segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Que tal um rolezinho contra essas lojas burguesas? Vamos?


Olhem só.
Esse folheto aí em cima foi distribuído no último sábado à tarde, na entrada do Shopping Boulevard, por ocasião do rolezinho que reuniu apenas 50 pessoas, das 950 que haviam confirmado presença na manifestação.
É assinado por militantes da Anel (Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre), Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe e pela CSP Conlutas (Central Sindical e Popular). Cliquem na imagem para ler melhor.
Vejamos alguns trechos abaixo. Os que estão em vermelho são aqueles que expressos no folheto. Os que estão em azul são comentários do Espaço Aberto.

Os rolezinhos iniciaram (sic) como um encontro de jovens da periferia nos shoppings das cidades para se conhecerem, conversarem, beijarem etc.
Pois é. Os rolezinhos não são de hoje. Não se iniciaram há dez dias. Nem há 20. Iniciaram-se há bastante tempo. Em Belém, inclusive. E quando é que alguém tomou conhecimento da expulsão de jovens da periferia dos shoppings de bacanas? Quando? Nunca, ao que se se sabe. Até que os rolezinhos se transformaram em ajuntamentos, em turbas invadido um espaço público - mas de natureza privada - gritando, berrando e disseminando o pânico entre os frequentadores. Aí a coisa mudou de figura, né? Mudou completamente. E tinha que mudar mesmo. Porque há rolezinhos e rolezinhos.

E quando esses encontros tomaram uma dimensão gigantesca, reunindo mais de 5.000 pessoas, o que vimos foi um show de truculência por parte da PM paulistana, a qual utilizou-se dos seus métodos mais violentos para dispersar a multidão.
Olhem, puliças são truculentas mesmo. É fato. Mas há um outro fato: não se admite 5 mil pessoas (é um exagero dos companheiros, é um grande exagero, mas vá lá que tenham sido 5 mil) entrando num local privado - privado, repita-se, particular, muito embora o espaço seja para o público -, gritando, correndo, berrando e criando pânico entre todo mundo, não se admite, portanto, que isso ocorra sem que se anteponham forças para conter esses divertidos rolezeiros, não é? Meus caros, se cinco, apenas cinco, riquinhos, filhinhos de papai fizessem a mesma coisa, a segurança de qualquer shopping precisaria agir para contê-los, não acham? Vocês imaginem, então, 5 mil (é um exagero, repita-se, não houve nenhum rolezinho com 5 mil pessoas até agora). A puliça - truculenta, é certo - deveria ficar parada? Que tal um parente - de preferência criança ou idoso - de um dos companheiros da Anel, da Conlutas e do Movimento Nacional Quilombola Raça e Classe posto diante de 5 mil jovens correndo por dentro de um shopping? Eles, os companheiros, gostariam seus parentes idoso e crianças aos riscos que essa conduta inadequada ofereceria?

É importante ficar claro que nenhum roubo ou depredação foi verificado, como ressaltou a própria nota do shopping.
Qual é o shopping a que se refere a nota? São todos os shoppings? É um shopping só? Se é, qua terá sido? Porque olhem aqui, meus caros: Polícia registra furtos e depredação em rolezinho de Itaquera. Constatem vocês mesmos. Cliquem no link e leiam vocês mesmos. Há rolezinhos e rolezinhos, não é? E tem mais: as condutas inadequadas não se resumem a furtos e depredações, não. Se nos espaços públicos uma pessoa se conduz de forma a restringir ou a criar constrangimentos aos demais, não se admite que continuem com essa conduta. É o caso de quem invade shoppings, em turbas. Lembram-se do caso do professor que entrou num cinema do Shopping Boulevard usando um cinto de balas? Lembram-se? Pois é. Lembrem-se daquele bafafá e confirmem que condutas inadequadas não se resumem a furtos e depredações.

Por que isso? Porque, para a burguesia brasileira, os shoppings foram construídos para manter a juventude pobre do lado de fora.
Hehehe. Esse é o trecho mais divertido do panfleto. Sem brincadeira que é. Por quê? Porque olhem a postagem acima, que tem como título "82% dos paulistanos são contra rolezinho, diz pesquisa Datafolha". Leiam lá: "Moradores da zona leste, o maior bolsão de exclusão social da cidade? Apenas 8% de aprovação, a menor de todas. Jovens? Só 18% dos que têm até 24 anos se declaram favoráveis aos 'rolezinhos'". Se os shoppings fossem mesmo centros de consumo cativos da burguesia, os rolezinhos não teriam ampla aceitação entre moradores de bolsões de exclusão, como a zona leste paulistana? Mais: passa pela cabeça de alguém que seja razoável a tese de que um lojista - burguês ou pequeno-burguês - faça a distinção entre dinheiro de pobre ou rico, de negro, branco ou quilombola, de homossexual ou de heterossexual? Sem brincadeira, vocês acham essa tese minimamente razoável? Um jovem pobre, que com sacrifício obteve R$ 200 para comprar um tênis numa loja qualquer do Shopping Boulevard Belém, vocês acham que ele, ao chegar à loja, a atendente vai pedir-lhe uma espécie de comprovante de renda ou um atestado de pobreza antes de vender o sapato? Ou vai, mais do que depressa, pegar o sapato, entregar ao consumidor e pôr o dinheiro no caixa, sem querer saber se o comprador é pobre, rico, negro, branco, remista ou bicolor? O que vocês acham? Desculpem aí, mas essa tese de que jovens pobres não são bem-vindos a centros de consumo é de uma imbecilidade atroz. Imbecilidade das mais brabas. Sem brincadeira. E com todo o respeito aos companheiros.

Estamos assistindo a uma demonstração inquestionável, não somente de racismo e preconceito, mas de segregação e apartheid social na medida em que o Estado passa a cumprir o papel de elemento discricionário e aparato de repressão.
Hehehe. Menos, companheiros. Menos. Esse é outro trecho bacana. Muitíssimo bacana. Inspirador, até. O poster lembrou-se que há pouco mais de um mês, em dezembro passado, estava dando um rolezinho - a dois - pelo Shopping Boulevard, à procura de presentes de Natal para pessoas queridas. E passou pela frente das vitrines da H.Stern. De olho nas vitrines, viu coisas como um HS ID White Flying com segundo fuso horário e 11 diamantes no mostrador. Preço: R$ 2.490,00. Sentindo-se vítima de segregação, racismo, preconceito e apartheid social, o poster nem entrou. E foi em frente, à procura de presentinhos menos, digamos assim, hsternizados. Mas sabem de uma coisa? Com esse rolezinho de sábado, o poster acha que começará a convocar, pelos Faces da vida, um protesto contra essa discriminação, esse preconceito, esse apartheid social, essa fúria burguesa de lojas como a HStern. Todos estão convidados de antemão. Qualquer dia, a gente marca um rolezinho contra essas lojas que vendem seus badulaques acima de faixas financeiras acima do razoável. Vamos lá? Putz! Hehehe. Falem sério, meus caros. Falem sério!

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