sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Há virtudes no velho, como há vícios no novo
Discorde-se de Charles Alcântara, mas não se diga que ele não apresenta argumentos bastantes para serem confrontados com opiniões opostas.
Charles revelou-se como um dos petistas de maior qualificação que ajudaram Ana Júlia em seu governo, que ele integrou como chefe da Casa Civil.
Saiu - ou foi saído - do governo Ana Júlia, impôs-se um pequeno período sabático para reflexões, foi tratado pelo PT como inimigo e em seguida resolveu debandar do partido, por vê-lo inviável como força política capaz de aglutinar ideias e representar condignamente segmentos que sempre estiveram associados à legenda desde a sua fundação, nas assembleias operárias no Grande ABC.
Mais recentemente, Charles Alcântara embarcou de corpo e alma na construção da Rede, de Marina Silva. Até que veio o acidente que matou Eduardo Campos e a subida - avassaladora - da ex-ministro e ex-senadora nas pesquisas e sua confirmação como a candidata do PSB à Presidência da República.
E Charles?
Na última terça-feira, às 22h40, ele publicou em seu perfil no Facebook a postagem sob o título de "Há virtudes no velho, como há vícios no novo".
Esse é o dístico que resume sua decepção com a política Marina Silva e sua decisão de romper com a candidata ambientalista.
"Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada, apesar que querê-la bem; apesar de admirá-la; apesar de considerá-la uma pessoa de bem e de bons propósitos", diz Charles.
Leiam abaixo:
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Até o presente momento, desde que se tornou candidata presidencial, as declarações mais explícitas e compreensíveis de Marina Silva foram em direção aos mercados, em especial o financeiro. Os que vivem da especulação financeira e que faturam bilhões com a dívida pública brasileira estão eufóricos com as declarações de Marina,
Institucionalização da autonomia do Banco Central e obediência incondicional ao tripé macroeconômico neoliberal são os compromissos mais enfáticos que Marina oferece aos brasileiros para acabar com a velha política e para mudar o Brasil.
Imerso em minhas reflexões sobre a conjuntura político-eleitoral, decidi agora abandonar o recesso que me impus desde o meu afastamento da coordenação nacional da Rede, que se deu quando esta embarcou provisoriamente no PSB.
Também fui - e ainda estou - tocado pela ideia de que o exercício da política precisa ser radicalmente mais democrático e de que os partidos políticos, tal como funcionam, tomam suas decisões e disputam o poder, precisam reinventar-se porque se tornaram instituições anacrônicas e voltadas para si mesmas.
Somado a isso, fui atraído pelo magnetismo de um novo (chamemos assim) campo político sob a liderança de Marina Silva, a quem admiro e respeito por sua história e trajetória e também por atributos que andam em falta na seara política.
Levado pelo sopro inspirador de Marina e pela concordância quanto à saturação e inutilidade para o Brasil da polarização entre PT e PSDB, inclinei-me a apoiar Eduardo Campos - malgrado minhas críticas em relação à aliança PSB/Rede - quando veio o fatídico acontecimento que lhe ceifou a vida.
Até o presente momento, desde que se tornou candidata presidencial, as declarações mais explícitas e compreensíveis de Marina Silva foram em direção aos mercados, em especial o financeiro. Os que vivem da especulação financeira e que faturam bilhões com a dívida pública brasileira estão eufóricos com as declarações de Marina, reveladoras de uma crença quase religiosa nos fundamentos mais caros ao velho receituário neoliberal, fundamentos estes que colocam no centro das preocupações e da ação estatal os interesses do mercado e na periferia os interesses da sociedade brasileira, com o cínico argumento de que esses interesses são convergentes - e, mais ainda - que os interesses da sociedade tendem a ser satisfeitos se o mercado estiver satisfeito.
Institucionalização da autonomia do Banco Central e obediência incondicional ao tripé macroeconômico neoliberal são os compromissos mais enfáticos que Marina oferece aos brasileiros para acabar com a velha política e para mudar o Brasil.
