quarta-feira, 24 de maio de 2017

O jornalismo em risco

Confiram só.
Neste Brasil de escândalos, há escândalos e escândalos.
Como também há escândalos dentro de escândalos.
As delações dos irmãos Batista, suas causas, circunstâncias e consequências, compõem a crônica de escândalos em que o País está submerso.
Os fatos que ensejaram o pedido de demissão do jornalista Reinaldo Azevedo da revista "Veja" representam um escândalo dentro daquele outro escândalo, o que decorre das delações dos donos da JBS.
Azevedo, um dos mais polêmicos jornalistas do País e ultimamente um dos maiores e mais ácidos críticos do Ministério Público em sua atuação na Lava Jato, teve revelado o teor de conversas suas com Andrea Neves, irmã do senador Aécio Neves (PSDB-MG) atualmente presa em Belo Horizonte.
O diálogo os expõe na condição de um jornalista conversando com sua fonte.
Na conversa, Azevedo emite fortes críticas à capa de uma das edições de "Veja" (na imagem) destacando reportagem sobre suposto depósito de propina para o senador tucano em uma conta dele no exterior.
Com a divulgação do diálogo, Reinaldo Azevedo sentiu-se eticamente impedido de continuar prestando serviços à revista.
O que temos nessa parada?
Uma violação do sigilo da fonte. E preservar o sigilo da fonte, sabe-se, é básico, nuclear, elementar, vital, constitucionalmente assegurado para o exercício do bom jornalismo.
Reinaldo e Andrea conversavam em momento anterior à delação dos irmãos Batista. A conversa não era sobre ilicitudes. E não tinha a menor, a mais remota conexão com as malfeitorias protagonizadas pelos donos da JBS e vários de seus interlocutores.
Mesmo assim, a conversa veio a público.
Quem autorizou que viesse?
Por que uma conversa que não tinha a menor vinculação, a mais pálida e imperceptível ligação com a Lava Jato foi exposta publicamente tão nua e cruamente?
Quem são os responsáveis por essa violação odiosa?
Enquanto não tivermos respostas claras a essas indagações, o jornalismo estará submetido, digamos assim, a exceções constitucionais típicas das ditaduras.
Não está em jogo aqui, fique bem claro, o mérito dos posicionamentos do jornalista Reinaldo Azevedo. Não. Absolutamente não.
O mérito deste comentário cinge-se às garantias constitucionais para o exercício do jornalismo.
Enquanto esse caso não for devidamente esclarecido, ficará parecendo que já ingressamos num Estado policial.
Ou estamos em vias de ingressar nele.

3 comentários:

  1. "Na conversa, Azevedo emite fortes críticas à capa de uma das edições de "Veja" (na imagem) destacando reportagem sobre suposto depósito de propina para o senador tucano em uma conta dele no exterior."

    Credo, isso não é jornalista... é um puxa-saco da fonte.

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  2. Veja desce ainda mais o nível, para abaixo do rabo do cachorro sentado.
    Triste.

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  3. Reinaldo não foi interceptado, falou com uma pessoa investigada e por isso acabou tendo a sua conversa gravada. Não há nada de ilegal nisso.
    A polícia em uma investigação não transcreve apenas os áudios relativos a crimes, o maximo de conversas que levem ao conhecimento do juiz a personalidade e relações sociais do investigado são também importantes.
    É impressionante como após a divulgação dos áudios tantos jornalistas se arvoram em bradar a violão de um direito constitucional, como se um ministro do STF, os delegados da pf e os procuradores desconhecessem esse direito.
    Talvez na faculdade de jornalismo não tenham dito que nem um direito é absoluto.

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