Por Marco Antônio Seta, no Blog Ópera & Ballet
Há que se destacar a descentralização do eixo São Paulo-Rio na produção de ópera em nosso país.
Nesse particular, Belém, em seu Theatro da Paz, na realização do seu XIII Festival de Ópera, se destacou pela produção de vários espetáculos contando com um super elenco de artistas renomados. Sob a competência e seriedade de Gilberto Chaves, diretor geral e artístico desse Festival, apresentou Mefistofele, de Boito, com a brilhante presença do baixo russo Denis Sedov que se destacou na interpretação do enviado de Satanás. Brilharam o soprano paraense Adriane Queiroz e o tenor Fernando Portari sob a direção cênica e iluminação de Caetano Vilela.
O Festival, entre outros eventos, se encerrou com Otello, de G. Verdi, A regência excelente e precisa do maestro Sílvio Viegas encabeçou um colar de artistas; o tenor italiano Walter Fraccaro, no papel título; o baritono brasileiro Rodrigo Esteves, o baixo Sávio Sperandio, Gabriella Rossi, Andrew Lima, Antônio Wilson Azevedo; todos sob a competente direção cênica de Mauro Wrona. A produção dessas óperas foi uma vitória do próprio Festival e, esperamos em 2015, poder aplaudir e comentar outras no XIV Festival.
A temporada lírica do Theatro Municipal de São Paulo apresentou alguns espetáculos de alto nível artístico, outros de qualidade inferior, recheados de inovações e incoerências cênicas que perfuram o teatro lírico, denegrindo-o. Aqueles que não a conheceram anteriormente, levam uma impressão deformada da obra de arte.
Evidenciaram-se em Il Trovatore, (Verdi), o tenor norte-americano Stuart Neill (Manrico) numa interpretação de força e beleza vocal, musicalidade intensa e o mezzo soprano Marianne Cornetti, distinguiu-se como uma colérica Azucena. A direção musical de John Neschiling também em “Falstaff”, ainda nos trouxe um grande intérprete, Ambrogio Maestri, presenteando-nos como o maior e melhor barítono estrangeiro neste ano em São Paulo. Naquele elenco realçaram-se também Virginia Tola e Adriane Queiroz (Alice Ford); Lina Mendes, Elisabetta Fiorillo, Rodrigo Esteves (Ford) e Blagoj Nacoski (Fenton).
No outono, vimos uma das melhores produções do ano – “Carmen”, de Bizet com direção cênica de Filippo Tonon, cenografia de Juan Guillermo Nova e iluminação de Caetano Vilela resultando em belo espetáculo visual, com direção musical competente do espanhol Ramón Tebar.
No inverno, fomos brindados com a obra-prima de Richard Strauss: a “Salomé”, dirigida por John Neschiling, que extraiu da Orquestra Sinfônica Municipal a melhor das interpretações do ano. Lívia Sabag apresentou também a melhor das produções cênicas de 2014, respondendo pelos cenários e figurinos desta ópera protagonizada pelo soprano internacional Nadja Michael, que notabilizou-se pelo seu canto no registro de autêntico soprano dramático, ladeada pelo tenor inglês Peter Bronder e a alemã Iris Vermillion. O talento de Lívia Sabag nada ficou a dever aos diretores estrangeiros e comprova a capacidade criativa do artista nacional.
Na primavera, curtimos a célebre “Cavalleria Rusticana” muito bem produzida por Pier Francesco Maestrini, com cenário luminoso de Juan Guillermo Nova. Tuija Knihtla dominou cenicamente o espetáculo com sua Santuzza cheia de emoção, correção na linha de canto e beleza vocal. No”Pagliacci” (Leoncavallo), o diretor William Pereira deu mostras do seu poder criativo e sedutor; Walter Fraccaro interpretou Canio e Turiddu nas mesmas noites e Marina Considera fez uma notável Nedda.
Encerrou a temporada a “Tosca”, de Puccini. Ninguém sabe o porquê de se transportar a época e os costumes de uma ópera. Inovar o quê? Durante os intervalos´nos corredores do teatro se observavam o desapontamento e a decepção com a transposição do enredo de 1800 para 1970. Aqueles que viram e conhecem a verdadeira Tosca, não aprovaram e vaiaram ao final. Marco Gandini, Italo Grassi e Simona Moresi repondem por isso, e que não apareçam mais aqui em São Paulo. Dos cantores, Marcelo Alvares e Stuart Neill dominaram vocalmente alternando-se como Cavaradossi.
Entretanto, é preciso ressaltar a evolução técnica e interpretativa dos integrantes da Sinfônica Municipal e do Coral Lírico que, ao longo da temporada, apresentaram um avanço relevante e prometem para os anos vindouros.
O Theatro São Pedro apresentou ao final do ano “As Bodas de Fígaro” (Mozart), sob a regência de Luiz Fernando Malheiro. Uma vez mais Lívia Sabag, na direção cênica, cenários e figurinos, demonstrou sua sensibilidade e conhecimento de estilo e época da ópera tradicional. Distinguiram-se vocalmente Rodrigo Esteves, Rosana Lamosa, Homero Velho e Carla Cottini (uma encantadora Susana).
No Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde a ópera tomou o seu menor espaço, apreciou-se a pior “Carmen” de todos os tempos. Direção cênica, cenários e guarda-roupa, cantores solistas; tudo com saldo devedor. Após essa, encenou-se “Salomé”, com solistas fora de forma e, depois, “Madama Butterfly”, esta última numa boa produção cênica de Carla Camurati à frente do espetáculo. Cenários de Renato Theobaldo, figurinos de Cica Modesto, regência de Isaac Karabtchevsky e o soprano japonês Hiromi Omura, que obteve grande sucesso de público.
Contudo, o Theatro Municipal precisa tomar um rumo em 2015, sério e convicto, possibilitando assim a produção de óperas, com a colaboração da iniciativa privada, se for necessário, preservando a fama de seus grandes espetáculos líricos, conforme a sua tradição e a sua história no decorrer das décadas (1909-2000…)
E ainda tivemos os "artistas" baderneiros que protestaram contra este festival. Taí para esta gente que sempre rema para traz. Parabens SECULT.
ResponderExcluirApesar de a ópera ser um espetáculo difícil, até para os eruditos, é salutar o desenvolvimento em nosso Estado. Mas eu sugiro que a OSTP seja valorizada, ao contrário do que tem acontecido.
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