terça-feira, 20 de março de 2018

Não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons que preocupa


A frase de Martin Luther King é conhecida.
“O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”, disse uma vez o pastor e líder emblemático do ativismo negro norte-americano.
A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, está sob pressão - intensa, terrível, horrorosa, quase irresistível.
Pressionam-na, terrivelmente, para que ela paute ação para ser revista decisão do próprio Supremo, que há dois anos julgou ser legal e constitucional a prisão imediata de réus condenados em segunda instância.
Qualquer réu, vale dizer. De um humilde e anônimo cidadão comum a figurões da República.
Cármem Lúcia já disse que não colocará o processo em pauta porque isso seria casuísmo e representaria vilipendiar a própria Corte Suprema.
A pressão tem um propósito evidente: evitar que o ex-presidente Lula, virtualmente condenado em segunda instância, vá preso.
Se a questão dissesse respeito a um réu qualquer, um anônimo, desses que ninguém sabe quem é nem tampouco o que fez, mas que já foi condenado em segunda instância, aí ninguém estaria falando no assunto.
Cármen Lúcia está sozinha – ou quase isso –, resistindo às pressões.
Se os bons não se mantivessem em silêncio, a esta altura estariam acampando na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo.
Acampando, sim. Com tenda e tudo. Aos milhares. Em defesa da ministra e da posição que ela defende.
Mas ninguém faz isso.
É uma pena.
Luther King tinha mesmo razão: o que preocupa - muitíssimo - não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.

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