Quem perde a credibilidade por precipitação ou
porque quer se utilizar de “sabedoria”, começa a perder o bonde da História.
Quanta “gente boa” com suspeita de envolvimento em falcatruas. Por esse ângulo,
se não fosse por falta de chuvas (no sudeste, principalmente), toda essa
história continuaria submersa. Às vezes, a gente quer dar passagem e nos
tornamos mais sensitivos. Essa turma acostumada com maracutaia não tem a
democracia e a liberdade como um valor fundamental que deve ser preservado e
difundido a qualquer custo. Antes de “democratas esclarecidos”, estão mais para
“fascistas recauchutados”. Alguém duvida?
Os pormenores da eleição deste ano são de fato
estranhas, a mais parada desde o fim da ditadura. Na verdade, há uma
insatisfação generalizada no País. As manifestações (algumas nefastas) foram um
fenômeno viral. Há, com certeza, o despertar de uma nova consciência política
principalmente entre os mais jovens. Caminhamos um bom pedaço e a eleição de
outubro está a apenas quatro meses. Como a Copa do Mundo vai durar 60 dias (o
período de realização somada a uma quinzena antes e outra depois), chegaremos a
ela antes de nos darmos conta. As últimas pesquisas têm mostrado que a
presidente Dilma Rousseff já não tem aquela margem generosa que a separava dos
outros candidatos oponentes. A presidente busca a reeleição e seu trabalho é
escrutinado diariamente pelo eleitorado, que deve decidir se ela merece ou não
permanecer no cargo.
Além da insatisfação, o mau humor do brasileiro
piora alimentado por causas evidentes e pelo acirramento da disputa eleitoral.
Quando a presidente vai a alguma inauguração e circula entre políticos,
cartolas e operários, do lado de fora, como sempre, os protestos são
inevitáveis. Lula recomenda à sucessora: “Fale mais”. A força do pessimismo
viceja quanto ao futuro dos cidadãos, parte provida por más escolhas no âmbito
administrativo do governo, parte pelas mudanças impostas pelos efeitos da crise
mundial. Para citar algumas: O crescimento anual caiu pela metade em relação ao
período de Lula; a inflação, na casa de mais de 6%, atingiu um patamar
desconfortável; o encarecimento da vida das grandes cidades e a péssima
qualidade dos serviços públicos aumentaram o descontentamento com a classe
política e levaram à explosão das manifestações em junho do ano passado. O
poder público foi inábil em produzir respostas à altura.
Na Copa das tropas e das empreiteiras. São
fatos. Inegáveis. Nesse mesmo canteiro das insatisfações brota, porém, um tipo
de pessimismo interessado, cínico até, segundo a situação, alimentada pelos
boatos e pela tática eleitoral e econômica do “quanto pior, melhor”. Nesse
tempo real, tem ficado mais difícil definir os limites entre os dois: fatos e
boatos. Robustecidos por uma nova piora dos índices de confiança no governo e
nas intenções de voto da presidente, a oposição partidária, o mercado financeiro
e boa parte da mídia inflam o mau humor.
A gente lembra que antes das manifestações de
junho de 2013 parecia que tudo ia muito bem, que nada havia de errado e que
tudo corria às mil maravilhas; de repente tudo muda e estamos às vésperas dos
últimos dias de Pompéia. Nessa avalanche de escândalos de corrupção por todos
os lados, têm tirado o sono do governo. O baixo desempenho do governo deixa a
população insegura: estão insatisfeitos com a situação de insegurança pública,
repudiam os serviços de saúde, acham a educação ruim, desaprovam os sistemas de
transportes, estão contra as preparações para a Copa do Mundo, revoltam-se com
a pobreza, estão em desacordo com a situação da economia.
Interessante à questão dos limites do humor. Não
me surpreende saber que o humor foi censurado, ou usado pelo próprio governo
para transmitir um discurso político, pois nada é mais persuasivo do que o
humor inteligente. Como toda forma de expressão, sempre carrega um discurso e
cabe a nós interpretá-lo.
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SERGIO BARRA é médico e professor
"As pessoas estão contra as preparações para a copa do mundo" ? Contra as obras em aeroportos ? contra as obras em sistemas viários ? Contra a reforma das rodoviárias ? Contra os empregos gerados em rede hoteleira, bares, restaurantes , na construção civil, no comércio informal ? Contra a renda decorrente da venda de produtos vinculados à copa ? Contra os milhares de turistas que já chegaram e chegarão dispostos a gastar no país ? Nada pior que jogar fora a criança junto coma água do banho, critique-se sim erros e má fé em obras nos estádios, mas é impossível fechar os olhos aos efeitos benéficos de um evento deste porte. Foi correta a decisão de trazer a copa para Brasil, apesar da minoria do quanto pior melhor, que torceu pelo caos inexistente nos aeroportos, pelo racionamento de energia que não haverá. Vai ter copa sim e da boa.
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