FRANCISCO SIDOU
Quando Obama apresentou-se como candidato às prévias nas eleições americanas, em 2006, enfrentou sérias resistências dos caciques que então colocavam em dúvida sua viabilidade eleitoral dentro do próprio Partido Democrata. Poucos o levaram a sério, achando-o um jovem audacioso e sem experiência, imaginem, com a pretensão de governar a nação mais poderosa do mundo. Com ousadia e determinação, ele foi vencendo as barreiras e as primárias realizadas para escolha do candidato oficial do Partido Democrata,superando com folga os demais aspirantes. Algo novo estava acontecendo no cenário da política americana, dominado por monótona alternância no poder de dois partidos , onde despontavam figurinhas carimbadas como candidatos naturais, ungidos pelos caciques e aprovados "pela máquina partidária", coisa para "profissionais". Por sua ousadia, capacidade de articulação, juventude e apelo pela mudança, Obama acabou empolgando a grande maioria do eleitorado americano, com uma mensagem de grande apelo motivacional: "Sim, nós podemos "...
Diante do avassalador crescimento de Obama nas pesquisas e ante o pânico causado nas hostes republicanas pelo fracasso de todas as estratégias adotadas para barrar sua vitória iminente, o general Collin Powel, herói militar americano e poderoso Secretário de Estado do governo imperial de W. Bush II , decretou o velório nos arraiais republicanos com a seguinte declaração: " Não vamos conseguir derrubar um movimento nascido de um sonho... E ele representa isso nessas eleições. Vamos respeitar a vontade soberana do povo americano, porque assim está determinado pela Constituição do País. " Nada mais disse nem também lhe foi perguntado. Um mês depois Obama vencia o pleito, tornando-se o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, concretizando o sonho de várias gerações que lutaram contra a segregação racial, sob a liderança de Martin Luther King, uma legenda dessa luta, assassinado justamente porque pregava a paz e igualdade entre os irmãos de todas as raças e classes. Obama surfou nas ondas desse grandioso movimento surgido de um sonho.
O "furação" Marina nas eleições presidenciais no Brasil de 2014 lembra a saga de Obama. Ela também está surfando nas ondas de um sonho. Enquanto sua "plataforma sonhática", como vice de Eduardo Campos, não oferecia real perigo de conquistar o poder , ela era vista pelos cardeais da política nacional, pela elite econômica e pela grande imprensa até com certa condescendência como "boa moça" diante da leveza de seu discurso defendendo o desenvolvimento sustentável , a floresta, os índios, os rios e os animais.
A morte trágica de Eduardo Campos - que despontava como promissora liderança nacional, mas para disputar mesmo com reais chances de vitória só em 2018 - introduziu um forte componente dramático na sucessão presidencial, que então caminhava para uma monótona disputa entre Dilma e Aécio, representantes da elite de dois partidos que se revezam no poder há mais de 20 anos. Marina herdou a comoção nacional pela perda de Eduardo e ainda um bordão -"Não vamos desistir do Brasil" - que se tem revelado de grande apelo junto ao eleitorado até então descrente de mudanças efetivas no atual cenário político nacional.
Ainda é cedo para afirmar que Marina Silva vencerá as eleições se tornando a segunda mulher a governar o Brasil, mas é inegável que a sua candidatura é neste momento da campanha aquela que possui os pontos mais positivos. Ela é a candidata que tem o menor índice de rejeição (10%), consolidou o seu nome naquela parte do eleitorado descrente (70% desejam mudanças), conseguindo captar todo aquele sentimento de protestos que transformou as ruas do Brasil em rios de gente e em pororoca de esperanças por um novo modelo de gestão pública, sem as mazelas da corrupção, do compadrio, do nepotismo, do afilhadismo das nomeações sem concurso público; da compra de votos no Congresso Nacional em troca de aprovação de projetos do executivo; do uso imoral de cartões corporativos por burocratas e assessores dos três poderes até para saques em dinheiro vivo; da gestão mastodôntica com 39 ministérios e mais de 22 mil cargos comissionados regiamente remunerados, compondo uma aparelhagem do Estado "como nunca antes vista na história deste País" (by Lula).
