segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
"Mas que porra é essa?" Nada. É apenas um rolezinho.
"Mas que porra é essa"? - pergunta um jovem, 18 anos aparentes, ao chegar a um grupo de quatro ou cinco amigos que já estavam reunidos bem ao sopé, digamos assim, da escada rolante que leva à Praça da Alimentação do Shopping Boulevard, na avenida Visconde de Souza Franco, a Doca.
À pergunta do jovem, os circunstantes, seus amigos, tiveram reações que foram do riso àquele meneio de cabeça, para um lado e para outro, típico de quem, se deparando com alguma situação ridícula, risível, inacreditavelmente desconectada do bom senso, perde a capacidade de falar, mas não perde a capacidade de se expressar.
"Mas que porra é essa"? era a expressão, entre assustada e divertida, de um jovem que, como os demais presentes ao Shopping Boulevard, na tarde de sábado, parecia não acreditar no que estava vendo.
Neste sábado à tarde, os frequentadores do Shopping Boulevard - brancos, negros, amarelos, pardos, rosados, altos, baixos, pobres, ricos, remediados, homossexuais, heterossexuais, bissexuais, remistas e bicolores - pareciam não acreditar que estavam vendo e ouvindo.
Estavam vendo o que se dizia ser um rolezinho à paraense, um rolezinho ao tucupi, um rolezinho convocado pelas redes sociais, um rolezinho que teve, até o final da manhã deste sábado, 950 confirmações. Novecentas e cinquenta, sem tirar nem pôr. Mas apareceram 50 - ou 60, com muito boa vontade - na contagem vis-à-vis, cara a cara, olhos nos olhos, uma contagem que todos os que estivemos no shopping pudemos fazer e que você poderá ver nas fotos abaixo e nas imagens como as do vídeo acima, colhidas pelo Espaço Aberto.
Estavam ouvindo, todos os frequentadores do shopping, palavras de ordem, chavões, lugares-comuns, frases feitas. Ouviam-se aqueles discursos - enfadonhos, repetitivos, marcados por refrões treinados por militantes das boas causas, sobretudo das politicamente corretas.
A militância-rolé. Ou o rolé de militantes.
Ouviam-se discursos no tom e estilo assembleísta-militante, em que uma pessoa, como se fosse um speaker, vai soltando frases curtas, diretas e contundentes, enquanto os demais militantes, ao seu redor, vão repetindo exatamente a mesma coisa. A mesmíssima coisa.
Ouviam-se palavras de ordem tipo assim: O rolezinho é meu e de você / a juventude pobre tem direito ao lazer. Ou assim: Da Copa, da Copa eu abro mão / Eu quero é mais dinheiro pra saúde e educação.
Ouviam-se discursos assim, puxados pelo speaker e repetidos com efusão crescente pelos 50 militantes-rolezeiros entretidos num momento, digamos assim, de militância extremada em favor de causas politicamente corretas e edificantes.
"Nós queremos mostrar", bradava o speaker, nós queremos mostrar, repetiam os militantes-rolezeiros, "que os governantes deste país" (que os governantes deste país) /precisam construir (precisam construir / mais espaços de lazer (mais espaços de lazer) / para a juventude pobre deste país (para a juventude pobre deste país)". Punhos fechados, braços erguidos.
"Tem que fazer [rolezinho] todos os dias e todos os sábados", discursou uma speaker. Tem que fazer [rolezinho] todos os dias e todos os sábados, reforçaram os manifestantes. "E mostrar pra sociedade / Que aqui não tem bandido / Que aqui não tem nenhum desordeiro / Mas aquele jovem / que está querendo mudar a sociedade / Que está querendo mostrar / Que tem que ter mais espaço para o rolezinho / e menos preconceito / e menos repressão". Vejam aí num dos trechos do vídeo que está acima.
Uma outra militante, ela também uma speaker, passou a discursar: "Nós exigimos respeito aos LGBTs", e os militantes rolezeiros repetindo: Nós exigimos respeito aos LGBTs.
Rolezinho mesmo? Ou o quê?
Rolezinho ou militância extremada em favor de causas politicamente corretas e edificantes?
Rolezinho, daquele bem maneiro, ou um momento palanquista de militantes com discursos afiados para protestar até contra as descompensações raciais e os estigmas preconceituosos correntes em outros planetas?
