quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Vivemos uma segunda onda da pandemia no Pará? Fatos indicam que sim, mas autoridades, com vergonha, não querem admitir isso.

As imagens desse vídeo são de maio, quando estivemos no pico da pandemia.

Em maio, perdi um cunhado para a Covid. No mês seguinte, eu perderia outro.

O que falta para que autoridades - sanitárias, inclusive - do Pará se dignem vir a público para dizer, sem meias palavras, que o estado, neste momento, final de outubro (cinco meses depois daquele período tenebroso), encontra-se no limiar de uma segunda onda da pandemia?

Será necessário que percam a vergonha e assumam deveres fundamentais que devem prevalecer no Serviço Público - entre eles o de manter intacta a transparência - para que, sem falácias e sem imprecisões no linguajar, admitam e reconheçam o que está à vista de todos - escancarado, flagrante e preocupante: no Pará, e sobretudo aqui em Belém, já se vislumbra visivelmente uma segunda onda da pandemia.

Faltam dados objetivos para chegar-se a essa conclusão?

Não faltam.

Muito pelo contrário, sobram dados objetivos.

Há cerca de duas semanas, o Hospital Barros Barros Barreto, a Fiocruz e hospitais relataram o aumento de casos no Pará. A Sespa os desmentiu.

Há duas semanas, imagens que emissoras de TV vêm mostrando indicam o aumento assustador de atendimento em unidades de saúde na Região Metropolitana de Belém. Mas a Sespa diz que está tudo normal. Aliás, diz que os números - de casos e mortes - vêm caindo sempre.

Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Pará, que representa não um, nem dois, nem três, mas 17 associados, confirma que o número de casos confirmados de Covid-19, em Belém, aumentou substancialmente neste mês de outubro.

Nesta terça-feira (27), o prefeito Zenaldo Coutinho anunciou a redução no horário de funcionamento de bares, restaurantes e casas de shows.

No mesmo dia, o governador Helder Barbalho anunciou o ano letivo deste ano já era. Acabou. Não tem mais. Agora, só em 2021. Por quê? "Não devemos esquecer que o vírus continua", disse o governador. Pois é. E como continua!

No Twitter, respondendo a um questionamento, Helder disse que "o estado não hesitará, caso necessário, em retornar com medidas mais restritivas". Mas ainda não é necessário?

Pergunta não respondida - Ontem, o Espaço Aberto mandou para a Sespa a seguinte e objetiva indagação: "Tecnicamente, que parâmetros o governo do estado teria para declarar que o estado vive uma segunda onda da pandemia?"

A Sespa respondeu o seguinte: "A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que nesta segunda-feira (26), o levantamento epidemiológico registrou uma redução de 58% da média móvel quando comparada com 14 dias atrás, ou seja, a média de pessoas contaminadas no dia 12/10 eram 260,5 novos casos por dia, enquanto que no dia 26/10 a média móvel foi de 109,3 novos casos por dia. Quanto aos óbitos, apresenta queda de 47% da média móvel de óbitos por Covid-19 quando comparado com 14 dias atrás, ou seja, no dia 12/10 eram 5,5 óbitos por dia, enquanto que no dia 26/10 foram computados 2,9 óbitos por dia.

Entenderam?

Eu não.

Não tendo o que responder, os setores técnicos da Sespa sabiamente não responderam.

É como se eu tivesse perguntado à Sespa: "Qual é a capital do Pará?" - e a secretaria me respondesse discorrendo, por exemplo, sobre o terraplanismo.

Nada a ver, absolutamente nada, a pergunta com a resposta. E vice-versa.

Enfim, está claro que estamos no limiar de uma segunda onda da pandemia.

Mas todos se iludem de que não, inclusive autoridades - sanitárias e não sanitárias.

Se perderem a vergonha e fizerem, digamos assim, uma outra leitura dos números de que dispõem, haverão de aproximar-se da realidade e admitir que, sim, estamos perto da segunda onda.

Se é que já não entramos nela.

3 comentários:

  1. O que esperar de um desgoverno barbalhiano?

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  2. Como pode uma segunda onda, se ainda nem saímos da primeira?

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  3. Anônimo, você tem razão. Inteira razão.

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