quarta-feira, 17 de março de 2021

A Belém de Paulo Chaves

Casa das 11 Janelas: um dos muitos legados de Paulo Chaves a Belém (foto do Espaço Aberto)

Peço licença - aliás, já pedi - para reproduzir artigo que o jornalista Ronaldo Brasiliense assinou e foi publicado em O LIBERAL do último domingo (14).
O texto faz justiça a Paulo Chaves, que faleceu nesta quarta-feira (17), deixando como legado a Belém uma obra reveladora de seu inesgotável talento e do irreprimível e enorme amor que sempre demonstrou por sua cidade.

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A Belém de Paulo Chaves

Ronaldo Brasiliense

Escrevo estas linhas sob forte emoção. Angústia por saber, aqui distante, na minha Óbidos, Macondo da Amazônia, que meu amigo Paulo Chaves Fernandes, um combatente de muitas guerras, trava uma batalha decisiva pela própria vida na UTI de um hospital de Belém.

Nada a ver com a terrível Covid 19, mas sim com comorbidades adquiridas ao longo de uma vida repleta de desafios. Paulo Chaves sofreu duas paradas cardíacas e teve uma embolia pulmonar. Mas, como o apóstolo Paulo de Tarso, trava o bom combate pela vida, sem perder a fé.

A verdade, sem retoques, é que poucos personagens na história do Pará tiveram uma presença tão marcante em Belém, nossa charmosa capital das mangueiras, como o arquiteto Paulo Chaves Fernandes.

Sim, o polêmico e talentoso Paulo Chaves moldou em muitas paisagens a Belém do século XXI, principalmente como secretário de Cultura nas gestões dos governadores Almir Gabriel e Simão Jatene, que comandaram o destino do Pará por 20 anos – Gabriel, de 1995 a 2002 e Jatene de 2003 a 2006 e de 2011 a 2018.

Com Almir Gabriel, mais como um, digamos assim, secretário de Patrimônio Histórico, Paulo Chaves legou à população de Belém o Parque da Residência, transformando a casa que abrigou governadores; transformou o presídio de Belém no Pólo Joalheiro São José Liberto; recuperou antigos galpões da Companhia Docas do Pará e criou a Estação das Docas, equipamento top de linha no turismo.

Fez ainda o restauro da Casa das 11 Janelas, o Museu de Arte Sacra na Igreja de Santo Alexandre e a reforma do Forte do Presépio no Projeto que denominou de Feliz Luzitânia, onde deu nova cara ao centro histórico de Belém, às margens da baía do Guajará.

Peço licença para um apêndice sobre o novo Forte do Presépio - de Paulo Chaves: no meio de uma polêmica sobre se o muro que cercava o Forte era histórico ou não, Chaves aproveitou decisão liminar da Justiça e derrubou, marreta à mão, no silêncio da madrugada, o muro construído em volta do Forte, onde foi instalado na ditadura militar (1964-1985) o fechado Círculo Militar de Belém, para as elites paraenses. Vida que segue.

Com Simão Jatene, Paulo Chaves esteve à frente de três monumentos em sua contínua declaração de amor a Belém: o Mangal das Garças, às margens do rio Guamá, com pássaros vivendo em liberdade e até um borboletário; construiu o Hangar – Centro de Convenções da Amazônia, onde consolidou a Feira do Livro e esteve à frente do projeto que entregou à população o Parque do Utinga, hoje polo turístico imperdível na capital.

Fez, ao lado do grande amigo, o saudoso e querido arquiteto Paulo Cal, o prédio que abriga o Tribunal de Contas do Estado (TCE), na Quintino Bocaiuva com avenida Nazaré e foi o autor de muitos outros projetos arquitetônicos arrojados que hoje tornam Belém a capital mais admirada da Amazônia.

Um dia – trabalho para os historiadores – quem sabe Paulo Chaves Fernandes integrará um pódio onde se destacam personagens como o arquiteto italiano Giuseppe Antônio Landi e o intendente Antônio Lemos, que deixaram suas marcas na capital.

Um legado que tornou Belém a bela Cidade das Mangueiras, a apaixonante metrópole da Amazônia, com seu inigualável mercado de ferro do Ver-o-Peso, com o fantástico Theatro da Paz, com majestosas igrejas como a Catedral da Sé, a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré e Santo Alexandre e palácios como Lauro Sodré e Antônio Lemos e praças da envergadura da República e Batista Campos.
Paulo Chaves Fernandes fez por merecer estar entre os maiores. Que fique este registro para a história.
(Na torcida aqui, rezando, para que, breve, Paulo Chaves esteja de volta ao nosso convívio)

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