Se não em nome de uma nova política (até porque se trata da velha solução neoliberal), mas ao menos em razão das virtudes próprias de sua formação religiosa, Marina tinha e tem o dever de dizer ao povo brasileiro as prováveis consequências de seu programa econômico.
Marina dá sinais de conversão ao fundamentalismo neoliberal como sinônimo de desenvolvimento, estabilidade econômica e inflação baixa, como se os índices inflacionários pudessem ser combatidos com a mera alta dos juros; como se a inflação no último período do governo de FHC - de fidelidade canina à sacrossanta fórmula neoliberal - não tenha sido ainda maior que a verificada nos dias atuais; como se o maior e mais indecente gasto público não fosse exatamente o pagamento de juros da dívida pública.
Pouco importa para os agentes de mercado os custos sociais do tal tripé macroeconômico: menos recursos públicos para as áreas sociais; arrocho salarial e ameaça de mais desemprego.
O tal tripé macroeconômico é uma boa maneira de manter os lucros do mercado financeiro de pé e o Brasil socialmente manco.
Não, Marina, não posso acompanhá-la nessa jornada, apesar que querê-la bem; apesar de admirá-la; apesar de considerá-la uma pessoa de bem e de bons propósitos.
Não posso acompanhá-la, porque o faria por mera crença nos seus bons propósitos e no seu carisma pessoal e porque isto é absolutamente insuficiente para considerá-la a melhor alternativa para o Brasil, principalmente depois do caminho que escolheste trilhar.
Não vou acompanhá-la porque considero uma fraude a pregação de que todos os interesses e todas as forças políticas podem ser conciliados sem conflitos e sem escolhas que desatendam e contrariem os que sempre se beneficiaram da desigualdade em favor dos que sempre foram as vítimas dessa mesma desigualdade.
Conheço pessoalmente Marina, com ela tive boas conversas e dela escutei muita generosidade e sabedoria.
Marina está crescendo nas pesquisas eleitorais e pode vir a comandar a República Federativa do Brasil; momento propício, portanto, para eu declarar a minha posição, que o faço baseado num conselho que escutei da própria Marina de que a boa (nova) política não se deve alicerçar no carisma pessoal.
Outra lição que aprendi com Marina é que muitas vezes é preferível perder ganhando a ganhar perdendo.
Resolvi, então, seguir os conselhos de Marina, não a apoiando nestas eleições, por convicção de que a sua candidatura não está oferecendo ao Brasil um caminho alternativo.
Votar por convicção, penso, é uma das coisas tradicionais da velha e boa política (sim, porque também há virtudes no velho e há vícios no novo) que eu não me disponho a abrir mão.
Charles Alcantara
Parabéns ao Charles, ele sabe o que diz. Marina é sinônimo de retrocesso na política nacional. Collor surgiu como o cassador de marajás e deu no que todos sabemos.
ResponderExcluirSalvo melhor juizo ele não sabe o que quer.
ResponderExcluirE vai votar em quem, Charles?
ResponderExcluirEle eu não sei, mas eu vou de Luciana Genro. Ela vai perder, claro, mas sem o vício do PSDB e PT, ainda.
ResponderExcluirMarina subiu de cotação por representar, neste momento, mudança.
ResponderExcluirMudança por desgaste, por estresse, de "tudo isso que está aí".
Ou seja, tucanato e cumpanherus.
Cansou, cansamos.
Se vai ser mais da mesmice e mediocridade, da corrupção sem limites, do poder pelo poder, só o tempo dirá.
Uma hora é vermelho, outra hora é azul, outra hora é verde. Afinal de que lado ele está.
ResponderExcluirPor força das circunstâncias vamos de Marina.
ResponderExcluirEm Dilma:
ResponderExcluirhttp://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Fundador-da-Rede-Sustentabilidade-declara-voto-em-Dilma%0aFundador-da-Rede-Sustentabilidade-declara-voto-em-Dilma/4/31748
Meus aplausos, novamente, ao Charles. Segue com suas posições firmes e coerentes.
Ou seja, não irá votar em Marina pelas qualidades que ela adquiriu......
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