segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Brasil Severino


O artigo abaixo, do jornalista Francisco Sidou, foi publicado originalmente em O LIBERAL, no dia 3 de março de 2005. E continua tão atual que o autor republicou-o em sua sua página no Facebool.
Confiram abaixo.

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O genial Dias Gomes, de morte tão lamentável quanto prematura, está fazendo muita falta nestes tempos muito estranhos que estamos vivendo em nosso país. Seu imortal personagem Odorico Paraguassu, intrépido prefeito de Sucupira, em "O Bem Amado", finalmente chegou lá, atingindo os "píncaros da glória" em nosso Brasil varonil. No magistral seriado da TV Globo, o polêmico e folclórico prefeito de Sucupira fazia até chover neve no deserto...As metáfora que usava em seus discursos antológicos (nada a ver com anta...) bem como as bravatas que apregoava, fazem lembrar muitos dos atuais "atores" centrais da vida política brasileira. Gente de alto e baixo cleros, que subiu nas asas de perdidas ilusões, esperanças com validade vencida pelo engodo e sonhos desfeitos pela propaganda enganosa em tempos de eleição. Ninguém jamais "pintou" com mais realismo e autenticidade a chamada "alma nacional" que o grande Dias Gomes. Sucupira, cidade fantasia, também era um palco iluminado pelo talento de outro grande artista, o ator Paulo Gracindo, que "encarnava" o inefável prefeito Odorico. Existe hoje alguma outra ilha da Fantasia mais exuberante que Brasília, com o fausto de suas recepções e mordomias, totalmente em falta de sintonia com o Brasil real, que produz, que trabalha, que sofre e que paga impostos sobre os salários, sobre a produção e sobre o consumo ? Brasília também é uma ilha cercada de intrigas, fofocas, vulgaridades, embriaguez pelo poder , de tolas presunções e exibições explícitas de "sabe com quem está falando!" por todos os lados, nas ruas, nos bares e até nos lares mais abastados.
Os trezentos parlamentares que votaram em Severino para presidente da Câmara Federal (segundo cargo mais importante do Brasil) não são extraterrestres. São representantes do povo, eleitos por aquela "banda larga" da sociedade que atende por vários nomes nos estudos sociológicos, mas que pode ser chamada de "maioria silenciosa" que não irá se ofender.
O Brasil Severino é resultante da indiferença dos que não gostam de política, que não querem saber de política, como se viver em si já não fosse um ato político. Os "homens de bem" não querem se envolver com a política. Então, com essa apatia, abrem alas para os espertos, os malandros e até os contraventores conquistarem mandatos eletivos e, com eles, a impunidade garantida para seus ilícitos penais. O Brasil Severino é também aquele em que a "Lei de Gerson" (levar vantagem em tudo) pesa mais do que o emaranhado de leis e decretos que foram feitos para não "vingar".
O Brasil Severino também pé aquele em que a Justiça , quando reconhece os direitos do cidadão comum dos mortais, permite que as protelações da parte mais forte prevaleçam, fortalecendo a desigualdade e semeando desilusões em forma de "chicanas".
O Brasil Severino também se manifesta na pompa e circunstância de alguns juízes pedantes que se julgam seres superiores ao comum dos mortais por força dos privilégios e isenções de que desfrutam como se servidores públicos também não fossem.
O Brasil Severino também é aquele que "armou" o juiz de Sobral com as "armas" da intolerância e da boçalidade para matar a sangue frio um humilde trabalhador e honrado pai de família só por não lhe ter permitido burlar as normais válidas para "os outros", ou seja, os demais cidadãos.
O Brasil Severino também é aquele que assiste impassível a grilagem de terras e ao desmatamento da Amazônia, um crime hediondo contra a natureza, que acaba estimulando outros crimes bárbaros e covardes como imolação de Chico Mendes, da Irmã Dorothy e outros líderes comunitários e sindicalistas defensores da vida inteligente e perfeita harmonia do homem com a natureza.
O Brasil Severino é também aquele que assiste sem reação a um novo aumento de 67% para os deputados federais, com efeito cascata para todos os parlamentares estaduais e vereadores mil pelo Brasil, enquanto os trabalhadores que efetivamente trabalham, os profissionais liberais, aposentados e demais contribuintes "gemem" com a maior carga tributária do mundo, onde, por enquanto o único bem de consumo não tributado é o ar que ainda se respira (quando não condicionado, hoje quase proibitivo pelo aumento da tarifa de energia elétrica) .
Com os desmandos, os impostos e a insensibilidade dos governantes em alta, só nos resta esperar que o efeito Severino não transforme o Brasil numa imensa Sucupira. E aguardar a próxima eleição. Afinal, de eleição em eleição, o povo brasileiro vai acabar acertando pelo menos a dar o troco. Será ?

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Pérolas do pensamento e da arte de fazer política no Brasil Severino

Quando questionado sobre a nomeação de parentes
"Essa história de nepotismo é coisa para fracassados e derrotados que não souberam criar seus filhos. Eu criei bem os meus filhos, que têm universidade, e agora estou indicando José Maurício para um cargo público."

Quando questionado sobre o projeto de lei em tramitação no Congresso propondo o fim das nomeações de parentes, Severino afirmou que só apoiará se a lei for para todos os poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário).
"Se for pela metade, eu não vou apoiar."

Sobre a possibilidade de demitir seus parentes caso a lei fosse aprovada
"Acho que isso é história do passado, é uma repetição. Analisem primeiro o Poder Judiciário e vejam quantos filhos de juízes, desembargadores e ministros estão empregados em cargos de confiança. Cargo de confiança é para quem merece confiança. Para mim, que tenho uma família bem constituída, meus filhos merecem confiança. Por isso mesmo eu os escolhi", disse. E nada mais lhe foi perguntado.

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