terça-feira, 2 de junho de 2020

O velho Nelson descobriu os idiotas da objetividade. Hoje, temos os idiotas da liberdade de expressão.




Nelson Rodrigues, o velho Nelson (alguém ainda o lê?) cunhou um termo magistral: o idiota da objetividade.
Referia-se à nova tendência que começou a se esboçar no jornalismo brasileiro, na segunda metade do século passado, de expurgar do texto jornalístico o máximo da subjetividade, da opinião do redator, em proveito e benefício do factual, dos fatos nus e crus como se mostravam para o repórter.
Hoje, temos os idiotas da liberdade da expressão.
Os idiotas da liberdade de expressão, hoje em dia, são em sua maioria bolsonaristas que, como o próprio chefe, não ligam lé com cré.
Liberdade de expressão é você emitir a opinião que quiser a partir de um fato objetivo.
Tipo assim: o Remo goleou o outro - o rival. Pronto. É o fato.
Aí, vem você e, inconformado, diz que o Remo goleou porque seu time fez corpo mole, o gramado estava uma porcaria (como o do Mangueirão, que é mesmo uma porcaria), o juiz roubou e coisas do gênero. É sua opinião. Direito seu externá-la.
Mas o fato, objetivo e insofismável, é que o Remo ganhou. Ponto. E pronto.
Bolsonaristas, esses não.
Eles acham que dizer que a Terra é plana, que cloroquina cura Covid-19, que ministros do STF devem ser mortos a tiros, que a Covid é uma gripezinha, eles acham que tudo isso faz parte do que classificam de liberdade de expressão.
Mas não faz parte, não.
Porque opinião é opinião, mentira é mentira, crime é crime, ameaça é ameaça.
A sua opinião, evidentemente, pode até configurar um crime, como a externada pelo nosso impreCionante ministro da (Des)Educação, Abraham Weintraub, esse gigante do çaber e da moderação que chamou os ministros do Supremo de vagabundos.
Em tese, cometeu injúria. Então, ele usou sua liberdade para se exprimir, mas deve arcar com as consequências legais disso. Weintraub, realmente, não disseminou uma mentira. Ele avaliou fatos (a conduta de cada ministro do Supremo) e as julgou como condutas de vagabundos. Isso é uma opinião. Como a opinião, em tese, configura um crime, vai responder por isso.
É diferente, portanto, de outras situações, como as já descritas mais acima - ameaçar ministros de morte, disseminar a eficácia do uso da cloroquina contra a Covid etc. Isso tudo é crime.
Quando bolsonaristas vão para a frente da sede do governo brasileiro, o Palácio do Planalto, e pregam o fechamento do Legislativo e do Supremo, eles não estão exercendo o direito à liberdade de expressão. Eles estão cometendo um crime - o de fazer a apologia de um ato flagrantemente inconstitucional. E por isso estão sendo alvos de um inquérito.
Mas, se quiserem considerar essa manifestação uma verdadeira liberdade de expessão, ainda assim deverão responder pelas consequências, uma vez que, repita-se, estão defendendo afrontar a Constituição.
Mas os idiotas das liberdade de expressão não conseguem distinguir essas situações.
Justamente porque são idiotas.

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