As imagens desse vídeo são de maio, quando estivemos no pico da pandemia.
Em maio, perdi um cunhado para a Covid. No mês seguinte, eu perderia outro.
O que falta para que autoridades - sanitárias, inclusive - do Pará se dignem vir a público para dizer, sem meias palavras, que o estado, neste momento, final de outubro (cinco meses depois daquele período tenebroso), encontra-se no limiar de uma segunda onda da pandemia?
Será necessário que percam a vergonha e assumam deveres fundamentais que devem prevalecer no Serviço Público - entre eles o de manter intacta a transparência - para que, sem falácias e sem imprecisões no linguajar, admitam e reconheçam o que está à vista de todos - escancarado, flagrante e preocupante: no Pará, e sobretudo aqui em Belém, já se vislumbra visivelmente uma segunda onda da pandemia.
Faltam dados objetivos para chegar-se a essa conclusão?
Não faltam.
Muito pelo contrário, sobram dados objetivos.
Há cerca de duas semanas, o Hospital Barros Barros Barreto, a Fiocruz e hospitais relataram o aumento de casos no Pará. A Sespa os desmentiu.
Há duas semanas, imagens que emissoras de TV vêm mostrando indicam o aumento assustador de atendimento em unidades de saúde na Região Metropolitana de Belém. Mas a Sespa diz que está tudo normal. Aliás, diz que os números - de casos e mortes - vêm caindo sempre.
O Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado do Pará, que representa não um, nem dois, nem três, mas 17 associados, confirma que o número de casos confirmados de Covid-19, em Belém, aumentou substancialmente neste mês de outubro.
Nesta terça-feira (27), o prefeito Zenaldo Coutinho anunciou a redução no horário de funcionamento de bares, restaurantes e casas de shows.
No mesmo dia, o governador Helder Barbalho anunciou o ano letivo deste ano já era. Acabou. Não tem mais. Agora, só em 2021. Por quê? "Não devemos esquecer que o vírus continua", disse o governador. Pois é. E como continua!
No Twitter, respondendo a um questionamento, Helder disse que "o estado não hesitará, caso necessário, em retornar com medidas mais restritivas". Mas ainda não é necessário?
Pergunta não respondida - Ontem, o Espaço Aberto mandou para a Sespa a seguinte e objetiva indagação: "Tecnicamente, que parâmetros o governo do estado teria para declarar que o estado vive uma segunda onda da pandemia?"
A Sespa respondeu o seguinte: "A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que nesta segunda-feira (26), o levantamento epidemiológico registrou uma redução de 58% da média móvel quando comparada com 14 dias atrás, ou seja, a média de pessoas contaminadas no dia 12/10 eram 260,5 novos casos por dia, enquanto que no dia 26/10 a média móvel foi de 109,3 novos casos por dia. Quanto aos óbitos, apresenta queda de 47% da média móvel de óbitos por Covid-19 quando comparado com 14 dias atrás, ou seja, no dia 12/10 eram 5,5 óbitos por dia, enquanto que no dia 26/10 foram computados 2,9 óbitos por dia.
Entenderam?
Eu não.
Não tendo o que responder, os setores técnicos da Sespa sabiamente não responderam.
É como se eu tivesse perguntado à Sespa: "Qual é a capital do Pará?" - e a secretaria me respondesse discorrendo, por exemplo, sobre o terraplanismo.
Nada a ver, absolutamente nada, a pergunta com a resposta. E vice-versa.
Enfim, está claro que estamos no limiar de uma segunda onda da pandemia.
Mas todos se iludem de que não, inclusive autoridades - sanitárias e não sanitárias.
Se perderem a vergonha e fizerem, digamos assim, uma outra leitura dos números de que dispõem, haverão de aproximar-se da realidade e admitir que, sim, estamos perto da segunda onda.
Se é que já não entramos nela.
O que esperar de um desgoverno barbalhiano?
ResponderExcluirComo pode uma segunda onda, se ainda nem saímos da primeira?
ResponderExcluirAnônimo, você tem razão. Inteira razão.
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