Quando comecei no jornalismo, no início dos anos
1980, o médico e professor Camillo Vianna (na foto extraída do portal da UFPA) era uma das maiores referências do ambientalismo – e
do ambientalista – na Amazônia.
Ele representava uma pauta
certeira para os então chamado pauteiros
– ou chefes de reportagem – de jornais quando questões ambientais, naquela
época ainda timidamente tratadas, entravam em discussão e exigiam matérias jornalísticas
mais apuradas.
Camillo Vianna era o especialista que, ao ver mangas
apanhadas ainda verdes, não maduras,
espalhadas em ruas e calçadas de Belém, indignava-se não pela agressão associada
aos frutos que se estragaram, mas à mangueira de onde foram derrubados.
Camillo era assim.
Via o meio ambiente, sobretudo o amazônico, como
um sistema, um complexo sistema de biodiversidade que afetava individualmente
uma pessoa, uma coletividade, uma cidade, um estado, um país. E a Amazônia
inteirinha.
Camillo falava forte.
Estridente.
Firme.
Decidido.
Era um visionário, sim.
Mas não era desses que se limitava a sonhar, compassivo e complacente, que
a integração ambiental perfeita ocorreria quando homem e natureza convivessem
harmonicamente - um sustentando-se da outra, a outra sustentando-se do zelo devido
pelos que devem preservá-la.
Camillo Vianna, ao contrário, pugnava por
práticas mais afeitas a preservar o meio ambiente, literalmente bradava suas
indignações para que seu idealismo não fenecesse no terreno infértil da
cantilena dos que usam as bandeiras ambientalistas apenas e tão somente para se
exibir.
A vida, no seu roteiro implacável rumo ao ocaso, findou para Camillo Vianna na noite desta terça-feira (10), quando ele
nos deixou aos 93 anos de idade.
Mas sua vida vai continuar ecoando para sempre,
como exemplo a ser seguido neste país que, infelizmente, entrou
numa trajetória de deboches, infâmias, disparates, maluquices e extremismos
ideológicos que levam um presidente da República a apresentar uma receita
básica – e escatológica, evidente – para quem deseja preservar o meio ambiente:
faça cocô um dia sim, outro não.
Já idoso, e com a saúde debilitada, Camillo
Vianna já não era consultado para comentar excrescências como essa.
Tomara que o tenham poupado de ouvir essas coisas
– horríveis, horrorosas, em tudo reveladoras das sendas da mediocridade pelas quais o País está
enveredando.
E com o País, esta Amazônia, presa das
queimadas, da devastação e de uma política ambientalista verdadeiramente
predatória, inaugurada há oito meses.
Oito
meses que têm o peso e o sentido de 80 anos de retrocesso.
Grande brasileiro, grande paraense e uma referência na luta pela preservação da Amazônia. Tive a satisfação de conviver e interagir com ele em determinada época.
ResponderExcluirAgora, mais do que justamente fazer as homenagens de praxe, urge prestar atenção ao que ele defendia, preceitos que continuam atuais, principalmente nesses dias de trevas, ambientais e morais.
Kenneth
Destemido, corajoso , verdadeiro,não se curvava diante da defesa a natureza. Com a sua partida, surja outros Camillo Vianna. Saudade.
ResponderExcluir