Diante de um quadro instável que ameaça o "status quo" do partido no poder, em que pretendia se manter pelo menos por mais 30 anos, com o Volta Lula em 2018, os estrategistas da candidatura oficial entraram em pânico e já começaram a "temporada de caça" na busca ansiosa de algum defeito ou malfeito de Marina , numa tentativa meio desesperada de desconstruir sua imagem junto ao eleitorado. Aécio Neves, o candidato ideal para ser batido pelo PT, também já emite sinais de desconforto diante do fenômeno Marina , que não para de crescer , ultrapassando-o já pela larga margem de mais de 10 pontos nas últimas pesquisas. Enquanto a "tropa de choque" de Lula e Dilma tentam descobrir algo grave contra Marina, numa espécie de "jogo bruto" pelo poder, Aécio, com pinta de bom moço, repete à exaustão que o Brasil não é para amadores, o que apenas o descredencia ainda mais junto a um eleitorado atingido pela "fadiga dos materiais" dessa polarização entre PT & PSDB , justamente por causa das artimanhas e espertezas dos "profissionais" da política e que passaram a enxergar em Marina a possibilidade, agora tornada real pelas pesquisas, de uma renovação de métodos e paradigmas na política nacional.
No vale tudo eleitoral foram buscar até a filha de Chico Mendes para declarar apoio à "companheira Dilma" e tentar "passar" ao Brasil que "Marina é um enorme ponto de interrogação". Algo parecido com a artilharia pesada usada por Collor de Melo , com arma de baixo calibre , ao revelar à Nação um depoimento comprado de uma enfermeira que afirmava ter tido uma filha com Lula e que ele a havia abandonado. Tiro certeiro que levou Lula a nocaute no ringue do último debate eleitoral ao vivo pela TV Globo, que também apoiava "discretamente" o histriônico "Caçador de Marajás"nas eleições presidenciais de 1989....
Diz Angela Mendes, em declaração no estilo "morde e assopra": " Respeito Mariana pela sua rica trajetória de vida, enfrentando e vencendo todas as dificuldades impostas a ela como o analfabetismo, doenças e toda espécie de discriminação, até pelo modo com que consegue envolver a todos com o seu discurso ecologicamente correto e bem acabado. Mas penso que só isso não basta para governar um Brasil como o de hoje. Tenho dúvidas: Terá ela realmente liberdade para governar ? Não sei, como será esse mandato em rede, apenas com os melhores? Quem são esses melhores e quais critérios serão utilizados pra escolha desses “melhores”? Só faltou mesmo a inefável Angela repetir aquela dramática frase da atriz Regina Duarte na propaganda eleitoral ás vésperas da vitória de Lula, então também visto pelas "elites" como uma ameaça para o Brasil : "Tenho medo"....
O efeito desse tipo de "expediente" de baixo calibre parece de pouca valia para virar o jogo eleitoral no Brasil de hoje, que conhece Marina, mas não sabe nada da vida de Angela Mendes, por exemplo.
No desespero , alguns "companheiros aloprados" também voltaram a defender até o "Volta Lula"para deter a trajetória de Marina. Todavia, alguns próceres do PT encomendaram pesquisas qualitativas para consumo interno e ficaram chocados com os números que demonstram que o próprio Lula perderia para Marina num confronto direto em segundo turno. Logo, o próprio Lula já avisou que isso seria uma atitude "sonhática", desautorizando os inventores dessa última cartada. Lula, como Aécio, ainda tem esperanças de que a candidatura Marina possa sofrer algum processo de desidratação. Tarde demais, pois Marina surfa nas ondas de um movmento que virou sonho de mudança para milhões de brasileiros que se tornaram passageiros da esperança. Que pode vencer o medo. No estágio atual, quando mais baterem nela os "guerrilheiros virtuais" petistas e tucanos mais ela vai crescer, a exemplo da massa fermentada de fazer o pão.
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FRANCISCO SIDOU é jornalista
chicosidou@hotmail.com
Onde é o ícone de CURTIR?
ResponderExcluirAbraço.
Jorge alves.