Justiça de São Paulo já o afastou provisoriamente das funções. Investigações foram abertas pela polícia e pelo MP. Seria razoável que esse criminoso tivesse sua identidade preservada do distinto público, para evitar que práticas feminicidas sejam disseminada. É claro que não seria rozoável.

Esses são apenas quatro exemplos que, em sã consciência, não eximiriam matérias jornalísticas de mencionar expressamente o nome dos autores de crimes, expondo-os exaustivamente para que todos saibamos quem são, o que fazem, quais são seus pendores ideológicos e suas conexões no mundo do crime.
Não se descarta que a nova postura adotada em relação aos autores de massacres como o de Blumenau venha a ter um efeito contrário, ou seja, o de empoderar esses assassinos, que, no planejamento de seus atos criminosos, já terão a garantia de que não terão suas seus nomes expostos, como também seus métodos e e suas conexões. Isso não seria acobertar suas condutas hediondas?
Aliás, frequentemente nos deparamos, sobretudo em programas jornalísticos de televisão, com notícias mais ou menos assim: Um homem, supostamente integrante de uma facção criminosa, foi preso depois de matar uma pesssoa na manhã de hoje, na frente de um shopping na Região Metropolitana de Belém.
Que informação é essa? Isso não é informação. Isso é nada, porque não sei o nome do matador, não sei a que organização pertence, não sei o nome do shopping e nem sei a cidade onde está o shopping, supondo apenas que é Belém ou Ananindeua.
Os protocolos jornalísticos são necessários, sim. Mas não podem se tornar uma camisa de força que acaba engessando a informação. E informação engessada também ajuda a desinformar.
Ou não?

sábado, 1 de abril de 2023

"Acorda, filho da p... Isso aqui não é Marapanim". Uma aventura com Palmério Dória nos ermos esquecidos de Canapi.

Palmério: morte num 31 de março, a data-referência da ditadura que ele sempre combageu 

A crônica abaixo, remetida ao blog pelo jornalista Paulo Silber, está publicada originalmente no livro Papai, você não tem amigos normais?
Narra uma aventura dele e Palmério, que, aliás, assina o prefácio do livro.
Palmério é o Palmério Dória, o jornalista paraense de Santarém que morreu neste 31 de março, em São Paulo, aos 74 anos.
Para ler a crônica que Silber escreveu após saber da morte do amigo, clique aqui.

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A FERRO E FOGO

Uma das pautas mais deliciosas que recebi foi justamente a que furou.
Fui mandado pela revista Interview, juntamente com o mestre Palmério Dória, para a pequena e nada pacata Canapi, no cu do sertão de Alagoas.
Nossa missão: apurar e revelar um suposto esquema de corrupção, comandado por Rosane Collor, na época mulher do então presidente da República, Fernando Collor de Mello. O embrião do esquema eram as unidades da legião Brasileira de Assistência no interior alagoano, onde mandava e desmandava a primeira-dama mais cafona da história do Brasil.
Depois de 6 horas de viagem por uma estrada com cheiro de rapadura, cruzando imensas plantações de cana, passamos um dia inteiro naquela cidade de poucas ruas e muita desconfiança, experimentando uma sucessão de frustrações e fracassos.
Ninguém nos recebeu. Ninguém falou conosco. Ninguém quis dar entrevista. Ninguém nos deu a menor importância. E não foi por falta de tentativa. A pauta furou, simplesmente. Acontece.
Aborrecido, mas experiente, Palmério se recolheu ao hotel com esperanças no dia seguinte. Inquieto, como convinha a alguém da minha idade (na época, uns 25), dei um rolezinho pela cidade, em busca de outras emoções, se é que você me entende.
Fui abordado na madrugada, no balcão de um bar de última frequentado por gente de penúltima categoria, por um estranho sujeito com chapéu de abas largas e bigode de mexicano em comédia pastelão.
Entre um conhaque e outro, o cara me contou todos os podres de Rosane Collor. Eram tantos, tão graves e tamanhos, que os desvios de dinheiro da LBA, que motivaram nossa pauta, comparados a essas revelações, davam até para beatificá-la.
Laércio Malta, o inconfidente, era irmão de Rosane, a quem não suportava. Ele era meu anjo revelador, eu o anjo ouvidor dele.
Banhado pelo meu primeiro São João da Barra, com os cotovelos apoiados no balcão, tentando decorar as palavras chaves do relato, já que estava desarmado de gravador, registrei na memória, na época eficiente, cada detalhe derramado pelo irmão cheio de mágoas. Histórias de falcatruas, traições e assassinatos. 
Passei o resto da noite eufórico. Ainda tentei catar uma pequena nativa que me sossegasse entre as coxas, mas sem sucesso. Voltei ao Hotel Sol Nascente – o Hilton de Canapi – e me deparei com as portas fechadas e ninguém disposto a abri-las. Resignado, enfiei-me no Gol alugado e adormeci. Deus gostava de mim e me enviara a solução num copo de São João da Barra. Reclamar do quê?
Acordei com o barulho de murros que ameaçavam varar o capô do carro. Era o Palmério, muito puto. Ele acordou no meio da noite, notou que eu não voltara ao hotel e ficou preocupado. Chamou a polícia, o prefeito, o presidente da Câmara. Se em Canapi houvesse SWAT, ele convocaria.
Fui procurado em cada uma das cinco ruas principais e das doze transversais na cidade que pariu Rosane Collor. Em cada esquina, bar, no único puteiro, o pelotão de emergência liderado por Palmério, acreditando que e fora morto ou abduzido, refez meu caminho até achar-me no sono profundo dos que adormecem sem culpa – mesmo sendo culpados.
Enquanto esmurrava o carro, Palmério dizia:
- Acorda, filho da puta! Eu te odeio!
Acordei assustado. Saí do carro pronto pra morrer fatiado.
- Que é isso, bicho?
- Onde você se meteu, cara? Tá querendo morrer de graça? Isso aqui não é Marapanim, porra!
Esperei um lapso de tempo, um momento em que ele puxaria a respiração para me escrotear por mais 300 horas, e nesse frame lhe contei. O mais rapidamente possível, minha porção de sorte. Era preciso ser breve e definitivo como uma boa manchete:
- Eu tenho a história...
Durou apenas um segundo e meio, no máximo dois segundos, a volta de Palmério ao que ele realmente é: o amigo generoso, carinhoso e inusitado de sempre. A frase “Eu tenho a história...” resolveu, com recorde de tempo-resposta, aquele inesperado princípio de incêndio. Num sopro. De Deus, com certeza.
Palmério sorriu como um bebê. Permitiu que os olhinhos azuis apertados faiscassem de amor e amizade. Dispensou a legião convocada para caçar-me (que ao lado do carro só esperava a ordem: “Cortem-lhe a cabeça”). E finalmente me abraçou, como nunca tinha me abraçado.
- Paulo Silber, eu te amo!
Corremos como se fôssemos uma dupla formada pelo Papa Léguas e Coelho Ricochete. Vazamos de Canapi para Maceió, inebriados pelo vapor de rapadura suspenso no caminho, rindo de qualquer coisa, como riem os maconheiros.
Tínhamos a história.
Em dois dias, checamos tudo e escrevemos a matéria bombástica no Pajuçara Hotel, em Maceió. Uma semana depois, com a primorosa edição de Mário Mendes, a Interview estampava na capa – quase um ano antes de Fernando Collor e sua gente serem defenestrados de Brasília: “Malta, uma família forjada a ferro e fogo”.