Rolezinho, daquele genuíno, em que galeras da paz se reúnem naturalmente em qualquer lugar para namorar, ficar, fofocar, rever os amigos e pôr os papos em dia, ou um momento em que militantes profissionais, com palavras de ordem à flor da língua, empreendiam uma cruzada sabe-se lá contra ou a favor do quê?
Ninguém sabia ao certo, afinal de contas, do que se tratava aquilo. Imaginava-se que era o rolezinho convocado pela Facebok e que teve 950 confirmações, mas apenas 50 presenças.
Mas as expressões dos circunstantes, centenas deles, presentes à Praça da Alimentação do shopping e expostos a um cenário em que militantes em favor de causas politicamente corretas e edificantes entoavam seus refrões em tom e estilo assembleísta, as expressões dos circunstantes, portanto, indicavam que a maioria, senão todos, perguntava-se intimamente aquilo que o jovem se permitiu verberar com todas as letras, sem vírgulas pelo meio, sem rodeios, diretamente:
"Mas que porra é essa"?
As expressões dos circunstantes, centenas deles, presentes à Praça da Alimentação, indicavam reações que foram do riso àquele meneio de cabeça, para um lado e para outro, típico de quem, se deparando com alguma situação ridícula, risível, inacreditavelmente desconectada do bom senso, perde a capacidade de falar, mas não perde a capacidade de se expressar.
Centros de consumos distinguem dinheiro de rico e de pobre?
Sim, porque como já se disse aqui, em postagem anterior, os rolezinhos de São Paulo e Rio, que deram origem ao rolezinho de militantes de Belém, nada têm a ver uns com o outro, e o outro com aqueles.
No Rio e São Paulo, vimos jovens não-militantes entrando em shoppings todos juntos, às centenas, correndo, gritando, berrando e deixando todo mundo à beira do pânico. Idosos e crianças, inclusive - pobre e ricos, ricos e pobres.
Em Belém, vimos 50 militantes profissionais, organizadamente, entoando palavras de ordem, chavões e lugares-comuns, discursando em favor de jovens pobres sem espaços para o lazer, de LGBTs, de quilombolas e quejandos.
Alguém aí acredita que comerciantes, que lojistas, estejam eles no bairro de Batista Campos, de Nazaré ou das periferias de Belém, façam diferença entre dinheiro de pobre e de rico, dinheiro de negros e brancos, de homossexuais e heterossexuais, de remistas e bicolores que entra em seus caixas?
Alguém aí, em são consciência, acha que comerciantes, que lojistas não gostariam de ver suas lojas, estejam elas em shoppings ou não, nos bairros nobres ou nas periferias, entupidas de consumidores, sejam pobres ou ricos, negros ou brancos, homossexuais ou heterossexuais, remistas e bicolores?
Bem-vindo os rolés, meus caros.
Bem-vindos os rolés, rolezinhos e rolezões, ou rolão, como diria o jornalista Elio Gaspari.
Bem- vindos, jovens e vovôs, pobres e ricos, negros, brancos, pardos, amarelos, heterossexuais e LGBTs, remistas e bicolores, bem-vindos todos a esses espaços do consumo.
Mas que venham sem espantar, né?
Que venham sem arrupiar?
Porque rolezinhos do estilo desses que forçaram comerciantes a fechar suas lojas, como os do Rio e São Paulo, podem ser de negros, brancos, homos, heteros, negros ou ricos, mas não se recomendam. Verdadeiramente não se recomendam, porque mais se parecem com turbas que se movimentam em espaço público - ainda que privado - apenas com o propósito de assustar, de chamar a atenção e, se aparecer uma oportunidade, de agredir.
E simples assim.
Parece até que não.
Mas é.
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Ai, ai...até camiseta da une no rolezinho.
ResponderExcluirSaudades da Une que se reunia para coisas bem mais sérias: contestar os anos de chumbo.
Hoje, anestesiados por muito$ motivo$, servem de claque lulista aceitando bovinamente Sarney, Maluf, Renan, Barbalho.
Coragem? só pra rolezinho em shoppings mesmo.
Mas tudo $ocialista.
Já não se faz mais universitários como antes.