segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O fim de um ciclo de 100 anos de solidão


Por ISMAEL MORAES, advogado

No final da tarde do último sábado faleceu em Belém o pecuarista Evandro Fernandes Couto Moreira, baiano, nascido em Vitória da Conquista, mas apaixonado pelo Pará, em especial por Paragominas, de onde quase nunca saiu após aqui chegar.
Na década de 70, Evandro saiu da Bahia liderando vários outros colonos, chegou a Paragominas e se embrenhou na floresta, rasgando caminhos, desbravando-a até chegar em terras além-Gurupi, onde só anos depois viera a saber que ali já não era mais o Pará, mas sim o Maranhão.
À semelhança de José Arcádio Buendia, que inicia uma saga no romance “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marques, Evandro representou um ciclo, e como ele também transformou-se num personagem de feitos fantásticos, de que os homens atuais parecem não ser mais capazes, porque não se fazem mais homens da extração de Evandro Fernandes Couto Moreira.
Chegou a ser prefeito de Paragominas, usando da autoridade moral que lhe fluía naturalmente para interromper desmandos que tomaram conta da prefeitura e da câmara municipal, impedindo que os recursos chegassem à sociedade. O município então ensaiou seus primeiros passos como centro produtivo, porque Evandro não era um mero aventureiro que viera esgotar a madeira da floresta: não era e nunca foi madeireiro, era um pecuarista, atividade pela qual tinha obsessão. Com essa dedicação desenvolveu gado com genética da maior qualidade, exemplo no Norte do país.
Mas acima de tudo, Evandro era um estadista, perdido no sertão da Amazônia. Sempre pensava no coletivo; vivia discutindo idéias para um grande país; sonhava com instituições fortes; sofria com os desvios que a cada ano vieram piorando e nos descrendo do sentido de nação. Aprendi aspectos de cidadania com Evandro.
De sua chegada ao Pará até seus feitos notáveis foi como se Evandro tivesse operado um curso de 100 anos.
Evandro se foi, e talvez quisesse ir, neste momento de escuridão e desesperança. E com a coragem e a audácia que sempre lhe foram peculiares, talvez esteja encontrando com nosso Criador e interpelando que lhe diga o que pensa em fazer daqui pra frente com o Brasil.

3 comentários:

  1. Francisco Sidou (jornalista)7/12/15 09:02

    Bela homenagem, caro Ismael. A saga do desbravador Evandro, revelada com maestria e clareza em seu texto limpo, certamente era desconhecida por muitos paraenses. Será que ele em vida recebeu alguma homenagem, tipo um título de "Cidadão do Pará", com que a Alepa costuma agraciar alguns "notáveis" colunáveis ?

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  2. Ismael Moraes7/12/15 14:30

    Querido Sidou, a homenagem ainda não é digna do homenageado. Apesar de ter sido político também, não se enquadrava nos moldes da simpatia habitual da Casa Legislativa.
    Mas a sua sugestão deveria ser acolhida por alguém que tem voto por lá...
    Abç

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  3. Não o conheci. Mas para rasgar, desbravar e ser pecuarista, não tinha que desmatar?

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